Internacionalmente conhecida por integrar um dos principais corredores de tr�fico da Am�rica do Sul, a cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero vem passando por uma transforma��o nos �ltimos dois anos. N�o que a atividade criminosa tenha cessado. A diferen�a � que se somaram ao cotidiano, marcado por seguran�as armados em cada esquina e crimes b�rbaros, milhares de brasileiros vindos de diferentes regi�es em busca de um sonho: o diploma de Medicina.
Basta andar pela cidade, que faz fronteira com Ponta Por� (MS), e pelos corredores das faculdades para notar que esse movimento migrat�rio � expressivo. Na maioria das institui��es de ensino, s� se ouve o portugu�s. No entorno das universidades, � comum ver a oferta de coxinha e pastel, com pre�o em reais. Cresce ainda a constru��o de edif�cios para rep�blicas de estudantes.
Habitada por 116 mil pessoas, Pedro Juan Caballero tem nove faculdades de Medicina, nas quais estudam pelo menos 12 mil brasileiros. O n�mero � superior, por exemplo, ao de vagas ofertadas por ano por todas as universidades p�blicas do Brasil (10,6 mil). A migra��o em massa n�o � exclusiva de Pedro Juan nem do Paraguai. Universidades da Argentina e da Bol�via tamb�m v�m recebendo nos �ltimos anos um contingente de estudantes de fora. N�meros in�ditos do Minist�rio das Rela��es Exteriores (MRE) obtidos pelo Estado mostram que as faculdades de Medicina desses tr�s pa�ses sul-americanos j� re�nem cerca de 65 mil brasileiros. O n�mero equivale a mais de um ter�o do total de alunos de Medicina de todo o Brasil. Contando universidades p�blicas e privadas nacionais, s�o 167 mil estudantes no curso, segundo o Censo da Educa��o Superior de 2018.
A situa��o chamou a aten��o do Minist�rio da Educa��o (MEC), que, no ano passado, solicitou informa��es aos consulados dos tr�s pa�ses. O Itamaraty preparou um relat�rio. No documento, ao qual o Estado teve acesso, os c�nsules detalham uma s�rie de dificuldades vividas pelos brasileiros e relatam falhas no sistema de ensino. Alguns dos cursos come�am a funcionar sem sequer ter a habilita��o do governo local. Outros at� t�m credenciamento, mas sofrem com estrutura prec�ria, como falta de laborat�rios e bibliotecas adequadas.
Dificuldades econ�micas e com o idioma, cobran�as irregulares por parte das universidades e at� den�ncias de abuso sexual de professores s�o mencionados. "O meu relat�rio n�o foi muito positivo porque n�o posso esconder do governo brasileiro o que os alunos enfrentam todos os dias aqui", disse o c�nsul em Pedro Juan, Vitor Hugo de Souza Irigaray.
� a limita��o econ�mica que tem levado tantos estudantes a optarem por estudar Medicina fora do Pa�s. Atra�dos por mensalidades que variam de R$ 700 a R$ 2 mil e pela facilidade de ingresso no curso (quase nenhuma das institui��es realiza vestibular), os brasileiros veem na gradua��o no exterior a �nica forma de seguir a carreira m�dica e, assim, ter a chance de um futuro mais pr�spero ao regressar ao Brasil, onde o valor mensal cobrado pelas faculdades de Medicina fica entre R$ 6 mil e R$ 10 mil.
Para al�m dos pre�os e facilidades no ingresso, o que provocou o boom de estudantes nos �ltimos anos foi, segundo alunos e diretores de faculdades, a possibilidade de trabalho no Brasil pelo programa Mais M�dicos. "Come�ou a criar um sonho de que esses estudantes conseguiriam voltar ao Brasil e trabalhar sem revalidar o diploma", critica Diogo Leite Sampaio, vice-presidente da Associa��o M�dica Brasileira (AMB).
Em uma das faculdades visitadas em Pedro Juan, o n�mero de vagas passou de 45 em 2017, quando o c�mpus foi aberto, �s atuais 4,5 mil. "Quando cheguei aqui, em 2016, eram cerca de 8 mil brasileiros estudando Medicina. Hoje, s�o de 12 mil a 13 mil. S� que nas faculdades mais novas, que ampliam as vagas indiscriminadamente, o ensino deixa muito a desejar", disse o c�nsul.
