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Estado de Minas GERAL

Cursos ensinam a ser orador de vel�rio


postado em 03/11/2019 08:33

O que existe em comum entre um ex-padre, uma ex-atendente de McDonald�s, um ex-vendedor de cachorro-quente e um jornalista? � que agora todos eles est�o no mesmo ramo: o de mestre de cerim�nia de vel�rio.

Com uma tradi��o s�lida em pa�ses como os Estados Unidos, a fun��o de cerimonialista f�nebre ainda d� os seus primeiros passos no Brasil. Trata-se, claro, do profissional respons�vel por ler (e escrever) breves palavras sobre a vida de quem est� partindo. O cemit�rio Memorial Parque das Cerejeiras, na zona sul de S�o Paulo, est� trabalhando na forma��o de funcion�rios capazes de preparar esses discursos.

"Contar a hist�ria de uma pessoa � importante para a fam�lia. � uma forma de mostrar que aquela vida teve um prop�sito", diz a terapeuta especialista em luto L�lia Faleiros - respons�vel pelo treinamento dos futuros cerimonialistas no Parque das Cerejeiras. Na prepara��o, al�m da constru��o de textos, os alunos aprendem como se portar, como colocar a voz e a agu�ar a sensibilidade para aquilo que � de bom tom omitir na hora de um discurso.

"A causa da morte e quest�es familiares s�o assuntos que podem ser delicados. � preciso entender o que a fam�lia quer que se torne p�blico", afirma a gerente administrativa do cemit�rio, Patricia Ovchinnikov.

O Parque das Cerejeiras passou agora a oferecer a presen�a de um cerimonialista em seus vel�rios. At� o fim de outubro, o cemit�rio n�o havia definido o pre�o para esse tipo de servi�o. No mercado, um orador f�nebre pode cobrar cach�s que v�o de R$ 150 a R$ 500. Mas o pre�o de cerimoniais mais elaborados, com a presen�a de violinistas, recursos de v�deos e bal�es, pode chegar a R$ 5 mil.

Curso

No treino, Leonardo Calazans dos Santos, de 37 anos, o ex-padre, e Brenda Vit�ria, de 20, a ex-atendente de uma rede de fast-food, tiveram de preparar um discurso sobre a vida de personalidades que j� se foram. Santos falou sobre o cantor Renato Russo (1960 -1996); Brenda discorreu sobre a vida do jornalista Marcelo Rezende (1951-2017).

No treino, os textos foram constru�dos ap�s pesquisas na internet. Mas, quando eles estiverem atuando para valer, as informa��es ser�o colhidas em entrevistas com parentes e os textos ser�o produzidos em poucas horas.

Santos foi seminarista e ordenou-se padre, atuando na Igreja de Nossa Senhora do Carmo. H� tr�s anos e meio, largou a batina depois de se apaixonar. "N�o achei justo que fosse passar pela vida sem vivenciar isso. Ent�o, me apaixonei e casei. Tenho uma filha de 4 meses agora", contou.

Depois de largar a vida celibat�ria, Santos precisou procurar um trabalho. Fez de tudo um pouco at� encontrar sua nova voca��o. Com a expertise de padre, ele tem a postura e o tom de voz necess�rios para a fun��o. "Eu j� preparava os textos das missas. A diferen�a � que como padre eu tinha uma preocupa��o doutrin�ria. Aqui, a ideia � narrar a vida do indiv�duo."

Brenda, que est� sendo preparada para a mesma fun��o, trabalhou em restaurantes e fast-foods da cidade, mas acabou, por influ�ncia da m�e (que foi funcion�ria do Parque das Cerejeiras), entrando neste universo. "Meu marido e amigas t�m medo desse ambiente. N�o entendem muito o meu trabalho. Eu lido com a morte da melhor maneira poss�vel. A luta � mostrar que uma mulher jovem pode, sim, fazer essa fun��o."

No sul do Pa�s � mais f�cil encontrar esse tipo de orador. Douglas J�lio Dias, de 39 anos, come�ou como jornalista, mas, ao fazer uma reportagem sobre o tema, interessou-se pela arte da cerim�nia f�nebre. "Gosto de pensar que continuo atuando como rep�rter. Entrevisto pessoas, pergunto sobre a vida do falecido", disse. Um dos seus discursos favoritos foi sobre uma senhora que gostava de tricotar. "Perguntei aos presentes quantos naquele recinto j� n�o tinham usado roupas tricotadas pela falecida", recordou. "Outro exemplo emocionante foi no vel�rio de um pai muito severo, rigoroso com os filhos. Na ocasi�o, comecei dizendo que ele amava muito seus semelhantes e filhos, mas amava � maneira dele."

Dias contou que o mais dif�cil � entrevistar fam�lias que est�o em lit�gio ou brigando por heran�a. Tamb�m disse que quase apanhou em um vel�rio ao confundir o nome da mulher com o da ex-mulher do falecido.

Jonas Zanzini, de 60 anos, � um dos cerimonialistas de luto mais experientes do Pa�s. Ele, inclusive, tem um curso online. "� preciso lembrar que voc� est� falando para celebrar a vida de uma pessoa. N�o est� l� para celebrar a morte."

Zanzini nasceu em S�o Paulo, tentou carreira como jogador de futebol, mas teve sucesso como vendedor de cachorro-quente em meados dos anos 1990, quando chegava a faturar cerca de R$ 10 mil por m�s. Por problemas familiares, decidiu deixar a cidade e partir para Curitiba - onde trabalhou na funer�ria de um amigo, vendendo planos funer�rios.

Um dia, assistindo a um vel�rio, achou tudo frio e impessoal. "Foi quando decidi falar em um sepultamento de uma professora. Horas depois, recebi v�rios agradecimentos e convites para repetir o feito em outras cerim�nias."

Zanzini disse que um bom discurso de luto pode ter um car�ter religioso, mas precisa ser discreto. Para ele, colocar-se no lugar dos parentes que acabaram de perder um ente querido � fundamental. O �nico pecado mortal da profiss�o � trocar o nome do defunto. "No come�o da minha carreira, eu fiz isso. � algo constrangedor." As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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