Camadas e mais camadas de tinta se somaram sobre a superf�cie externa da antiga sinagoga Beth-El ao longo de nove d�cadas. De modo quase arqueol�gico, foram removidas aos poucos por uma equipe de restauradores h� quase dois anos.
O procedimento revelou a cor original (branco em vez de bege). E mais do que isso: confirmou uma antiga suspeita, de que as c�pulas s�o de cer�mica branca, com listras azuis na margem. Isto �, quando visto de cima, o templo parece usar um grande solid�u.
As descobertas s�o consequ�ncia do restauro e da amplia��o da sinagoga, que reabrir� no primeiro semestre de 2020 como Museu Judaico de S�o Paulo na Rua Major Quedinho, na Bela Vista, regi�o central.
Iniciadas em 2011, as obras foram conclu�das neste m�s, restando o trabalho de desenvolvimento da expografia e de elabora��o do design da biblioteca, do caf� e da lojinha. O custo total � de cerca de R$ 30 milh�es, de acordo com a institui��o.
A proposta do espa�o � apresentar os costumes, a cultura, a religi�o e a hist�ria de judeus no Brasil para o p�blico em geral. "� para gerar empatia, conectar hist�rias, trabalhar preconceitos e estere�tipos. Queremos transmitir um pouco da ess�ncia da cultura judaica", explica a diretora executiva do museu, Roberta Sundfeld.
As mostras ir�o expor pe�as de um acervo de mais de 2,5 mil objetos e documentos hist�ricos, al�m do mobili�rio da sinagoga, misturados a dispositivos digitais. No altar, por exemplo, no espa�o em que geralmente fica a tor�, ser� disposta uma mesa interativa com o conte�do do livro.
Dentre os itens raros do acervo, est�o contratos de casamentos de judeus na Amaz�nia, mapas de uma col�nia estabelecida no Rio Grande do Sul em 1904 e um cartaz antissemita alem�o, do per�odo nazista. "A ideia � mostrar a presen�a do imigrante judeu no Brasil", comenta a diretora.
A maior mudan�a j� � vis�vel da rua: uma das laterais do pr�dio foi ampliada at� a Avenida Nove Julho, em um terreno cedido pela Prefeitura de S�o Paulo. De vidro e curva, ela permite observar grande parte da via por aqueles que est�o do lado de dentro.
Ao todo, o museu contempla quatro pavimentos para exposi��es do acervo e tempor�rias, com parcerias internacionais. Outra etapa do projeto prev�, ainda, a cria��o de uma liga��o do museu com um pr�dio vizinho, cujo audit�rio ser� utilizado pelo museu.
O projeto de restauro e amplia��o � da Botti Rubin Arquitetos. Segundo Simoni Waldman Saigon, coautora do projeto, o im�vel estava em "razo�vel estado de conserva��o". Imagens de 2010 mostram a fachada com falhas no revestimento e parcialmente coberta por uma marquise m�vel disposta na entrada.
"Era mais uma conserva��o de leigo, foram pintando, impermeabilizando em cima, que s�o interven��es n�o condizentes com um bem cultural tombado e que tiveram de ser ajustadas para chegar a uma interven��o baseada em um projeto de restauro."
Hist�ria
O projeto original da sinagoga � de 1928, do arquiteto russo Samuel Roder, ligado � Companhia City e autor do projeto do edif�cio Tup� - ic�nico residencial art d�co da Santa Cec�lia, no centro. Ele � inspirado no estilo bizantino (da idade m�dia), pouco comum em S�o Paulo e conhecido especialmente pela Bas�lica de Santa Sofia, de Istambul.
O espa�o � tombado na esfera municipal desde 2013, quando o projeto de transforma��o em um museu j� estava em andamento e a congrega��o Beth-El j� havia se mudado para os Jardins. A resolu��o de tombamento classifica o espa�o como a "primeira grande sinagoga fora do Bom Retiro", bairro historicamente ligado � imigra��o judaica.
A arquiteta Myriam Szwarcbart explica que n�o existe uma arquitetura predominante para sinagogas e que, especialmente as mais antigas, tinham forte influ�ncia dos costumes e est�tica do pa�s natal dos frequentadores. Na parte interna, contudo, h� varia��es ligadas aos diferentes grupos judaicos. A antiga sinagoga do Beth-El tinha, por exemplo, uma configura��o em que os homens ficavam perto do altar, enquanto as mulheres permaneciam no mezanino.
"�s vezes, se instala a sinagoga em uma casa adaptada. No Itaim (Bibi), no Alto de Pinheiros, com arquitetura super moderna. A arquitetura se adapta ao ambiente em que est�", explica Myriam. Ela est� preparando o livro "Guia das sinagogas de S�o Paulo - Arte e Arquitetura" para ser lan�ado no pr�ximo ano, com a hist�ria dos cerca de 70 templos judaicos que j� existiram em S�o Paulo e na regi�o metropolitana.
Centros culturais e museus judaicos para conhecer em SP:
Memorial da Imigra��o Judaica
Hor�rio: segunda a quinta-feira, das 9h �s 17h, sexta-feira, das 9h �s 15h, e domingo mediante agendamento
Endere�o: Rua da Gra�a, 160 - Bom Retiro
Mais informa��es: memorialdoholocausto.org.br
Entrada gratuita
Memorial do Holocausto
Hor�rio: segunda a quinta-feira, das 9h �s 17h, sexta-feira, das 9h �s 15h, e domingo mediante agendamento
Endere�o: Rua da Gra�a, 160 - Bom Retiro
Visita mediante agendamento no agenda.memorialdoholocausto.org.br
Entrada gratuita
Centro de Mem�ria do Museu Judaico
Exposi��es, cursos e palestras
Hor�rio: segunda a sexta-feira, das 9h �s 18h
Endere�o: Rua Estela Sezefreda, 76 - Pinheiros
Mais informa��es: facebook.com/museujudaicosp
Unibes Cultural
Exposi��es, oficinas e eventos culturais
Hor�rio: ter�a-feira a domingo, as 10h �s 19h
Endere�o: Rua Oscar Freire, 2.500 - Pinheiros
Mais informa��es: facebook.com/UnibesCultural/
Casa do Povo
Exposi��es, oficinas e eventos culturais
Hor�rio: ter�a-feira a s�bado, das 14h �s 19h
Endere�o: Rua Tr�s Rios, 252 - Bom Retiro
Mais informa��es: casadopovo.org.br
GERAL