(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas GERAL

Avenida Faria Lima: 4,6 km de v�rios mundos e tribos


postado em 22/09/2019 10:43

"Nem parece que fica no Brasil". "� o nosso Vale do Sil�cio". "A crise passa longe daqui". "Ela representa apenas 1% do Pa�s". Essas s�o algumas das frases que de t�o repetidas e escritas j� se solidificaram na cabe�a de quem ouve "Faria Lima". Na verdade, em seus 4,6 km de extens�o, a avenida abriga muito mais diversidade do que essa imagem de "ilha de prosperidade e fantasia" nos faz supor.

Para come�ar, a regi�o do Largo da Batata tem uma vis�vel voca��o popular - com com�rcio de rua, botecos e um grande fluxo de trabalhadores. As tentativas de "gourmetiza��o" n�o alteraram tanto a paisagem. Cervejarias chiques dividem espa�o com os tradicionais p�s-sujos e o chope artesanal repousa ao lado do "litr�o". A moradora da regi�o e psic�loga Edna Felizardo Maffei, de 79 anos, traduz a diversidade desse peda�o com uma �nica palavra: "democracia". "Tem de tudo por aqui. Quem diz que a Faria Lima representa 1% do Brasil � porque nunca, de fato, andou por ela."

Ainda no Largo da Batata, tamb�m flagramos a dom�stica Marlene Rodrigues, de 48 anos, subindo no �nibus. Ela repara nos "mundos" que comp�em a avenida - mas acredita que n�o se misturam. "Os pr�dios do outro lado s�o muito bonitos. Nunca entrei neles. Acho que � porque a avenida tem dois lados, dois povos diferentes."

Ao sair do Largo e avan�ar pela avenida, n�o pisamos, imediatamente, na Faria Lima do dinheiro ou da tecnologia. Existe, pelo menos na apar�ncia, uma "ascens�o social" bem menos abrupta. Depois da Rua dos Pinheiros, ela � repleta de pequenos com�rcios, lojinhas e promo��es "no estilo 25 de Mar�o": "tudo pela metade do pre�o" ou "leve 2, pague 1". Mas, mesmo em seu peda�o popular, j� � poss�vel sentir o vento do empreendedorismo. O engraxate Denilson Santos das Neves, de 16 anos, que h� dois atua na Faria Lima, tem um business plan claro. "Comecei engraxando com uma caixinha. Depois, ganhei uma cadeira de um cliente e comecei a us�-la", disse. "Agora, estou juntando dinheiro para uma segunda cadeira e dobrar meu faturamento", completou. Ele cobra R$ 15 pelo servi�o, o que n�o � aleat�rio. "Cobro porque acabam me dando R$ 20 - j� com a caixinha."

A virada

O Shopping Iguatemi ainda � um marco na avenida. A partir dele, a Faria Lima vai se transformando em algo mais "exclusive" e "personnalit�". O com�rcio popular � substitu�do pelas butiques e, principalmente, por uma arquitetura moderna e arrojada.

Perto do shopping, encontramos um s�cio do Clube Pinheiros (que tamb�m fica na Faria Lima) e frequentador da via, o advogado Rubens Leite, de 73 anos. Ele considera "babaquice" quem diz que a Faria Lima representa apenas 1% do PIB do Brasil. "O Brasil pode n�o ser este aqui, mas a avenida � uma parte do Brasil."

Deste ponto, � poss�vel reparar na movimenta��o da ciclovia da Faria Lima. Entregadores de aplicativo dividem espa�o com engravatados e modernos. O tr�nsito de bikes e patinetes se intensifica no almo�o. N�o � raro ver pessoas que trabalham nas redondezas realizando pequenos trajetos com eles. "Aqui � o nosso Vale do Sil�cio. Tudo a ver o uso do patinetes na avenida. A Faria Lima � disruptiva em rela��o ao resto do Pa�s", disse o empres�rio Guilherme Rajzman, de 23 anos. Os entregadores esperam o celular tocar, deitados sobre o Monumento �s Musas, na Pra�a Jo�o Nassar. Quase em frente � pra�a, executivos tentam combinar pratos de salada e fil� de frango com laptops ou celulares com hashi. Os restaurantes por quilo nas vias paralelas ficam cheios. Grupos que investem em almo�os de neg�cio preferem os restaurantes de alto padr�o.

O hor�rio de almo�o � perfeito para observar o perfil de quem circula por l�. O look "camisa azul e sapato-t�nis" ainda reina na Faria Lima de alto padr�o, mas, aos poucos, tatuagens e camisetas coloridas v�o tingindo a paisagem. Essa mistura � o resultado da chegada de empresas como o Google e de uma s�rie de startups que se instalou na regi�o - a mesma que tamb�m abriga os tradicionais escrit�rios de advocacia, bancos, operadores do mercado financeiro...

Na hora do almo�o, voc� pode encontrar funcion�rios como Gabriel Al-Assal, de 28 anos, e Matheus Louren�o, de 25, que est�o dentro do padr�o tradicional dos "camisas azuis". "Acho que a Faria Lima tem um ambiente bem familiar", conta Al-Assal. Mas tamb�m � poss�vel se deparar com pessoas mais parecidas com o tatuado Matheus Palma, de 21 anos, que tira uma hora de almo�o para ouvir m�sica e relaxar na rede. De perfil mais alternativo, Palma diz que as "multinacionais da Faria Lima passam essa sensa��o de que l� n�o � o Brasil". Na m�dia, segundo ele, os empres�rios da regi�o n�o est�o satisfeitos com a economia do Pa�s. "Mas acham que a outra alternativa era pior", falou.

Medita��o

O Patio Victor Malzoni, embaixo do edif�cio que abriga BTG e Google, transformou-se no desafogo da Faria Lima. Como a regi�o n�o tem muitos espa�os de conviv�ncia, � nesse lugar que muita gente vai para respirar, refletir e esquecer das agruras de um dia de trabalho. O espa�o tem uma mesa de pingue-pongue comunit�ria para quem prefere "esfriar a cabe�a" a almo�ar. Normalmente, a "mesa" fica ocupada por funcion�rios de bancos e empresas de tecnologia. N�o � raro discuss�es de trabalho serem resolvidas na bolinha.

Al�m disso, "seres da Faria Lima" que convivem com metas e projetos est�o optando por 20 minutos de medita��o. Pouco antes do meio-dia, o grupo que pode variar entre 10 e 30 pessoas se re�ne no Patio Victor Malzoni. L�, eles sentam em c�rculo e fazem exerc�cios de medita��o e respira��o. O criador do projeto � o advogado Marcelo Corazzi Breda, de 27 anos. "Foi uma coisa que nasceu naturalmente." Hoje h� menos estranhamento. Ainda, claro, � poss�vel ouvir alguns coment�rios jocosos. "S� 1% do PIB pode se dar ao luxo de ser zen no Brasil", brincou um rapaz de camisa azul e sapato-t�nis. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)