No Rio, quatro idosos morrem por bala perdida em um m�s

Primeiro foi Sandra, que ia buscar o neto no col�gio. Depois, ainda em dezembro de 2019, Maria, no meio da rua. J� neste ano foi a vez de Adenir, no caminho para a padaria. No dia seguinte Lisete, no quintal de casa. Em comum, todos t�m mais de 60 anos e morreram por bala perdida em um m�s em S�o Gon�alo, regi�o metropolitana do Rio. Em tr�s dos casos, testemunhas relatam confrontos entre policiais e bandidos.

Na Grande Rio, 41 idosos foram baleados em 2019, dos quais 24 morreram, diz a plataforma Fogo Cruzado, laborat�rio de dados sobre viol�ncia. Em S�o Gon�alo, sete das nove v�timas foram por bala perdida.

Mortes de idosos por arma de fogo surpreendem por serem mais raras. Tiros causam quase 40% das mortes de adolescentes de 15 a 19 anos e 32% das mortes de jovens de 20 a 29 anos no Pa�s. A taxa cai para 0,1% entre idosos, mais afligidos por doen�as cardiovasculares, neurol�gicas ou c�ncer.

No dia 5, Lisete Pereira, de 78 anos, cochilava em casa, quando acordou com o barulho de tiros - a pol�cia fazia opera��o em um morro pr�ximo. Foi ao quintal, onde foi atingida. Deixou tr�s filhos, tr�s netos e oito bisnetos. "A gente n�o pode viver mais na rua. Em casa, tamb�m n�o pode. Vamos viver onde? O Rio est� entregue �s baratas", disse o irm�o de Lisete, Romildo, � imprensa no enterro.

Um m�s antes, Sandra Gomes, de 61 anos, percorria os 800 metros que separam sua casa da escola do neto quando se deparou com uma opera��o da PM. Segundo testemunhas, ela tentou se esconder da troca de disparos entre agentes e bandidos, mas foi atingida na nuca.

No dia 16, Maria dos Rem�dios, de 65 anos, estava na rua quando a PM foi acionada para conter roubos de uma dupla na regi�o. Policiais perseguiram os suspeitos, que revidaram. A corpora��o nega ter disparado.

"Em geral, idosos saem menos de casa, se envolvem menos em conflitos e n�o costumam reagir a assaltos", diz Ignacio Cano, professor da UERJ. "Isso refor�a o temor do carioca de que pode ser qualquer um e vir de qualquer parte."

Al�m da bala perdida, h� idosos em outros tipos de homic�dio em S�o Gon�alo. Na sexta, um homem atirou em H�lio Rangel, de 67 anos, que estava de moto no bairro Jardim Catarina, o mesmo de Maria e Sandra. O caso � apurado. Para Isabel Macdowell Couto, do Fogo Cruzado, � preciso tornar a cidade, que tamb�m lidera em mortes pela PM, "uma das prioridades" na pol�tica de seguran�a.

Pol�cia

Em nota, a PM disse que as opera��es "s�o precedidas de planejamento e de informa��es de intelig�ncia, com a preocupa��o de preservar vidas, tanto de policiais como de moradores." Segundo a corpora��o, os confrontos s�o "op��o" dos bandidos e h� uma tend�ncia de queda nas mortes pela pol�cia, observada desde julho. Sobre os dados do Fogo Cruzado, disse que s� comenta balan�os oficiais. (Com colabora��o de Fabio Grellet e Priscila Mengue)