In loco
Em algumas universidades, a situa��o prec�ria citada pelo c�nsul � evidente at� para leigos na �rea de forma��o m�dica. Em Pedro Juan Caballero, a reportagem visitou seis das nove faculdades m�dicas e falou com alunos. Pelo menos uma das institui��es, a Universidade Privada del Guair� (UPG), est� funcionando de maneira irregular, sem a habilita��o do Conselho Nacional de Educa��o Superior (Cones). Mesmo assim, acumulava, em junho, 200 alunos - mais de 90% deles brasileiros.
O c�mpus da faculdade foi improvisado em um galp�o de metal em uma rua de terra. Embora a UPG j� tenha estudantes desde outubro e cursando at� o 3.� ano do curso (transferidos de outras institui��es), os laborat�rios ainda est�o sendo montados. Em junho, n�o havia, por exemplo, laborat�rio para estudo de anatomia (necrot�rio), disciplina b�sica nos primeiros anos da carreira. Apesar disso, a faculdade tem apostado no marketing. Na porta de entrada do escrit�rio da unidade, um cartaz, em portugu�s, oferece desconto aos alunos que trouxerem amigos para estudar na faculdade. A UPG � uma das mais baratas da regi�o, com mensalidades a partir de R$ 700.
A segunda faculdade mais econ�mica da cidade, embora conte com a habilita��o do Cones e venha tentando modernizar sua estrutura nos �ltimos anos, tamb�m tem problemas em sua estrutura. Com mensalidade de cerca de R$ 700, a Universidade Polit�cnica e Art�stica do Paraguai (Upap) at� re�ne laborat�rios, mas no necrot�rio, por exemplo, n�o h� cad�ver dispon�vel para as aulas de anatomia.
Outro problema de quase todas as faculdade visitadas � a biblioteca, geralmente restrita a quatro ou cinco prateleiras, com poucos exemplares. No documento elaborado pelos consulados ao MEC, h� relatos ainda de falhas na organiza��o da grade curricular, com aulas vagas e mat�rias incompletas. "Como os mesmos professores d�o aula em v�rias faculdades, �s vezes acontece de eles n�o conseguirem terminar a disciplina", diz o estudante Vitor Lima, de 23 anos, natural de Goi�nia e estudante do 2.� ano em Pedro Juan.
Mesmo algumas faculdades que hoje contam com a habilita��o para funcionar abriram as portas em situa��o irregular. A situa��o � comum na regi�o da fronteira. "A minha faculdade mesmo n�o estava regular quando entrei, e eu n�o sabia. Mas, ao longo dos anos, ela foi atr�s dos documentos e hoje est� tudo certinho", afirma Vanessa Sibely Veronica Santos da Silva, de 20 anos, que est� no 4.� ano da Universidade Sudamericana. A jovem � de Rolim de Moura (RO) e decidiu migrar para o Paraguai por causa dos altos pre�os das faculdades no Brasil. "As que eu pesquisei na minha regi�o estavam entre R$ 7 mil e R$ 10 mil. Quando vim para c�, a mensalidade era R$ 600."
Reputa��o
Mas nem todas acumulam problemas. Das nove, duas t�m melhor reputa��o e conseguiram o selo da Ag�ncia Nacional de Avalia��o e Acredita��o da Educa��o Superior (Aneaes), certifica��o de qualidade. Nessas institui��es, as mensalidades variam entre R$ 1,4 mil e R$ 1,8 mil. Uma delas, a Universidade del Norte (Uninorte), tem tentado modernizar a estrutura. "No morgue, temos dez cad�veres para estudo. Temos tamb�m sala de simula��o com um sistema de som que reproduz sons card�acos e pulmonares para a pr�tica dos alunos", disse Rub�n Gorgonio Medina Franco, coordenador da carreira de Medicina.
A Universidade Pac�fico (UP), outra com certifica��o da Aneaes, est� finalizando a constru��o de um moderno pr�dio na entrada da cidade, com hospital universit�rio para as pr�ticas. "A primeira parte ser� aberta em 2020", relata Natalia Vega, diretora de marketing da UP. Outra que pretende construir no futuro um hospital pr�prio � a Universidade Central do Paraguai (UCP). A institui��o � uma das mais novas da regi�o - abriu em 2017 -, mas j� lidera em n�mero de alunos: 4,5 mil, mais de 90% brasileiros. Para atrair todos os perfis, a institui��o instalou at� uma creche para filhos de estudantes.
