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Estado de Minas GERAL

Baile funk vira �fluxo� na rua e movimenta economia perif�rica


postado em 08/12/2019 15:00

Quem comanda a m�sica geralmente s�o donos de carros equipados com aparelhagem de som de at� R$ 30 mil, que se espalham pelas ruas. Eles s�o pagos pelos comerciantes da comunidade, que lucram com bebida, lanche e at� acesso a banheiro. Chamado de "fluxo", o pancad�o de rua virou op��o para o morador de comunidade ou jovem de periferia. Como a grana encurtou na crise, o auge do baile funk - em sal�o, com entrada paga e MC - teve fim em meados de 2012. Foi o fluxo da DZ7 (nome pelo qual � conhecida a rua das festas em Parais�polis) que reuniu cinco mil pessoas no domingo passado - e nove morreram ap�s a��o policial.

Normalmente, o fluxo acontece de quinta a domingo, a partir das 23 horas, em uma rua de com�rcio da periferia ou de comunidades - principalmente aquelas com bares e tabacarias (que s�o, na verdade, casas de narguil�). H� alguns anos, o principal meio de divulga��o desses eventos era o Facebook. Mas as p�ginas, que existem at� hoje, ficaram visadas pela pol�cia. Agora, a comunica��o ocorre mais pelos stories do Instagram (dispon�veis s� por 24 horas). WhatsApp e boca a boca tamb�m funcionam.

Algumas dessas festas atraem grande p�blico, mesmo sem divulga��o pr�via. Elas come�am com pequenos grupos ao redor de um carro (com aparelhagem de som) ou na frente de um com�rcio (com um "pared�o" de som). Logo, esses frequentadores come�am a "espalhar" a festa por meio de suas redes sociais. N�o demora e ela cresce, transformando-se em um fluxo. Anivers�rios e quermesses podem acabar virando fluxo tamb�m.

"N�o tem ingresso, nenhum gasto obrigat�rio. O jovem com R$ 10 ou R$ 15 no bolso consegue se divertir. � um dos fatores do sucesso do fluxo. Al�m disso, faltam op��es de lazer nas comunidades", contou Renato Barreiros, autor do document�rio Funk Ostenta��o. O p�blico do fluxo � formado por jovens de 15 a 25 anos. E a aglomera��o vem de todos os lados. N�o h� espa�o para carros circularem.

O mais comum � encontrar motos no meio do fluxo. Ali�s, aceler�-las � parte da ostenta��o. A m�sica n�o vem de um s� ponto. N�o � raro que dois ou tr�s carros estejam com o som no m�ximo - nem sempre tocando a mesma m�sica. Tamb�m n�o � s� funk. Alguns com�rcios, com p�blico mais velho, podem tocar forr�, sertanejo e at� Roberto Carlos.

Rendimentos

Os respons�veis pela festa normalmente s�o os donos dos carros com aparelhagem de som - eles gastam entre R$ 20 mil e R$ 30 mil para instalar um potente equipamento. Quem faz isso profissionalmente costuma cobrar at� R$ 400 por festa. Como elas acontecem de quinta a domingo, os rendimentos podem chegar a R$ 1,6 mil por semana. Quem tem equipamentos mais potentes, os "pared�es", pode cobrar mais.

E quem paga os donos dos equipamentos s�o os comerciantes. O movimento de uma noite de fluxo � compensador. Portanto, tem quem ganhe dinheiro vendendo cerveja, cachorro-quente, tortas e at� o direito de usar o banheiro. O "fluxo" tamb�m movimenta o mercado da beleza. Cabeleireiras, barbeiros e at� vendedores de roupas faturam. Ou seja, o fluxo, al�m de proporcionar lazer, movimenta a economia local. Algumas das pessoas ouvidas pelo Estado, que preferiram n�o se identificar, foram indagadas sobre a atua��o do tr�fico de drogas. As respostas foram parecidas. "Se existe? Existe, mas como em qualquer outra festa com muita gente. As drogas n�o s�o o foco principal de quem est� l�", disse um frequentador.

E nem s� de "profissionais" se alimenta esse tipo de festa. "Ela � espont�nea. �s vezes, o dono do carro abre o porta-malas e liga o som sem nenhum pagamento. Dentro de uma comunidade, isso � muito mais uma quest�o de status", disse Gilson Rodrigues, presidente da Uni�o de Moradores e Comerciantes de Parais�polis.

Forasteiros

Como os bailes de fluxo acontecem, normalmente, dentro de comunidades, � comum que muitos frequentadores se conhe�am. S�o vizinhos, parentes, amigos. Esse � um dos motivos para um n�mero inferior de brigas em rela��o aos bailes de sal�o. "As brigas acontecem mais com adolescentes que saem do Morumbi ou de algum bairro nobre. Eles bebem e n�o respeitam as mulheres", disse a coordenadora do projeto Funk SP, Lilian Santiago Freitas de Lima - a iniciativa foi interrompida pela atual administra��o municipal.

Jovens de classe m�dia tamb�m v�o aos bailes funk, mas s�o frequentadores residuais. "Gosto da m�sica. � mais animado do que uma balada normal. Se voc� n�o � folgado com ningu�m, n�o tem problema", disse um jovem de 17 anos, morador da Barra Funda. "Droga tem em todo lugar. J� fui em festa em bairro nobre com muito mais droga e confus�o", falou uma garota de 19 anos que mora na regi�o do Butant�. Pelo menos uma vez, esses jovens foram aos bailes sem o conhecimento dos pais - e preferiram n�o se identificar para evitar problemas em casa.

Quando a pol�cia chega, o clima muda. "Quando chegam � para jogar bomba ou fazer coisas piores", disse um frequentador. Muitas vezes, o som � desligado e as festas se mudam para outras ruas. "Tratam todos como bandidos. Os policiais n�o est�o atendendo reclama��o de vizinhan�a, mas est�o l� para nos tratar como bandidos."

Vizinhos relatam noite em claro e som insuport�vel

Quem detesta pancad�o tem medo de repres�lias se reclamar. Relatos falam em som "insuport�vel" e idosos que "passam quatro noites sem dormir por causa do barulho".

O tr�fico de drogas e a prostitui��o s�o outros dois fatores citados por aqueles moradores de comunidade que prefeririam que o fluxo n�o existisse. "S� quem gosta � quem ganha dinheiro com a bagun�a. Ou seja, quem vende bebida ou drogas", falou um morador do Jardim Colombo, na zona oeste paulistana, que preferiu n�o se identificar.

"Eu acordo muito cedo para ir trabalhar. Minha casa fica muito na frente de um baile. Eles n�o respeitam ningu�m. N�o me deixam dormir. At� arrumei outro lugar para deixar minha moto - j� que n�o consigo sair com ela. Meu port�o fica totalmente bloqueado", contou outro morador do Jardim Colombo.

Para um morador de Parais�polis, al�m do barulho, a impossibilidade de as ambul�ncias do Samu circularem durante o fluxo e a sujeira que fica nas vielas depois das festas s�o os fatores que mais incomodam a comunidade. "S�o problemas que qualquer pessoa teria em qualquer bairro da cidade. Morador de comunidade tamb�m quer sossego", disse. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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