
O rabino Henry Sobel, de 75 anos, morreu na manh� de ontem, em Miami, nos Estados Unidos. Rabino em�rito da Congrega��o Israelita Paulista (CIP), Sobel destacou-se como uma “voz firme em defesa dos direitos humanos no Brasil”, como destaca nota divulgada pela fam�lia. Sobel morreu em decorr�ncia de complica��es causadas por um c�ncer no pulm�o. O sepultamento ser� realizado amanh�, no Woodbridge Memorial Gardens, em Nova Jersey.
O rabino teve forte atua��o na ditadura militar pelo esclarecimento da morte de Vladimir Herzog, n�o aceitando a vers�o oficial de que o jornalista teria cometido suic�dio e autorizando que o ex-diretor da TV Cultura fosse sepultado no Cemit�rio Israelita do Butant�, seguindo os ritos judaicos. Junto a dom Paulo Evaristo Arns e ao reverendo James Wright, Sobel celebrou um of�cio inter-religioso em homenagem ao jornalista, de origem judia, em 23 de outubro de 1975.
Nos seus primeiros anos no Brasil, Sobel era visto como uma autoridade religiosa: dava entrevistas para explicar elementos do juda�smo, fazia cerim�nias �s v�timas do nazismo, entre outras atividades. Sobel, no entanto, se tornou tamb�m uma autoridade e uma voz firme em defesa dos direitos humanos no pa�s durante a ditadura militar. “Com todas as manchas, eu vi, com meus olhos, foi esta vis�o que eu levei para a frente quando conversei com tr�s militares e tamb�m no culto ecum�nico, ecoando as palavras do cardeal de S�o Paulo. A coragem foi de dom Paulo. N�o minha. Dom Paulo disse ele foi morto, ele foi assassinado. Eu disse ‘eu concordo com o senhor’”, lembrou Henry Sobel, em entrevista a Serginho Groisman.
Nascido em Lisboa, sua m�e belga e seu pai polon�s chegaram a Portugal fugindo da persegui��o nazista durante a 2.ª Guerra Mundial. Ainda na primeira inf�ncia, a fam�lia de Sobel se estabeleceu em Nova York, onde ele se formou rabino. A partir de 1970, depois de se formar, ele se radicou no Brasil, onde permaneceu por mais de quatro d�cadas.
Mesmo tendo morado no Brasil por bastante tempo, o rabino sempre falou um portugu�s com sotaque americano e era conhecido, tamb�m, por isso. Quando algu�m comentava sobre sua pron�ncia, Sobel brincava, dizendo que falava daquela forma por ter nascido em Portugal, segundo narra o jornalista Caio Blinder em seu livro “Terras prometidas”. “Serei honesto: podia ficar nos EUA. Mas n�o quis ser mais um entre muitos rabinos norte-americanos, servindo entre muitas congrega��es. Aqui, pensei, teria condi��es de criar algo genuinamente meu. Ser um pioneiro, um arquiteto do juda�smo segundo minha maneira de encarar o juda�smo”, disse a Blinder.
Ele chamava essa forma de interpretar a religi�o de “juda�smo interrogativo”. Para Blinder, Sobel resumiu a vertente da seguinte forma: “� necess�rio perguntar, estudar, formular d�vidas e procurar a resposta com o juda�smo”. Sobel e dom Paulo passaram a aparecer em conjunto em outros momentos em que era convocada a participa��o institucional de l�deres religiosos, em ocasi�es como a P�scoa. Em 1978, os dois redigiram juntos uma nota que condenava a invas�o de Israel ao L�bano.
“Como h� dois dias, protestamos contra a viol�ncia de um ataque palestino que ceifou vidas de inocentes em Israel, hoje lan�amos, com a mesma veem�ncia, o protesto contra os ataques de Israel que custaram vidas t�o preciosas no L�bano”, escreveram os dois, de acordo com uma reportagem da Folha de S.Paulo de 17 de mar�o de 1978.
Quando dom Paulo morreu, em dezembro de 2016, Sobel falou ao jornal O Estado de S.Paulo: “Dom Paulo era meu amigo. Passamos momentos incr�veis juntos. Ele era um grande liberal: um disc�pulo e descendente dos profetas de Israel. Sentirei a sua falta. A igreja, a Sinagoga, o Mundo est� de luto."