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Estado de Minas GERAL

Paribar: 70 anos de resist�ncia bo�mia em S�o Paulo


postado em 14/10/2019 08:08

No dia 19 de setembro de 1983, o Jornal da Tarde publicava uma reportagem, escrita pelo rep�rter Rand�u Marques, sobre o �ltimo dia de vida do Paribar. "As luzes do t�rreo do Edif�cio Thomas Edison foram desligadas sob protestos: os clientes do Paribar continuaram a ocupar as mesinhas da Pra�a Dom Jos� Gaspar mesmo depois de terminadas as �ltimas can�onetas, entoadas ao som do velho piano e de brindes comovidos por umas 30 pessoas inconformadas com o fim de seu ponto de encontro dos �ltimos 33 anos."

Muitos brindes e "can�onetas" depois, o Paribar renasceria no mesmo local, na Pra�a Dom Jos� Gaspar, em 7 de abril de 2010. Neste domingo, 13, o bar comemorou com festa os seus 70 anos - contando o per�odo em que permaneceu fechado, mas sem nunca desaparecer do imagin�rio bo�mio da cidade de S�o Paulo. A m�stica do lugar vem dos seus frequentadores ilustres. Nos anos 1950, abrigaram-se sob aquele toldo verde e branco (e nas cadeiras de vime) nomes como os pintores Tarsila do Amaral e C�ndido Portinari; o intelectual e escritor S�rgio Milliet (que tinha uma mesa cativa por l�); e at� pol�ticos como J�nio Quadros, Ademar de Barros e Delfim Netto.

A vizinhan�a com a Biblioteca M�rio da Andrade era a desculpa que artistas e intelectuais precisavam para um trago relaxado ao cair da tarde. Na d�cada de 1960, o Partido Comunista tamb�m tinha um "endere�o" na regi�o - o que tamb�m levou muitos militantes para o bar. Ali�s, uma das hist�rias mais saborosas sobre o Paribar nunca foi confirmada. Existe a lenda de que Che Guevara tenha tomado um cafezinho por l� em meados dos anos 1960. A tal visita n�o foi registrada e sequer pode ser comprovada - pelo menos at� agora. Durante o regime militar, membros do DOI-Codi, o �rg�o de repress�o da ditadura, tamb�m costumavam ser vistos por l�.

O Paribar ainda fez parte da vida de Marcos Rey, cliente ass�duo do lugar entre os anos 1950 e 1970. O escritor colocou o estabelecimento como um dos personagens do conto O Bar dos Cento e Tantos Dias. No texto, ele descrevia um publicit�rio desempregado que passava os dias em uma mesinha de rua de um bar no centro da cidade. Em determinado momento da narrativa, o homem sentenciava: "com um pouco de concentra��o e paci�ncia, se pode ver os mortos passarem".

O bar tamb�m esteve em um filme do cineasta Ugo Giorgetti, colunista do jornal O Estado de S. Paulo. Em O Pr�ncipe, um velho jornalista, interpretado por Ot�vio Augusto, se posta melanc�lico em frente do lugar que havia sido o bar. "O Paribar era sobretudo um lugar de conv�vio civilizado . Um bom passatempo era ficar numa mesa apenas ouvindo conversas que se desenvolviam em mesas pr�ximas. Nas vizinhan�as do Paribar ficavam o Masp (Museu de Arte de S�o Paulo), a Cinemateca Brasileira, a Biblioteca Mario de Andrade, o pr�dio de O Estado de S. Paulo (a antiga sede do jornal, no centro)", contou Giorgetti. "Com alguma sorte, na mesa ao lado podia estar S�rgio Milliet, por exemplo."

J� Paulo Mendes da Rocha, considerado o maior arquiteto brasileiro vivo, recordou das noites de juventude e dos primeiros copos de u�sque. "Era um lugar em que se falava sobre tudo. Eu, arquiteto, come�ava a conversar com algu�m de cinema, que conversava com algu�m de teatro. Era uma conversa criativa, espont�nea, uma forma fluida de literatura."

Hist�ria

O Paribar teve sua g�nese no navio que, no fim da d�cada de 1940, trazia para o Brasil as fam�lias Ducco e Bauducco, que fugiam da It�lia por causa dos desdobramentos da 2.� Guerra Mundial. O nome da casa vem da jun��o das s�labas iniciais de Pastif�cio, Ristorante e Bar.

A fam�lia que criou o empreendimento n�o conseguiu toc�-lo adiante. Antes que o bar fechasse, o gerente italiano Franco Zanuso assumiu o neg�cio. Do ramo, ele fez "a casa virar". Em 1983, no exato �ltimo dia do bar, ele declarou ao Jornal da Tarde que "... faltava um bar � altura da pra�a e da cidade, que de cozinha italiana n�o tinha nada; era s� pizza e nada mais (...)"

S� que "os gostos mudaram, as pessoas acham melhor gastar Cr$ 1, 5 mil (moeda da �poca) em uma lanchonete infecta do que saborear um macarr�o decentemente preparado e servido pelo mesmo pre�o, com direito a bebida", declarou Zanuso, na �poca do fechamento.

Em 2005, o administrador de empresas Luiz Eduardo Pacheco Campiglia Filho teve a ideia de abrir um caf� no centro. Entre os im�veis visitados estava um na Pra�a Dom Jos� Gaspar. "Eu n�o sabia que aqui tinha sido o Paribar", confessou.

Quando a reforma j� estava quase terminada e o lugar pronto para se transformar em uma esp�cie de um caf�, um cozinheiro convenceu Campiglia a abrir um restaurante. "Em 2005, eu inaugurava o Santa F�. O restaurante foi muito bem. Era uma novidade. Mas sempre entrava algu�m aqui lembrando que neste lugar havia existido o Paribar. Aquilo foi ficando na minha cabe�a."

Em pouco tempo, o restaurante Santa F� esbarraria em um problema legal. O nome j� tinha registro. Era preciso troc�-lo. "Foi quando eu pedi para a advogada consultar o nome Paribar. N�o estava registrado. Eu, que estava encantado pelo centro, iniciei um processo de registro - que levou cinco anos", contou Campiglia. "Como todo dia entrava algu�m aqui para me contar coisas do Paribar, fui reconstruindo e construindo o lugar mentalmente at� reabri-lo em 2010." As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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