Superpopula��o de alunos
A busca das universidades por uma unidade hospitalar pr�pria para as pr�ticas dos alunos n�o � apenas uma comodidade, mas uma necessidade cada vez mais urgente. Isso porque, com a explos�o de estudantes de Medicina em Pedro Juan Caballero, o principal hospital da regi�o n�o tem suprido a demanda.
Com apenas 90 leitos e estrutura prec�ria, o Hospital Regional de Pedro Juan Caballero recebe todos os dias centenas de alunos. Em visita � unidade, a reportagem encontrou praticamente em todos os setores, da maternidade � psiquiatria, grupos de estudantes brasileiros. "Como s�o muitos alunos, a gente tem de ficar 'brigando' pelo paciente", comenta Vanessa Sibely Veronica Santos da Silva, de 20 anos. Ela tamb�m reclama da estrutura dos hospitais. "Aqui � tudo mais simples, n�o tem muita tecnologia", diz.
De fato, at� a estrutura f�sica do pr�dio chama a aten��o pela simplicidade. O teto � de telha, sem forro, e h� sujeira e bolor acumulados. N�o h� ar-condicionado nos espa�os, no m�ximo um ventilador de teto, e muitos dos m�veis, como arm�rios e camas, est�o quebrados ou malconservados.
No dia da visita do Estado � unidade, um beb� de 28 dias internado com bronquiolite era atendido em um leito comum, em um dos quartos com os problemas citados acima, pois n�o h� estrutura de atendimento neonatal. As limita��es fazem Vanessa e outros estudantes planejarem realizar o internato (per�odo durante o 6.� ano da gradua��o em que o aluno faz uma esp�cie de est�gio em um hospital) em algum centro m�dico do Brasil. Algumas faculdades paraguaias conseguiram firmar um acordo com hospitais brasileiros para tornar essa pr�tica poss�vel.
Se, por um lado, a estrutura f�sica atrapalha o processo de aprendizado dos estudantes, eles elogiam a abordagem humanizada que s�o incentivados a adotar. "A maioria das pessoas que atendemos � muito humilde. Algumas s�o ind�genas, n�o falam nem espanhol. Ent�o temos de ter muita paci�ncia, exercer o tempo todo a humildade", comenta Marcos Cesar Ferreira dos Santos, de 42 anos, estudante do 4.� ano.
Marketing
Mesmo com o hospital da cidade sem condi��es de receber mais alunos, parte das faculdades de Pedro Juan Caballero e de outras cidades tem investido em estrat�gias de marketing pesadas voltadas ao p�blico brasileiro. "Criamos um call center em portugu�s e contamos com captadores, que s�o alunos que firmam um contrato com a faculdade para ganhar uma remunera��o se trouxer mais alunos. Mas n�o pode ser pouco, tem de ser pelo menos uns 20, segundo o contrato", afirma Diego Hermosilla, coordenador administrativo da Universidade Polit�cnica e Art�stica do Paraguai (Upap), em Pedro Juan Caballero, que j� conta com 1,4 mil estudantes de Medicina - 96% s�o brasileiros.
Para conseguir bater a meta de alunos atra�dos, os captadores usam principalmente as redes sociais, como � o caso de Andiara Barros, de 29 anos, aluna do 5.� ano da Upap que mant�m o perfil Medicina Informa, no Instagram, com posts e v�deos sobre o dia a dia dos alunos do curso no Paraguai. Ela tamb�m possui site, n�mero de WhatsApp, canal no YouTube, p�gina no Facebook e outros recursos para dar consultoria e atrair novos estudantes.
"O m�ximo que j� consegui captar por semestre foi 150 alunos, mas em �pocas mais fracas s�o de 40 a 60", conta Andiara, que, com o valor obtido com as novas matr�culas, consegue arcar com os custos das mensalidades.
Outra institui��o que trabalha com captadores � a Universidade Central do Paraguai (UCP). O pr�prio diretor de Marketing da faculdade, Renato Michel, � aluno do 3.� ano de Medicina e tamb�m realiza a��es de capta��o de novos estudantes. Neste semestre, a UPAP fez outra aposta na tentativa de atrair mais brasileiros: passar� a oferecer o curso noturno, e n�o s� o de per�odo integral, como a maioria das faculdades. "� para dar a oportunidade de estudar a quem precisa trabalhar", diz Hermosilla. Ele afirma que a carga hor�ria ser� a mesma.
