Depois de quase tr�s d�cadas trabalhando como "artista" em circos, a elefanta asi�tica Ramba, de ao menos 53 anos, chegou ao Brasil, nesta quarta-feira, 16, para uma merecida aposentadoria. A passageira ilustre, com seus 3,6 mil quilos, desembarcou �s 6h da manh� no Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas, interior de S�o Paulo, tr�s horas depois de partir do aeroporto de Santiago, no Chile, a bordo de um Boeing 747-400.
Ramba foi trazida no interior de uma caixa de quase 6 toneladas, com �gua, alimenta��o, temperatura controlada e c�meras internas de monitoramento. A elefanta passou pelos tr�mites da Receita Federal, foi inspecionada por t�cnicos do Ibama e recebeu uma guia de transporte expedida por funcion�rios do Minist�rio da Agricultura, Pecu�ria e Abastecimento.
�s 9h da manh�, Ramba seguiu em comboio rodovi�rio para o Santu�rio de Elefantes do Brasil, uma reserva de 1,1 mil hectares, em Chapada dos Guimar�es (MT).
A viagem internacional marca um novo cap�tulo na hist�ria da elefanta que nasceu selvagem e foi domesticada para ser atra��o circense. A maratona, iniciada em Ranc�gua, a 90 km de Santiago, deve terminar somente na noite de quinta-feira, 17, ou na manh� de Sexta-feira (18) com a chegada de Ramba ao destino.
De acordo com o bi�logo Daniel Moura, diretor do santu�rio, quem vai definir o tempo da viagem � a pr�pria Ramba. "Seria bom que ela ficasse o menor tempo poss�vel em viagem, mas como � um animal que vem de uma vida de sofrimento, vamos respeitar as vontades dela. Programamos de oito a dez paradas para o descanso, mas podem ser mais ou menos, dependendo de como ela estiver", disse.
No percurso de 1.500 quil�metros, Ramba vai ter �gua � vontade e ser� alimentada com feno, frutas e legumes, al�m de suplementos. Se quiser, ter� direito a caminhadas em fazendas ao longo do trajeto, que j� est�o de preparadas para essa eventualidade. Al�m do caminh�o-guincho da empresa Porto Seguro, que cedeu o transporte, uma equipe de apoio incluindo uma veterin�ria e o presidente do santu�rio, Scott Blais, seguem com o comboio, escoltado pela Pol�cia Rodovi�ria Federal (PRF).
Aparato
A chegada de Ramba movimentou os bastidores do aeroporto de Viracopos, que em 59 anos de hist�ria, j� recebeu baleia, on�a, canguru, avestruzes, boiadas inteiras, mas nunca tinha recebido um elefante. A opera��o de desembarque mobilizou cerca de 30 pessoas.
Ap�s um voo de tr�s horas, Ramba chegou um pouco agitada, segundo o presidente do santu�rio, Scott Blais, que estava com ela no avi�o. "Ela sente que n�o est� com os p�s em terra firme e fica um pouco nervosa, mas logo se acalma", disse.
A caixa foi retirada do avi�o pela porta lateral, desceu de guindaste-empilhadeira e seguiu para o setor de cargas. Funcion�rios da concession�ria do aeroporto abriram uma faixa com os dizeres: "Ramba, seja bem-vinda ao Brasil. Viracopos te recebe de bra�os abertos".
O cont�iner foi aberto para higieniza��o, mas Ramba permaneceu no interior. O gerente de opera��es de carga Ricardo Luize, disse que a recep��o a Ramba vinha sendo preparada h� tr�s meses. "Foi tudo articulado em detalhes para que ela ficasse no terminal apenas o tempo necess�rio para os tr�mites."
A volunt�ria Tina Le�o conta que foram necess�rios v�rios dias para convencer Ramba a entrar na caixa, preparada com exclusividade para ela. O ambiente interno, embora com grades de conten��o, foi desenhado com o molde do corpo e formas anat�micas da elefanta. O comedouro e o bebedouro ficaram em compartimento de f�cil acesso. "Ramba viajou muito com circos pela Argentina, Chile e outros pa�ses, por isso se acostumou �s viagens, embora da pior forma poss�vel. N�s usamos de est�mulos suaves para atra�-la para a caixa, com palavras carinhosas e comida que ela ama, como melancia e isot�nico vermelho. Cada vez que ela entrava, ganhava um est�mulo positivo", contou.
No santu�rio, a elefanta ser� recebida pelas novas companheiras Maia e Rana, que j� vivem ali. A caixa ser� aberta em uma baia forrada com areia para que Ramba possa ter contato com o ch�o. De acordo com o bi�logo, desse local ela poder� avistar as companheiras. "As duas est�o bem adaptadas e a companhia pode ser boa para elas. Se houver algo que indique alguma tens�o, a gente vai esperar para colocar Ramba com as outras. Tamb�m vamos avaliar as condi��es de sa�de e iniciar os tratamentos. Queremos que ela tenha vida longa."
Maus-tratos
A idade de Ramba � incerta, calculando-se que tenha entre 53 e 60 anos. Em liberdade, um elefante vive at� 80 anos, mas o cativeiro pode reduzir essa previs�o. Conhecida como a �ltima elefanta de circo do Chile, Ramba foi comprada na �sia e levada para a Argentina na d�cada de 80. Durante tr�s d�cadas, ela viajou de caminh�o, presa a correntes, para ser vista pelas plateias.
Em 1997, o animal foi confiscado do circo "Los Tachuelas" pelo Servi�o Agr�cola e Pecu�rio do Chile, devido �s den�ncias de neglig�ncia e maus tratos.
Embora proibido de us�-la em apresenta��es, o circo continuou como deposit�rio at� a elefanta ser resgatada, em 2011, pela ONG Ec�polis de prote��o aos animais, e levada para Ranc�gua. A entidade, que atua com outros animais silvestres e tem pouca experi�ncia com elefantes, acabou entrando em contato com o santu�rio brasileiro.
De acordo com a volunt�ria Val�ria Mindel, a elefanta continuava sofrendo com o rigor do inverno chileno e com a solid�o. O santu�rio abriu um financiamento coletivo no Brasil e nos Estados Unidos para custear a transfer�ncia e contou com apoio de empresas para o transporte de Ramba. A entrada da elefanta no Pa�s foi autorizada pelo Ibama. O aeroporto de Viracopos n�o cobrou taxas alfandeg�rias.
Quando a reportagem perguntou ao presidente do santu�rio, Scott Blair, qual a sua forma��o, ele respondeu que era apenas formado em elefantes. Aos 46 anos, o cidad�o americano dedica sua vida a esses animais. Ramba � o 36� elefante resgatado por Blair e sua mulher, Katherine, e transferido para os santu�rios espalhados pelo mundo.
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GERAL
Ramba chega ao Brasil e segue para 'aposentadoria' em santu�rio de elefantes
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