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Estado de Minas GERAL

Claudia Costin: 'Preconceitos de g�nero devem ser combatidos'


postado em 10/11/2019 09:17

Ministra de Fernando Henrique Cardoso, secret�ria estadual em S�o Paulo e uma das vozes mais respeitadas quando se fala em educa��o no Pa�s, Claudia Costin garante que um bom sistema educacional incorpora a discuss�o de g�nero, que ficou de fora da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). "Os preconceitos de g�nero podem e devem ser combatidos na escola", diz Claudia, que dirige o Centro de Excel�ncia e Inova��o em Pol�ticas Educacionais da Funda��o Getulio Vargas.

Promover esse debate ajudaria a evitar a gravidez na adolesc�ncia e suas consequ�ncias: evas�o escolar, casamento precoce e vulnerabilidade social. "A menina que se mant�m na escola constr�i um caminho profissional que garante autonomia", explica. "Logo, fica menos sujeita a aceitar uma rela��o agressiva."

Claudia v� risco em unificar os gastos m�nimos de sa�de e educa��o, como o governo federal prop�s no dia 5 de novembro. De acordo com ela, a educa��o seria a mais prejudicada. "Ningu�m morre de falta de educa��o. N�o imediatamente", afirma. "A gente perde sa�de por falta de educa��o, aumenta a taxa de fertilidade e cria subprodutos que promovem um menor desenvolvimento."

Confira, abaixo, os principais trechos da entrevista:

Pesquisas mostram que os preconceitos de g�nero da sociedade acabam sendo reproduzidos em sala. � papel da escola impedir que isso ocorra?

Os preconceitos de g�nero podem e devem ser combatidos na escola. Hoje, existe cuidado inclusive na escolha dos livros did�ticos, para verificar se as imagens que est�o ali n�o reproduzem preconceitos existentes na sociedade. Bons sistemas educacionais incorporam essas discuss�es. Tanto sobre os desafios da mulher quanto sobre diversidade. N�o apresentar essas quest�es tira a possibilidade de a crian�a entender o que v� nos meios de comunica��o e na rua. Infelizmente, nos debates sobre a BNCC, esse tipo de orienta��o foi retirado para n�o constranger determinados grupos religiosos.

Quais seriam os efeitos de essa discuss�o ser feita na escola?

A grande vantagem de tratar o assunto na escola, de uma maneira mais cient�fica, � poder desarmar preconceitos, permitindo que se viva de forma menos agressiva as rela��es interpessoais. Tudo o que � diferente causa um certo medo na crian�a e no adolescente. E o medo, muitas vezes, gera agressividade. Mostrar o que a ci�ncia diz sobre g�nero pode ser uma maneira de desarmar a viol�ncia e construir uma conviv�ncia pac�fica.

A redu��o dos �ndices de gravidez na adolesc�ncia tamb�m pode ser uma consequ�ncia positiva do debate?

Sim. Algumas fam�lias t�m o preparo necess�rio e at� preferem discutir essas quest�es. Mas isso n�o invalida que a escola fale do aparelho reprodutor da mesma maneira que fala do digestivo. Faz parte do curr�culo de ci�ncias dar as informa��es para se evitar gravidez precoce. Quando se permite que medos e temores sejam verbalizados e possam ser endere�ados, voc� prepara essa adolescente para retardar a gravidez ou o casamento. Ambos levam � evas�o. Se houver o abandono, as chances de empregabilidade e a possibilidade de a garota se realizar no futuro tendem a diminuir.

H� diferen�a entre a evas�o escolar de meninos e meninas?

O menino sai da escola por uma s�rie de raz�es. Todo mundo desconfia que � para trabalhar. N�o, n�o �. Pesquisas mostram que eles saem porque acham a escola desinteressante. O menino n�o v� sentido no que est� aprendendo ou foi acumulando fragilidades ao longo da sua escolaridade. Mas os garotos tamb�m saem da escola porque descobrem que podem ganhar prest�gio se trabalharem para o tr�fico ou para grupos de mil�cia. Ele ganha mais dinheiro e prest�gio.

