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Estado de Minas GERAL

Pouco invasiva, t�cnica brasileira inova ao usar 'pr�tese bovina' para cora��o


postado em 15/09/2019 15:00

Quando o lend�rio cirurgi�o sul-africano Christiaan Barnard gritou em afric�ner: "Dit gaan werk!" (ele vai funcionar!) no dia 3 de dezembro de 1967, ao terminar na Cidade do Cabo o famoso transplante que mudou a hist�ria da Medicina, ningu�m imaginava que meio s�culo depois o m�dico brasileiro Diego Gaia, de 41 anos, da Escola Paulista de Medicina (Unifesp), seguiria na viagem cient�fica cora��o adentro com um cateter levando uma v�lvula card�aca de tecido bovino acoplada a um stent para instalar, pela primeira vez em humanos, uma pr�tese especial na aorta.

Apresentada em um congresso em Paris em maio, a t�cnica foi selecionada entre os oito melhores, em um universo de mais de 1,4 mil trabalhos. Tamb�m foi premiada como "Melhor Caso do Ano - 2019" em um congresso internacional sobre v�lvulas que ocorrer� em novembro deste ano.

"At� pouco tempo, a substitui��o da v�lvula do cora��o e da aorta ascendente, que sai do cora��o, nos obrigava a abrir o peito do paciente, parar o cora��o e coloc�-lo na m�quina cora��o-pulm�o para podermos realizar a substitui��o, com risco grande para o paciente e longa recupera��o", diz Gaia em entrevista ao Estado, em S�o Paulo.

A Medicina j� permitia o tratamento s� da v�lvula ou s� da aorta de maneira endovascular, por cateterismo, sem a necessidade de abertura do peito do paciente, que dificulta a recupera��o. A inova��o foi "juntar as duas tecnologias e criar uma pr�tese �nica para substituir a cirurgia convencional, chamada de Bentall", explica Gaia.

"Por ela ser feita de maneira endovascular, passamos a chamar de Endobentall", diz ele. O implante desse avan�o cient�fico, sob protocolo experimental, ocorreu em um hospital de Assun��o, no Paraguai, onde mora Sebastiana Mendieta de Colm�n, de 65 anos, paciente que j� havia passado por outras sete cirurgias card�acas. Planejada por uma equipe durante pelo menos seis meses, a opera��o feita por Gaia durou 6h30.

O trabalho do m�dico dentro do cora��o consumiu quatro horas. O cateter entrou por uma abertura de 5 cent�metros ao lado do peito da doente, levando a nova engenhoca card�aca, de tecido peric�rdio de boi e metal nitinol (liga de n�quel e tit�nio), compactada em laborat�rio. O acesso foi na ponta do cora��o (�pice) e seguiu atrav�s do ventr�culo esquerdo at� o local da calcifica��o da aorta a ser corrigido. L�, monitorada por aparelhos, a pr�tese foi liberada, expandiu-se e voltou � forma original, com o aux�lio de um bal�o, normalizando o fluxo do sangue. "N�s n�o t�nhamos segunda chance", comenta.

De acordo com o cardiologista Enio Buffolo, tamb�m professor da Unifesp, a t�cnica usada por Diego Gaia � original. Ele afirma que a iniciativa ainda n�o pode substituir tratamentos nem deve ter uso imediato na popula��o, mas destaca que � um avan�o importante para a medicina card�aca e j� foi reconhecida na comunidade em f�runs mundiais.

"Essa pr�tese especial foi desenvolvida para a paciente sob prescri��o dos m�dicos", afirma o engenheiro Rafael Braile, diretor da Braile Biom�dica, de S�o Jos� do Rio Preto, interior de S�o Paulo, que produz v�lvulas card�acas, stents e outros equipamentos h� 40 anos. A solu��o para esse caso foi desenvolvida em parceria com Gaia. A cirurgia foi "pelo modelo compassivo", ou seja, uma doa��o, conta o cirurgi�o.

De Assun��o, pelo telefone, dona Sebastiana conta que, nove meses depois da cirurgia, est� bem de sa�de. "Sem restri��es de alimenta��o, a n�o ser as da hipertens�o e de diabete", explica ao Estado. "Mas nenhuma restri��o sobre a cirurgia da pr�tese", diz a funcion�ria p�blica.

Sebastiana n�o se cansa de agradecer aos m�dicos. Lembra que j� havia passado por outras cirurgias, duas delas com peito aberto. Diz ainda que, depois dessa vez, teve alta da UTI em tr�s dias. Explica tamb�m que faz caminhadas, tem vida normal, mas toma rem�dios contra tromboses.

Alto risco

Segundo Gaia, a nova t�cnica, indicada para pacientes de alto risco, pode beneficiar milhares de pessoas com complica��es card�acas. "Os dados dos Estados Unidos (2006-2011) mostram cerca de 30 mil casos e �ndices de mortalidade de 11,7%." Com mais de mil cirurgias desde 2007, o professor explica que o avan�o vai al�m das trocas de v�lvulas da aorta com mau funcionamento, como a aorta de porcelana (alta calcifica��o) - caso de Sebastiana.

Essa delicada ousadia cient�fica no interior do cora��o permite que um novo tipo de cirurgia prolongue uma vida usando v�lvulas transcateter e stents, como em um jogo de videogame. Hoje, pr�teses podem durar at� 20 anos. Para al�m disso, � poss�vel executar corre��es "valve-in-valve" - uma v�lvula dentro de outra j� instalada - tamb�m sem necessidade de abertura do peito.

Avan�o

Para o m�dico Domingo Braile, de 81 anos, criador da empresa produtora da pr�tese Endobentall, o sucesso da t�cnica mostra que o momento � de forma��o de novos profissionais e a Medicina avan�ou bastante no tratamento de pacientes de alto risco card�aco.

Braile conta que a empresa foi criada em 1977. Ele foi aluno do lend�rio Euryclides Zerbini (1912-1993), que menos de um ano depois do feito hist�rico de Barnard (1922-2001) realizou em S�o Paulo o transplante de cora��o brasileiro. Foi exatamente a ci�ncia aplicada por Zerbini em maio de 1968 que terminou por levar o governo paulista a investir no centro m�dico, refer�ncia mundial.

"Zerbini falava que, se n�o f�ssemos capazes de fazer insumos, jamais ter�amos cirurgia card�aca no Pa�s", lembra Braile. "Hoje, o Brasil � o segundo pa�s em cirurgia card�aca, atr�s s� dos Estados Unidos e sem dinheiro." O transplante de cora��o continua sendo necess�rio para casos de insufici�ncia card�aca, diz ele, pois "32% das mortes s�o por doen�as cardiovasculares". As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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