
"Estamos vendo a ponta de um grande iceberg", afirmou o epidemiologista Roberto Medronho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que n�o participou do estudo, mas analisou os dados a pedido da reportagem. "As minhas estimativas eram bem similares, cerca de 10%, mas isso n�o �, necessariamente, uma falha do sistema."
Isso acontece, segundo especialistas, porque a grande maioria (cerca de 80%) dos casos da infec��o pelo novo coronav�rus � assintom�tica ou apresenta sintomas muito leves e acaba n�o sendo diagnosticada. Atualmente, no Brasil, apenas os casos mais graves, que chegam aos hospitais e s�o testados, est�o recebendo o diagn�stico oficial.
"Dentre os casos que apresentam sintomas, apenas uma parte procura o sistema de sa�de", explicou Medronho. "Desses que v�o ao hospital, apenas parte � diagnosticada como covid-19 e outra parte pode receber um diagn�stico errado. E ainda tem casos que n�o s�o notificados oficialmente."
O mesmo estudo mostra que na It�lia, que enfrenta uma das piores epidemias, o percentual de casos diagnosticados corresponderia a apenas 4,6% do total real. N�mero parecido com o da Espanha, 5,3%. Fran�a e B�lgica t�m percentuais similares ao do Brasil, respectivamente 9,2% e 12%.
Por outro lado, nos pa�ses que tiveram resultados melhores na conten��o da epidemia, como a Coreia do Sul e a Alemanha, os percentuais de casos diagnosticados seriam bem mais pr�ximos do n�mero real, respectivamente 88% e 75%. Isso ocorre porque esses pa�ses tiveram condi��es de testar a grande maioria de sua popula��o - mesmo a que n�o apresentava sintomas - isolando imediatamente todos aqueles cujo teste deu positivo.
Por isso a Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS) insiste que a testagem em massa � fundamental. O problema � que n�o h� testes dispon�veis na escala que seria necess�rio para o Brasil, com 210 milh�es de habitantes. "Esse levantamento mostra que a estrat�gia de testagem em massa e isolamento daqueles que testam positivo tem um grande impacto na redu��o da curva de crescimento da doen�a", explicou Medronho. "A redu��o da subnotifica��o � importante e � crucial que o minist�rio esteja se adequando a essa diretriz, e aumentando a testagem."
Embora o estudo tenha sido feito por uma das mais respeitadas institui��es cient�ficas do mundo, ele n�o foi ainda publicado em uma revista cient�fica, o que significa que tamb�m n�o foi revisado por outros especialistas. Esse procedimento � aceit�vel em um momento de pandemia, em que a rapidez na divulga��o de informa��es como essa pode ser importante para elaborar e aprimorar pol�ticas p�blicas.