E o que ocorre com as meninas?

Temos de olhar para algumas quest�es s�rias, como a gravidez e o casamento precoce. Mas tamb�m � necess�rio dar aten��o para algo de que se fala menos: o trabalho de cuidar dos irm�os mais jovens. Quando a m�e sai para trabalhar, muitas meninas acabam se dividindo entre a escola e a rotina com os irm�os. Isso atrapalha muito.

H� uma correla��o entre evas�o escolar de meninas e aumento da viol�ncia contra a mulher?

A menina que consegue se manter na escola constr�i um caminho profissional que garante autonomia, inclusive financeira. Logo, ela fica menos sujeita a aceitar uma rela��o agressiva, uma rela��o que a fa�a sofrer. Infelizmente, por uma quest�o at� de sobreviv�ncia econ�mica, muitas mulheres no passado tiveram de aguentar um casamento infeliz ou violento.

Acabar com a evas�o escolar requer uma pol�tica p�blica espec�fica?

Uma pol�tica importante � a educa��o em turno �nico com sete horas de aula, como fazem pa�ses que t�m bons sistemas educacionais. O Brasil, infelizmente, tem aulas de manh� e � tarde. Ter um turno �nico com crian�as e adolescentes estudando no mesmo hor�rio libera os pais para trabalhar e permite que os adolescentes tenham um aprendizado mais aprofundado.

O atual governo tem um projeto consolidado para a educa��o?

O Brasil teve a sorte grande de construir a BNCC antes desse governo. E a etapa que estamos vivendo hoje � de tradu��o dessa base em curr�culos estaduais e municipais. Em certo sentido, os Estados, o Conselho Nacional de Secret�rios de Educa��o e a Uni�o dos Dirigentes Municipais de Educa��o est�o assumindo protagonismo no processo de garantir as condi��es de aprendizado. Assim como o Conselho Nacional de Educa��o, ao revisar as diretrizes para doc�ncia. Continuamos trabalhando pelo futuro.

Como avalia a unifica��o dos pisos m�nimos de gastos com sa�de e educa��o, prevista na Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do Pacto Federativo?

A ideia de descentralizar � positiva. Mas juntar educa��o e sa�de em um pacote e acabar desvinculando a obriga��o constitucional que existe hoje � um risco tremendo. Os pa�ses que t�m bons sistemas educacionais enfatizaram a �rea mesmo em per�odos de crise fiscal. Ningu�m morre de falta de educa��o. N�o imediatamente. A gente perde sa�de por falta de educa��o, aumenta taxa de fertilidade da mulher e cria outros subprodutos que acabam promovendo um menor desenvolvimento. Como a emerg�ncia imediata � da sa�de, os governantes ter�o a tend�ncia de aumentar o gasto em sa�de e diminuir de forma importante os gastos em educa��o.

A senhora disse que a ideia de descentralizar n�o � ruim. Por qu�?

Alguma descentraliza��o dos gastos precisa ocorrer, mas � preciso criar um sistema nacional de educa��o, como existe na sa�de. N�s dever�amos fazer o Sistema �nico de Sa�de (SUS) da educa��o, cabendo ao governo um papel de coordena��o e articula��o.

O MEC (Minist�rio da Educa��o) anunciou o programa Educa��o em Pr�tica, cuja proposta � aumentar a nota de universidades particulares que oferecerem espa�os ociosos para escolas p�blicas. Qual a opini�o da senhora?

Isso pode mascarar a inefici�ncia do ensino superior. Poderia haver duas notas: uma de apoio e outra com o desempenho da universidade em ensino e em pesquisa. A USP (Universidade de S�o Paulo) desenvolve projetos com o ensino m�dio e, �s vezes, at� com o fundamental 2 (do 6.� ao 9.� ano) de escolas p�blicas. � uma medida positiva que vai ao encontro do que se faz no mundo. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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