'Inspiradora': parentes e amigos falam sobre bombeira que morreu atingida por �rvore
Marizelli Dias teve fraturas e traumatismo craniano depois de ser atingida por uma �rvore e por cabos de energia que se romperam em decorr�ncia de inc�ndio na QNL 02, em Taguatinga. Militar tentava apagar o fogo no cerrado, quando ocorreu o acidente
postado em 16/09/2019 12:27 / atualizado em 16/09/2019 12:48
Sempre disposta a ajudar os amigos, familiares e colegas, se desdobrava para dar o melhor na profiss�o e aos dois filhos pequenos (foto: Reprodu��o da internet/Instagram)
A despedida da soldado ser� nesta segunda-feira no 2º Grupamento de Bombeiro Militar, em Taguatinga. O corpo ser� velado �s 14h e, �s 17h30, ser� sepultado no Cemit�rio Campo da Esperan�a na mesma cidade.
Na avalia��o da equipe m�dica, a soldado morreu em decorr�ncia das fraturas e de uma poss�vel descarga el�trica que sofreu, j� que ficou em contato com os cabos de energia que romperam e ca�ram com a �rvore. Os bombeiros precisaram esperar a resposta da Companhia Energ�tica de Bras�lia (CEB) para confirmar a inexist�ncia de corrente el�trica e conseguir fazer o resgate com seguran�a.
A militar sofreu fraturas nas costelas, bra�o e perna, traumatismo craniano e teve pelo menos cinco paradas cardiorrespirat�rias. Ela foi entubada, passou por uma drenagem pulmonar e estava em coma induzido.
Do lado de fora da unidade, colegas da corpora��o fizeram uma grande roda de ora��o em homenagem � combatente. A fam�lia recebia apoio e carinho de amigos e de colegas de corpora��o. “Ela � uma pessoa muito alegre e muito querida”, desabafou o ex-marido, Raimundo Mendes Alves, de 50 anos, que tem dois filhos com ela, Raniele, de 4 anos; e Erick, de 5.
“Esse � um risco da profiss�o e a gente sabe. Ser bombeira era o amor dela. Mesmo gr�vida, ela estudou, se esfor�ou e conseguiu”, contou Raimundo. Comovido, ele se lembrou de uma mensagem recente da ex-mulher. “Ela me disse que estava com medo. N�o com medo do servi�o, mas de n�o dar conta de tudo sozinha”, revelou.
“Ela estava em combate pela corpora��o e ser� homenageada com todas as honrarias poss�veis. Era uma irm� para todos n�s”, informou o Centro de Comunica��o Social do CBMDF.
Alegria e dedica��o
Por onde passava, Zelli, como era conhecida a bombeira, deixava um sorriso. Sempre disposta a ajudar os amigos, familiares e colegas, se desdobrava para dar o melhor na profiss�o e aos dois filhos pequenos. “Era uma menina inspiradora, sempre animada. Uma dedica��o incr�vel ao trabalho. Guardo uma frase que ela disse recentemente a um colega: ‘o amor prevalece’. Ela era uma guerreira que tinha amor pela farda e pela vida. � muito dif�cil”, homenageou o chefe direto da bombeira, o sargento Ad�lio Martins.
Marizelli pretendia iniciar um curso para trabalhar com mergulho pela corpora��o. Mulher de talentos e f�, usava o dom que tinha para m�sica e tocava viol�o no coral de igrejas em Vicente Pires e em Samambaia. Um dos projetos da soldado era tocar na capela do Corpo de Bombeiros.
Pelo Twitter, o governador Ibaneis Rocha se manifestou: “Que tristeza para o Distrito Federal perder uma de suas combatentes do Corpo de Bombeiros, que dedicava sua vida a salvar outras. Toda minha solidariedade � fam�lia da soldado Marzielli, que Deus conforte seus cora��es. O GDF est� de luto”.
(foto: Reprodu��o da internet/Facebook)
O secret�rio de Seguran�a P�blica do DF, Anderson Torres, tamb�m prestou condol�ncias pela morte da militar. “Meus sinceros sentimentos � fam�lia de Marizelli Armelinda Dias, guerreira do CBMDF que faleceu neste domingo em decorr�ncia de um acidente no exerc�cio de sua profiss�o. Ela foi atingida por fio de alta-tens�o. A Seguran�a P�blica perde muito com sua partida precoce”.
