Um pr�dio residencial de sete andares que desabou na manh� desta ter�a-feira, 15, em Fortaleza, deixou ao menos um morto e nove feridos. O edif�cio Andr�a se localizava na esquina das Ruas Tib�rcio Cavalcante e Tom�s Acioli, no Dion�sio Torres, bairro nobre da capital cearense. O pr�dio desabou por volta de 10h15.
De acordo com os bombeiros, ainda h� duas v�timas soterradas e em contato visual com os oficiais. Elas est�o esperando o resgate. Das v�timas j� resgatadas, duas teriam conseguido ligar para os familiares, mesmo sob os escombros. Tr�s feridos resgatados foram encaminhados para o Instituto Doutor Jos� Frota (IJF): Cleide Maria da Cruz Carvalho, de 60 anos; Maria Ant�nia Peixoto, de 72 anos; e Gilson Moreira Gomes, de 53 anos. Eles passam por exames.
Os bombeiros tamb�m est�o com uma lista de 10 nomes de pessoas que ainda n�o foram localizadas, mas n�o se sabe se elas estavam no edif�cio no momento do desabamento. Ainda de acordo com os bombeiros, n�o h� risco para os pr�dios pr�ximos.
"A Defesa Civil est� coordenando o isolamento do entorno, mas o desabamento desse pr�dio n�o oferece risco aos edif�cios vizinhos. Estamos esvaziando o entorno, mas mais por uma quest�o de seguran�a", afirmou o coronel Clayton Bezerra, comandante da opera��o. "A situa��o � dif�cil e requer cuidados, porque o restante do pr�dio ainda pode vir a colapsar. Ainda h� bols�es que inspiram cuidados. � uma opera��o lenta e deve se estender durante todo o dia de hoje."
Ele tamb�m disse que n�o h� risco de inc�ndios ou de explos�es e que n�o foi detectado vazamento de g�s. De acordo com Bezerra, a manuten��o em uma das colunas do pr�dio pode ter levado ao desabamento.
H� c�es farejadores trabalhando no resgate dos soterrados.
Em nota nas redes sociais, o governador do Cear�, Camilo Santana (PT), afirmou ter determinado "o uso de toda a for�a operacional dos bombeiros, Samu, Pol�cia Militar, Defesa Civil e todos os �rg�os estaduais que possam auxiliar no socorro �s v�timas".
Tamb�m nas redes sociais, o prefeito de Fortaleza, Roberto Cl�udio (PDT), lamentou a trag�dia e refor�ou os trabalhos em busca de v�timas com vida.
"Equipes da Prefeitura e do Governo do Estado, como Defesa Civil, SAMU, AMC, Guarda Municipal, Hospitais P�blicos, Corpo de Bombeiros, Pol�cias Militar e Civil, j� est�o em uma opera��o conjunta", refor�ou a nota.
"Estava chegando a Bras�lia para cumprir agendas quando recebi essa lament�vel not�cia. Cancelei toda a agenda e estou retornando imediatamente para Fortaleza para acompanhar a opera��o de resgate. Al�m das a��es efetivas das nossas for�as de seguran�a, fa�amos uma corrente de ora��o para que as vidas sejam salvas", diz o texto.
Ex-morador e vizinhos
O consultor empresarial Heitor Melo Lima morou no pr�dio at� setembro deste ano, no apartamento 401. "Quando a gente estava quase de mudan�a � que esse assunto, da reforma estrutural, entrou na pauta do condom�nio, mais ou menos no fim de agosto", recorda.
Heitor afirma que gostava do im�vel, de cerca de 130 metros quadrados privativos, e que apesar de ser um pr�dio "provavelmente com mais de 40 anos", n�o saiu de l� por causa do risco de colapso.
O v�deo que correu as redes sociais nesta manh�, exibindo as pilastras do estacionamento deterioradas e com ferros aparentes - que, segundo os grupos de WhatsApp, foi feito ontem � noite - assustou o ex-morador. "O pr�dio era bem antigo, tinha algumas quest�es de manuten��o, rachaduras pequenas, mas nada que parecesse alarmante. H� um m�s, n�o estava naquele estado".
De acordo com ele, a maioria dos moradores estava l� h� muito tempo e a maioria dos apartamentos tinha moradores idosos. "Que eu saiba, onze apartamentos estavam ocupados, s� o meu e o 301, que saiu no m�s anterior a mim, estavam desocupados".
O publicit�rio Higor Veras, de 26 anos, trabalha pr�ximo ao pr�dio que desabou e conta que os im�veis da regi�o precisaram ser evacuados devido a um vazamento de g�s no local da trag�dia.
"Foi horr�vel. A gente pensou que fosse o nosso pr�dio, porque tremeu muito. Durou uns dez segundos. A gente come�ou a ver a poeira, a gritaria e a gente percebeu que era outro pr�dio. Foi aquela correria, mas n�o tinha muito o que fazer", contou.
A designer de interiores Roberta Leite, de 32 anos, mora a cerca de 100 metros do pr�dio que desabou. Ela conta que estava no quarto quando ouviu um barulho estridente.
