Os animais foram divididos em dois grupos. Catorze deles passaram por um processo de aclimata��o em um cercado dentro do parque, durante os �ltimos seis meses. Nesse per�odo os pesquisadores acompanharam dados como padr�es e h�bitos de alimenta��o, comportamento e deslocamento. Outros 14 animais da mesma esp�cie foram soltos sem passar pelo per�odo de aclimata��o. Eles foram direto do Centro de Triagem de Animais Silvestres do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renov�veis (Ibama) no Rio de Janeiro para a floresta.
Segundo Marcelo Rheingantz, bi�logo da UFRJ e pesquisador do Refauna, os dois grupos foram soltos ao mesmo tempo para que os animais sejam comparados e os pesquisadores concluam qual � a melhor forma de reintrodu��o. "� a primeira vez que estamos reintroduzindo o jabuti-tinga no Parque Nacional da Tijuca, e n�o h� registros de reintrodu��o dessa esp�cie no Brasil em locais onde deixaram de existir, como o parque. Por isso, estamos avaliando se a aclimata��o influencia a sobreviv�ncia, para subsidiar futuras reintrodu��es de popula��es desses animais, j� que, no total, pretendemos devolver para a natureza cerca de 60 jabutis. Vamos liberar mais um grupo no per�odo seco e comparar com a sobreviv�ncia deste (liberado em per�odo chuvoso). Nosso objetivo � avaliar se a esta��o do ano tamb�m influencia na sobreviv�ncia. Isso vai subsidiar a constru��o de um guia para transloca��es de jabutis em ambientes florestais", disse o bi�logo.
A presen�a de jabutis-tinga no Parque Nacional da Tijuca � importante porque eles s�o bons dispersores de sementes, em especial sementes grandes, segundo os bi�logos. O trabalho de jardinagem e de distribuir sementes � importante na persist�ncia de esp�cies de plantas nativas que comp�em a flora do parque. Al�m de dispersarem sementes, os jabutis tamb�m comem e pisoteiam plantas que poderiam se tornar pragas, auxiliando no controle de suas popula��es e no favorecimento da diversidade vegetal.
Os jabutis j� foram abundantes na mata atl�ntica, e acabaram dizimados por fatores como a ca�a e o desmatamento. Por isso, as equipes do Parque Nacional da Tijuca e do Refauna pedem que os visitantes do parque n�o mexam com esses animais, n�o levem outros jabutis da mesma esp�cie ou de esp�cies diferentes para interagir com eles e trafeguem dentro da velocidade permitida nas vias internas ou que circundam o parque, permitindo que esses bichos atravessem tranquilamente as vias. Os visitantes tamb�m s�o orientados a nunca alimentar animais silvestres.
Al�m dos jabutis-tinga, j� foram reintroduzidos no Parque Nacional da Tijuca, por meio do Refauna, cutias (a partir de 2010) e bugios (a partir de 2015). As cutias s�o excelentes dispersoras de sementes e os �nicos animais capazes de enterrar sementes da esp�cie de �rvore conhecida como cutieira, exatamente pela associa��o com esses animais. Em �reas sem cutias, as sementes permanecem intocadas no ch�o at� apodrecerem.
J� os bugios, que tamb�m s�o herb�voros e dispersam sementes, s�o capazes de lev�-las a longas dist�ncias, al�m de manter uma rela��o bastante curiosa com besouros rola-bosta. Esses besouros fazem pequenas bolas com as fezes dos bugios e, enquanto fazem isso, levam e enterram as sementes, favorecendo sua germina��o.
Refauna
O Parque Nacional da Tijuca, al�m de ser a casa para onde os animais s�o reintegrados, � tamb�m onde o Refauna foi idealizado. Em 2008, uma servidora aposentada do Instituto Chico Mendes de Conserva��o da Biodiversidade (ICMBio), Ivandy Castro, notou a aus�ncia de cutias no parque e sugeriu a Alexandra dos Santos Pires e Fernando Fernandez a sua reintrodu��o. Assim come�ou o projeto, uma iniciativa de pesquisadores do Laborat�rio de Ecologia e Conserva��o de Popula��es da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LECP-UFRJ), do Laborat�rio de Ecologia e Conserva��o de Florestas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (LECF-UFRRJ) e do Laborat�rio de Ecologia e Manejo de Animais Silvestres do Instituto Federal do Rio de Janeiro (Lemas-IFRJ), com parcerias e conv�nios com v�rias entidades.