A CEB tamb�m emitiu uma nota de pesar: “A equipe t�cnica foi acionada e atuou imediatamente para dar o apoio que se fizesse necess�rio ao socorro � v�tima. A CEB manifesta sua palavra de pesar e conforto � fam�lia de Marizelli Armelinda Dias e seus amigos, e se associa � dor de todos os integrantes do Corpo de Bombeiros Militar do DF”.
O presidente da Caesb, Daniel Rossiter, declarou em nota: “Toda a equipe da Caesb manifesta sua solidariedade com a fam�lia de Marizelli e com a Corpora��o. Estamos certos de que todos guardar�o o exemplo de coragem e dedica��o de Marizelli”.
O segundo-sargento Demerson Assis de Almeida, que trabalhava na mesma ala que Zelli, afirmou que conheceu poucas militares com a garra e a alegria da soldado. “Uma pessoa de um sorriso invej�vel, um esp�rito de companheirismo e vontade de aprender e viver. Ficam nosso sentimento e nosso agradecimento. Que Deus a receba de bra�os abertos”, homenageou.
"Anjo laranja"
Entre as homenagens, uma das mais emocionantes veio do 2º tenente do Corpo de Bombeiros Cle�nio Dourado de Souza, que escreveu um texto no qual chama a colega de voca��o de "anjo-laranja" e "guerreira" e lembra que Zelli, como a militar era chamada pelos amigos, escolheu uma profiss�o na qual a vida do outro vale mais que a pr�pria.
"Algumas vezes, Deus leva o nosso irm�o, a nossa irm� e todo um Corpo de Bombeiros sente, toda uma tropa chora. Descanse em paz guerreira Marizelli, seu nome ecoar� no livro dos lend�rios, dos imortais, dos her�is que escrevem a nossa hist�ria", escreve. Leia a seguir:
Um anjo laranja
Nenhum bombeiro sabe quando o brado ser� o �ltimo. Ningu�m sabe. A adrenalina sobe e a vibra��o toma conta do sangue vermelho, a nossa cor.
Nenhum bombeiro sabe que aquele deslocamento na viatura pode ser o �ltimo. A equipagem �s pressas, amplamente treinada, as conversas no trajeto, improvisadas, as risadas, as estrat�gias da miss�o. Ningu�m sabe quando ser�o as �ltimas.
O som da sirene rasgando o sil�ncio das ruas e o ronco das viaturas abrindo caminho em dire��o ao sinistro s�o m�sicas em nosso ouvido. A gente imagina que sempre as ouviremos outra vez. Vidas alheias importam mais que as nossas e seguimos em dire��o ao que o destino escalou para aquele dia. Vamos, n�o sabemos se voltamos, mas vamos. E vamos vibrando. Avante guarni��o. Voamos ligeiros! Para a frente! O que importa a tormenta?
Naqueles eternos instantes entre o brado e o regresso nossa vida fica nas m�os de Deus. Vidas alheias e riquezas. Salvar � o nosso lema. � a nossa un�ssona voz. E como irm�os que somos, estamos na lida, cuidando uns dos outros e cumprindo a miss�o. N�o temem a morte os bombeiros, quando ecoa do alarme o sinal!
Mas, algumas vezes, sem que a gente entenda o porqu�, Deus busca um de nossos anjos laranjas de volta e o transforma em her�i, hero�na, imortal. Algumas vezes aquele brado, infelizmente, � o �ltimo. Algumas vezes aquela viatura transporta os nossos amados her�is pela �ltima vez. Algumas vezes a sirene � um canto celestial anunciando que as portas do c�u se abriram para que Deus incorpore mais um anjo em sua tropa de her�is an�nimos.
Algumas vezes, Deus leva o nosso irm�o, a nossa irm� e todo um Corpo de Bombeiros sente, toda uma tropa chora. Descanse em paz guerreira Marizelli, seu nome ecoar� no livro dos lend�rios, dos imortais, dos her�is que escrevem a nossa hist�ria.
Nosso pesar mais sentido e nossa contin�ncia mais honrosa a voc�.
Que Deus a receba e conforte o cora��o da fam�lia e amigos neste momento de dor t�o grande, sempre confiantes na vida eterna prometida e na bondade e miseric�rdia de Deus.