"Pensei que tivesse uma queda de energia, algum poste que tivesse sido batido. Sa� com minha irm� para ver a situa��o da janela da cozinha e vi uma nuvem de fuma�a", disse.
Ap�s a poeira baixar, Roberta percebeu que um pr�dio pr�ximo havia ca�do.
"Todo mundo come�ou a sair na rua, a entender a situa��o e a ajudar. Est� todo mundo triste. � uma trag�dia", lamentou.
A designer, tamb�m estudante de Engenharia Civil, disse que a estrutura n�o aparentava m�s condi��es.
"Era um pr�dio normal. N�o tinha nenhum vergalh�o aparente, nenhuma rachadura. A pintura estava desbotada, mas normal", avaliou.
A irm� de Roberta, a enfermeira Renata Vasconcelos, de 36 anos, foi ao local prestar socorro �s v�timas do desastre. Com a ajuda da popula��o e de uma empresa distribuidora de �gua, Renata conseguiu cerca de 50 garraf�es, al�m de copos descart�veis e outros mantimentos para ajudar, tamb�m, as equipes de resgate.
"O sol est� muito forte, e vai ser uma opera��o de dias. O trabalho aqui vai ser de formiguinha. Temos de esperar os bombeiros agirem primeiro", disse ela, que estava ao lado de uma das ambul�ncias do SAMU para ajudar nas ocorr�ncias. Sobre o emocional, a profissional conta que foi um "susto grande", mas que "algu�m tem de estar estruturado pra poder ajudar. As v�timas contam com a gente".
O comerciante Jo�o Andr� Uch�a Gomes, de 40 anos, conta que estava no mercado do qual � dono com um fregu�s no momento que o pr�dio vizinho desabou. "Eu vi como se o pr�dio estivesse se quebrando ao meio, quando eu vi eu me assustei e j� subi para o segundo andar". Ele conta que conseguiu fugir por uma janela lateral e que estava com um cliente, que n�o conseguiu escapar, mas que j� foi resgatado.
"Eu ouvi um barulho, mas n�o sabia se era o pr�dio, era como alguma coisa tremendo, uma batida", lembra o comerciante. Depois disso, ele conta que subiu uma poeira forte e que n�o conseguiu enxergar mais nada e por isso n�o conseguiu ajudar o cliente que estava com ele no estabelecimento. Segundo Jo�o, que teve ferimentos leves, vai ser dif�cil salvar qualquer coisa do mercadinho.
A advogada Rosa Monteiro Bruno, de 37 anos, confundiu o desabamento com uma ventania, inicialmente. Ela percebeu que tinha alguma coisa errada porque viu uma rede de dormir voando muito alto. "Eu estava no escrit�rio, senti meu pr�dio balan�ar e vi uma rede no vizinho voar alto, depois subiu a nuvem de poeira", recorda.
Ela mora no d�cimo andar de um edif�cio ao lado, com apenas duas casas de separa��o. Ela conhecia a pessoa que morreu no desabamento. No momento da trag�dia, o homem, cujo nome ainda n�o foi divulgado, descarregava um caminh�o de �gua mineral bem onde os escombros ca�ram. "� uma misto de ang�stia e impot�ncia. Foram 20 minutos sem poder fazer nada. Percebemos que at� mesmo os bombeiros estavam surpresos. E por obra de Deus n�o foi pior, porque o pr�dio pendeu para a rua; se tivesse ca�do para o outro lado, teria atingido casa, sal�o de beleza, v�rios outros im�veis,", conta ela.
Em entrevista � reportagem, o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Cear� (CAU-CE), Napole�o Ferreira, afirma que n�o h� nenhum Registro de Responsabilidade T�cnica (RRT) emitido para o pr�dio.
"Se houver obra por arquiteto, � irregular. N�o h� RRT de nenhum profissional naquele edif�cio", enfatiza Napole�o.
Ao citar hip�teses para o desabamento, o presidente diz que o problema pode ter sido causado por quest�es estruturais ou por falta de manuten��o predial.
"Quando acontecem interven��es internas na edifica��o, obras nas unidades e isso � feito de maneira n�o profissional, com a t�cnica devida, isso geralmente amea�a causar sinistros como esse. Uma outra causa poss�vel � a estrutura do pr�dio. �s vezes tem uma infiltra��o, um problema cr�nico, que ao longos dos anos vai se agravando e termina que colapsa a estrutura. Outra hip�tese � a quest�o da tubula��o de g�s. Pode haver uma explos�o e isso gera uma rachadura e a ruptura vai como um 'castelo de cartas'. Essas hip�teses existem. � preciso investigar", afirmou Napole�o.
A Universidade de Fortaleza (Unifor) organizou um mutir�o de volunt�rios com alunos e ex-alunos das �reas de enfermagem, psicologia e medicina, al�m de ONGs, para prestar socorro a parentes de v�timas do desabamento. O atendimento est� sendo feito em um pr�dio pr�ximo. Tamb�m h� equipes da Igreja Cat�lica e de duas denomina��es evang�licas se revezando em turnos com 30 profissionais cada.
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