No noturno, os alunos ter�o aulas de seis horas, todos os dias. No integral, explica ele, a diferen�a � que o aluno tem aulas pela manh� e � tarde, mas nem todos os dias e com muitas janelas entre as diferentes aulas. "No curso noturno, as aulas ser�o mais concentradas."
Busca pelo revalida cresce 1.336%
A situa��o das faculdades novatas e incertezas sobre o futuro do programa Mais M�dicos e da revalida��o do diploma no Brasil trazem ang�stia aos brasileiros que estudam no exterior e aos j� formados. Alguns n�o sabem se conseguir�o o diploma. Mesmo os que estudam em faculdades com situa��o regular n�o t�m garantia de que poder�o trabalhar no Brasil.
A maioria dos estudantes ouvidos pelo Estado diz que pretende revalidar o diploma para trabalhar no Brasil, mas estat�sticas do Minist�rio da Educa��o (MEC) mostram que poucos conseguem. Nas sete edi��es do exame Revalida realizadas desde 2011, somente 19,9% dos brasileiros foram aprovados.
O n�mero de inscritos no exame s� aumenta. Em 2011, eram 297. Em 2017, o n�mero saltou para 4.267, um crescimento de 1.336%. Al�m da dificuldade do exame, os estudantes est�o agora angustiados com a falta de defini��o sobre o pr�ximo Revalida. A �ltima edi��o foi a de 2017, com sucessivos atrasos em suas duas fases, o que comprometeu as edi��es dos anos seguintes.
Formado em 2016, Rafael Lindolfo Carreteiro, de 26 anos, foi um dos �ltimos brasileiros formados no Paraguai que conseguiram ter o diploma revalidado. Para isso, por�m, passou por uma longa espera. "A segunda fase do Revalida era para ser em mar�o de 2018 e foi acontecer s� em novembro. Meu diploma saiu s� em maio deste ano. Foi um desespero. Cheguei a ficar com sintomas de depress�o, porque foram tantos anos de luta e sacrif�cio para conseguir estudar fora e vinha o medo de n�o saber se conseguiria trabalhar."
Ap�s a revalida��o, ele emitiu seu registro no Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul e logo come�ou a trabalhar em um hospital de Ponta Por� como plantonista no pronto-socorro. Agora, estuda para a resid�ncia em cirurgia geral.
Sidnei Henrique Silva, de 28 anos, graduado em 2016, n�o conseguiu passar no Revalida 2017 e, sem ter outra chance, trabalha como assistente administrativo da Secretaria da Sa�de de Rio Pardo (MS). "Parece que eles (o governo) est�o mais preocupados com os cubanos do que com a gente. N�o queremos privil�gio, apenas o direito de fazer a prova", diz Silva. "N�o me arrependo de ter estudado fora porque era a �nica forma de realizar meu sonho. Mas se algu�m me perguntar hoje se deve ir, eu aconselho a n�o ir", diz.
Formado em 2017, Emil Sleiman Tibcherani, de 30 anos, optou por trabalhar no Paraguai enquanto n�o consegue revalidar o diploma no Brasil. Ele � professor de histologia e primeiros aux�lios da Uninorte, mesma universidade em que se formou, e atua como m�dico na cidade paraguaia de Rio Verde. "Para mim fica mais f�cil trabalhar no Paraguai porque sou de Ponta Por�, ent�o vivo perto da fronteira. Mas h� colegas das Regi�es Norte e Nordeste que se formaram aqui, voltaram para suas cidades e est�o sem trabalhar."
O cen�rio de incerteza fez um grupo de estudantes de Pedro Juan montar, em fevereiro, uma associa��o para representar brasileiros que est�o na regi�o em busca do diploma. A entidade (Ameex) tem 2.100 membros.
MEC
Questionado sobre o Revalida, o MEC afirmou que as provas e a divulga��o dos resultados do exame de 2017 sofreram atraso por causa dos recursos movidos por candidatos e que busca de forma priorit�ria "sanar o lapso temporal" do Revalida com medidas de ajustes. Sobre a realiza��o do pr�ximo exame, o minist�rio informou que ser� "o mais breve poss�vel". A pasta prorrogou a portaria que criou um grupo de trabalho para discutir mudan�as no Revalida - as propostas devem ser conclu�das at� o fim de outubro.
