A cada 3,8 segundos, o rob� Laura faz uma varredura nas informa��es sobre pacientes internados e, utilizando intelig�ncia artificial, consegue mapear casos de sepse, grave infec��o que pode afetar o funcionamento dos �rg�os e levar � morte. A plataforma, criada pelo arquiteto de sistemas Jacson Fressatto, de 40 anos, est� presente em 13 hospitais em tr�s Estados e deve chegar � capital e ao interior de S�o Paulo em novembro.
Quadro que causa a morte de 250 mil pessoas ao ano no Pa�s e de cerca de 6 milh�es de pacientes no mundo, a sepse tem sido alvo de estudos de institui��es, principalmente dos Estados Unidos. A ideia de criar uma plataforma para evitar a complica��o em pacientes que est�o internados ocorreu depois de uma trag�dia na fam�lia de Fressatto. Em 2010, a filha Laura nasceu prematura e, ap�s 18 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), morreu por sepse.
"At� 2012, fiquei estudando o que era e vi que se fazia necess�rio construir uma tecnologia que fosse integradora, mas pouco se falava em intelig�ncia artificial e "machine learning" (aprendizado das m�quinas)", lembra Fressatto. "Passei a investir recursos pessoais, vendi meu patrim�nio e constru�, em 2015, um prot�tipo que foi testado em um hospital para validar o tratamento."
Segundo o fundador do Instituto Laura Fressatto, a primeira implementa��o foi em julho do ano seguinte no Hospital Nossa Senhora das Gra�as, em Curitiba, e a plataforma se mostrou eficiente. O balan�o da entidade, de outubro de 2016 a junho deste ano, aponta que 2,5 milh�es de pacientes j� foram monitorados e 12.289 acabaram beneficiados pela tecnologia. "A minha meta pessoal n�o est� relacionada com o que eu passei, mas em saber que a gente pode ter um controle efetivo de risco de morte. N�o sou m�dico nem da �rea de sa�de, mas o que fiz salva 12 pessoas por dia."
Atualmente, a plataforma est� em funcionamento em cinco hospitais do Paran�, entre eles o Erasto Gaertner e o Nossa Senhora das Gra�as, na capital, al�m de uma institui��o de Minas e sete do complexo da Santa Casa de Miseric�rdia de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. O valor de implementa��o varia de acordo com o tamanho do hospital e h� um gasto mensal de, em m�dia, R$ 4 mil.
Infectologista e diretor m�dico da plataforma, Hugo Morales explica que a tecnologia funciona monitorando dados do prontu�rio do paciente e informa��es contidas em uma ferramenta. Sinais vitais e resultados de exames s�o analisados pela plataforma, que emite alertas para a equipe m�dica, caso o paciente apresente altera��es no quadro cl�nico. "A plataforma � a potencializa��o do ser humano pela m�quina, mas quem toma a decis�o � o ser humano. Fizemos um estudo seis meses antes e seis meses depois do uso da tecnologia, com 55 mil pacientes. Tivemos redu��o de mortalidade de 25% e o tempo de interna��o caiu 10%."
Diretor assistencial do Hospital Ministro Costa Cavalcanti, em Foz do Igua�u (PR), Sandro Scarpetta diz que a ferramenta est� sendo utilizada h� pouco mais de um ano e j� trouxe resultados. "A (taxa) de mortalidade passou de 4,33% para 1,64%."
Alerta
Presidente do Instituto Latino-Americano de Sepse e intensivista do Hospital S�rio-Liban�s, Luciano Azevedo observa que grupos em outros pa�ses est�o estudando e desenvolvendo plataformas para evitar a complica��o, mas ainda s�o necess�rios trabalhos cient�ficos para comprovar a efic�cia. "Isso � uma tend�ncia, mas ainda n�o tem uma plataforma que esteja totalmente validada cientificamente para uso. � como um medicamento, que passa por v�rias etapas de valida��o", explica Azevedo.
"A intelig�ncia artificial que a gente tem ainda n�o � capaz de discernir totalmente se � um caso de sepse", observa ele. "Se alarma o tempo inteiro com pacientes que n�o t�m sepse, fadiga a equipe m�dica. Mas, no futuro, certamente ajudar�."
Diagn�stico
A dona de casa Francielli Colle Santana, de 34 anos, estava gr�vida de 21 semanas do segundo filho quando sentiu um mal-estar, em abril do ano passado. Ela buscou um hospital e foi liberada ap�s tr�s dias de interna��o. Mas n�o melhorou.
"Fiquei mais dois ou tr�s dias em casa, mas estava com muita fraqueza e falta de ar", lembra ela. "Fui diagnosticada com sepse por causa do rob�, que deu um alerta. Uma bact�ria dent�ria pegou uma v�lvula do meu cora��o. Fiz uma cirurgia card�aca gr�vida. O m�dico n�o deu muita esperan�a para o beb�."
Naquele momento, Francielli n�o conseguia compreender a gravidade de seu estado. "Estava t�o ruim que n�o conseguia pensar. Quem sofreu mais foi a minha fam�lia." Foram 20 dias de interna��o, mas a gravidez correu bem. Rafael, que est� com 1 ano, e a m�e est�o saud�veis.
Montanha-russa
Bianca, de 1 ano e 8 meses, � outra paciente que teve a sepse detectada com a plataforma. A m�e da crian�a, a jornalista J�ssica Amaral, de 33 anos, teve uma infec��o no �tero e a menina nasceu prematura. "A gente ficou 77 dias na UTI. Durante a interna��o, ela teve v�rias complica��es: pneumonia, hemorragia pulmonar. Nem sabia que o hospital tinha essa tecnologia. Mas vi no laudo, depois, que ela teve a sepse. Foi uma forma de salvar a Bianca."
No per�odo de interna��o, ela viu o rob� Laura sendo utilizado pela equipe m�dica em outros pacientes. "Via a movimenta��o dos m�dicos e descobri depois que era a sepse. A UTI � uma montanha-russa. Um dia, a pessoa est� bem, no outro, est� muito ruim. A minha filha, quando quase estava saindo do hospital, teve a pneumonia. � dif�cil ver o come�o da vida daquele jeito." As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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