Richard dorme ao lado de mais de mil homens todas as noites no albergue Arsenal da Esperan�a, o maior centro de acolhimento de S�o Paulo, na zona leste. Dividindo espa�o com moradores de rua em beliches a um metro de dist�ncia uma da outra, o homem, de 30 anos, sente medo de a aglomera��o de pessoas no local virar um foco de dissemina��o do coronav�rus.
"Os abrigos t�m pouca ventila��o e quartos grandes com exaustores ligados a noite toda... fica batendo vento e quem tem complica��o respirat�ria sempre come�a a tossir e espirrar", relata.
Assim como Richard, grande parte das mais de 24,3 mil pessoas em situa��o de rua da cidade n�o tem onde se abrigar com seguran�a.
Dados do �ltimo Censo da Popula��o em Situa��o de Rua de S�o Paulo apontam que 11,7 mil delas dormiram em centros de acolhida em 2019.
Maycon, de 34 anos, dorme no mesmo abrigo h� mais de um ano e conta que ele e colegas n�o receberam amparo suficiente. "(N�o est�o oferecendo) m�scara, �lcool gel (para levar para fora do albergue, j� que n�o podem passar o dia dentro da unidade) e fecham completamente parques e locais p�blicos onde a gente poderia se abrigar sem ficar amontoados."
No Centro Tempor�rio de Acolhimento (CTA) da Mooca, funcion�rios disseram ao jornal O Estado de S. Paulo que a �nica recomenda��o que haviam recebido at� quinta era de que servidores deveriam usar m�scaras e os moradores de rua entrariam no local em pequenos grupos para fazer a triagem, reduzindo o contato. Assistentes sociais disseram que est�o com pontos de �lcool gel dentro das unidades, pedindo para todos lavarem as m�os com frequ�ncia e voltarem para a casa de parentes, se poss�vel. Relataram ainda que m�scaras est�o sendo distribu�das.
O Minist�rio P�blico de S�o Paulo recomendou � Secretaria de Assist�ncia e Desenvolvimento Social (Smads) da Prefeitura, na segunda, medidas para ampliar a preven��o, como obras emergenciais para refor�ar a ventila��o natural dos dormit�rios. Ao todo, o munic�pio conta com 89 centros de acolhimento, totalizando 17,2 mil vagas. A Smads informou que "prestar� os esclarecimentos".
Pias ser�o instaladas no centro da cidade, onde se concentra o maior n�mero de pessoas nesta situa��o para que possam fazer higieniza��o. Ao jornal O Estado de S. Paulo, o governador Jo�o Doria (PSDB) disse que n�o faltar� assist�ncia. "N�o seremos omissos nem levianos com a popula��o de rua e estaremos ao lado das prefeituras no acolhimento de quem mais precisa."
Solid�o
O problema se repete em Bras�lia. Na rodovi�ria da capital federal, a tr�s quil�metros do Pal�cio do Planalto, onde o presidente Jair Bolsonaro abra�ou pessoas uma semana atr�s, o morador de rua Rubens da Silva, de 53 anos, afirma que est� com medo da doen�a, mas que v� riscos de, antes, morrer de fome. "A gente fica com medo. Mas para mim, a tristeza mesmo � n�o ter o que comer. Eles fecharam tudo. A gente t� ficando sozinho na rua."
Sem abrigo para todos, em muitas situa��es essas pessoas preferem seguir nas ruas. "Eu prefiro a rodovi�ria, melhor que ficar no albergue. Aqui tem luz, tem c�mera filmando a gente, � menos perigoso", diz Marlon Alves, de 45 anos.
Em Bras�lia, o governo come�ou a catalogar a popula��o em situa��o de rua - foram identificados, at� o momento, 1.851 cidad�os.
Os idosos s�o prioridade. A primeira medida tomada foi verificar a exist�ncia de algum v�nculo familiar ou comunit�rio, para que o idoso retorne � fam�lia de origem. Se n�o houver, a pessoa ser� encaminhada para uma unidade de acolhimento. Um servi�o especializado em abordagem social tem procurado informar as pessoas sobre os riscos da doen�a e distribu�do m�scaras.
Na Esplanada dos Minist�rios, sentado em uma cal�ada, Marlon Alves ajusta uma m�scara suja de fuligem em seu rosto. "Falaram para eu usar. Vai ficar tudo bem. N�o tenho medo, n�o." As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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