Para o c�nsul do Brasil em Pedro Juan Caballero, Vitor Hugo de Souza Irigaray, a migra��o em massa de estudantes brasileiros � fronteira precisa de maior aten��o do governo federal. Ele defende que seja formada uma miss�o com representantes dos Minist�rios da Educa��o e da Sa�de para verificar a situa��o de alunos e faculdades. "Precisamos de m�dicos bem formados. Quem est� em jogo n�o � o m�dico, � o paciente."
Migra��o em busca do diploma
Se nas faculdades brasileiras o perfil predominante de alunos de Medicina � de jovens rec�m-sa�dos da adolesc�ncia e de classe alta, nas escolas m�dicas do Paraguai o grupo � mais diverso. Embora os jovens tamb�m sejam maioria por l�, h� muitos casos de pessoas mais velhas, j� formadas em outra �rea, que abandonaram emprego e casa no Brasil para cursar Medicina no exterior. A maioria toma a decis�o depois de algum conhecido se aventurar e conseguir o diploma.
"Inicialmente meus pais me pediram para vir com meu irm�o porque ele era muito jovem e ach�vamos que a regi�o era perigosa. Ent�o pensei que, j� que eu ia morar aqui, poderia fazer Medicina tamb�m", conta Luciana Mour�o, de 36 anos. Formada em Economia e Design de Interiores, ela tinha uma franquia em Rondon�polis (MT). Vendeu o neg�cio e viajou com o irm�o Lucio, de 21. "Hoje peguei gosto pela profiss�o", conta ela.
Como Luciana e Lucio, muitos dos estudantes no Paraguai s�o do Centro-Oeste. H� tamb�m muitos nascidos no Norte. A justificativa se d� pelo acesso facilitado � regi�o da fronteira e pelo baixo n�mero de vagas de Medicina nessas regi�es. Segundo o �ltimo Censo da Educa��o Superior, com dados de 2018, as universidades brasileiras ofereceram no ano passado 35,6 mil vagas para novos alunos de Medicina, mas o n�mero de inscritos para vestibulares da carreira passou de 1 milh�o, uma m�dia de 28 candidatos por vaga.
Sonho
Marcos Cesar Ferreira dos Santos sempre teve o sonho de ser m�dico, mas, por causa das altas mensalidades e do vestibular concorrido, nunca pensou que poderia concretiz�-lo. Depois de se casar e ter dois filhos, passou por uma situa��o que o fez reviver sua inten��o: o sogro foi diagnosticado com c�ncer e ele foi um dos que acompanhou de perto a batalha contra a doen�a. "Eu o via daquele jeito e queria ajudar, mas n�o sabia o que fazer."
O sogro n�o resistiu � doen�a e morreu em 2014. Logo em seguida, o filho mais velho de Marcos, Gustavo, de 21 anos, come�ava a pensar no vestibular. "Perguntei o que ele ia fazer da vida e ele n�o estava muito certo, ent�o sugeri essa possibilidade de fazermos Medicina juntos", conta Marcos. A fam�lia tinha um primo que j� havia migrado para o Paraguai para fazer o curso, o que deu alguma seguran�a na decis�o.
Em 2016, Marcos se mudou, com a fam�lia inteira, da cidade de Cacoal, em Rond�nia, para Ponta Por�. Hoje, pai e filho est�o na mesma sala, no 4.� ano. Sem poder trabalhar em hor�rio comercial por causa do curso integral e com duas mensalidades para pagar, Marcos resolveu abrir um churrasquinho na garagem de casa em Ponta Por�. No pequeno neg�cio, trabalham a mulher, na prepara��o dos espetos; Marcos, na churrasqueira; e Gustavo, no atendimento. At� o ca�ula, de 14 anos, d� uma m�o. "A gente recebe pedidos pelo WhatsApp tamb�m. Tem noite que atendemos at� 80 pessoas", comemora Marcos.
A clientela � como se fosse da fam�lia. Quando pai e filho est�o em semana de provas, avisam os clientes que o servi�o n�o vai funcionar. "Eles entendem porque sabem que, acima de tudo, somos estudantes", diz Gustavo. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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GERAL
65 mil brasileiros se aventuram para cursar Medicina em pa�ses vizinhos
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