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Estado de Minas GERAL

Por que isolamento vertical � visto com ceticismo?


postado em 30/03/2020 07:32

Defendido pelo presidente Jair Bolsonaro, o chamado "isolamento vertical" da popula��o � uma teoria minorit�ria entre cientistas e vista com ceticismo pela comunidade m�dica. Consiste na separa��o daqueles que est�o no grupo de risco � exposi��o ao v�rus, como maiores de 60 anos e portadores de doen�as cr�nicas.

A ideia � que os demais voltassem a circular para movimentar a economia. A teoria foi veiculada pelo diretor do Centro de Pesquisa em Preven��o Yale-Griffin, David L. Katz, em artigo no jornal The New York Times. Katz menciona a estrat�gia de "imunidade de rebanho", que consistiria em expor a maior parte da popula��o, jovens sobretudo, ao v�rus. Ele cita os dados da Coreia do Sul, que indicam que 99% dos casos de coronav�rus s�o leves e n�o ensejam tratamento m�dico espec�fico. "As mortes est�o principalmente agrupadas entre idosos, aqueles com doen�as cr�nicas como diabete e doen�as do cora��o, e os que est�o em ambos os grupos", escreve Katz.

Uma das cr�ticas a essa premissa � sustentada nas avalia��es de que, se o sistema de sa�de n�o der conta de atender os infectados, mesmo casos que teriam boa chance de recupera��o podem correr risco de morte. O distanciamento social extremo � defendido pela corrente majorit�ria de cientistas e especialistas de sa�de. A ideia � que as infec��es n�o ocorram todas em um curto per�odo de tempo. Assim, as chances de conseguir tratar os infectados � muito maior. A estrat�gia tamb�m � usada para ganhar tempo, enquanto especialistas testam medicamentos e desenvolvem formas de confirmar quem est� imune.

H� cerca de dez dias, o Reino Unido, que vinha tentando a estrat�gia da "imunidade de rebanho", decidiu recuar e adotar a t�tica do isolamento para toda a popula��o e n�o apenas grupos vulner�veis. Foi um estudo do Imperial College de Londres que fez o governo mudar de estrat�gia ao mostrar o impacto da doen�a sobre o sistema p�blico de sa�de. O estudo apontou que, se o Reino Unido n�o mudasse, 250 mil morreriam.

Os dados do Imperial College de Londres tamb�m tem sido acompanhados pela Casa Branca. No dia 16, depois de minimizar por quase um m�s a gravidade da dissemina��o do coronav�rus no pa�s, o presidente americano, Donald Trump, mudou de tom e passou a orientar o distanciamento social extremo.

Nos �ltimos dias, ele voltou a dizer que o pa�s precisa ser reaberto em breve e citou a P�scoa, em 12 de abril. Trechos do v�deo com essa fala do americano foram veiculados por apoiadores de Bolsonaro no Brasil, como um suposto sinal de que os americanos relaxar�o as medidas. Ap�s ser criticado, Trump recuou e disse que a data para reabrir o pa�s � apenas uma sugest�o, mas que o fim do isolamento social n�o acontecer� sem respaldo dos cientistas. Anteontem, Trump afirmou que cogita estabelecer quarentena oficial para Estados como Nova York (onde est� a maioria dos casos), New Jersey e Connecticut.

David Katz afirma que o desemprego e a pobreza que resultar�o da pol�tica de distanciamento social maci�a ser�o tamb�m um problema de sa�de p�blica. Economistas como Jos� Alexandre Scheinkman, professor da Universidade de Columbia e em�rito de Princeton, t�m alertado no entanto para o fato de que as proje��es de quantas vidas seriam perdidas com as infec��es do coronav�rus em caso de colapso do sistema tamb�m ter�o impacto negativo.

"E h� outro custo, o de pessoas que ficariam sem produzir por tempo longo, h� casos de jovens ficando at� um m�s em centro de tratamento intensivo. Essa ideia de que os jovens est�o sobrevivendo tem a ver com o fato de que at� agora os sistemas de sa�de foram capazes de tomar conta deles."

Katz afirma, tamb�m no artigo, que crian�as e adolescentes sem aulas podem estar transmitindo o v�rus para pais e av�s. "Se h� diretrizes claras para comportamento dentro de fam�lias, o que eu chamo de 'interdi��o vertical', eu n�o as vi."

Contrariamente ao que ele sustenta, a maior parte dos pa�ses tem adotado as recomenda��es da Organiza��o Mundial da Sa�de e informando pais sobre a necessidade de ter cuidados extraordin�rios. Nas diretrizes do CDC, nos EUA, por exemplo, a orienta��o � para que se tome "precau��es extras para separar seu filho de pessoas em sua casa que correm risco".

Incerteza

O problema na teoria do isolamento vertical � a incerteza sobre suas consequ�ncias. O epidemiologista John P. A. Ioannidis defendeu em artigo que � preciso ter mais dados confi�veis sobre o coronav�rus, antes de aplicar medidas dr�sticas, como o distanciamento social extremo. H� consenso na comunidade m�dica de que as informa��es s�o incipientes, mas � exatamente por isso que a abordagem adotada na maioria dos pa�ses tem sido a mais cautelosa poss�vel. A Coreia do Sul foi, at� agora, o �nico pa�s que conseguiu fazer teste maci�o da popula��o. Outros, como EUA e Brasil, t�m tido dificuldade em ofertar testes. E especialistas apontam subnotifica��o.

Se por um lado isso indica que a taxa de mortalidade pode ser mais baixa, por outro mostra que h� infectados que, por n�o saberem que possuem o v�rus, podem transmitir para outras pessoas, se continuarem com atividades rotineiras. "Se o coronav�rus infectar 60% da popula��o global e 1% das pessoas infectadas morrerem, isso se traduzir� em mais de 40 milh�es de mortes globalmente, correspondendo � pandemia de 1918. A maioria dessa hecatombe seria formada por pessoas com expectativa de vida limitada. Isso contrasta com 1918, quando muitos jovens morreram. S� podemos esperar que, assim como em 1918, a vida continue", afirma Ioannidis, ao tra�ar o pior cen�rio. A taxa de 1% usada pelo epidemiologista considera os resultados dos passageiros do cruzeiro Diamond Princess, todos testados.

Para Harry Crane, estat�stico da Universidade Rutgers (EUA), a mensagem de Ioannidis pode "atrasar a resposta cr�tica e 'dessensibilizar' o p�blico para os riscos reais". "Para um problema din�mico e complexo, como o coronav�rus, sempre queremos mais informa��o, mas temos de lidar com o que temos. Este n�o � um projeto de pesquisa acad�mica. � vida real, em tempo real. Diante da grave incerteza, n�o podemos adiar a a��o, aguardando mais evid�ncias ou eliminar riscos catastr�ficos sob argumento de que � irracional tomar medidas dr�sticas."

Caso japon�s

O exemplo do Jap�o tem sido usado por Bolsonaro como um dos casos em que n�o foram adotadas medidas extremas. O pa�s, no entanto, h� um m�s fechou escolas e restringiu eventos esportivos que pudessem criar aglomera��o de pessoas em espa�os fechados. As medidas entraram em pr�tica em fevereiro, mas os japoneses continuaram a frequentar lugares lotados, como metr�s e parques.

Cientistas alertam para o risco de o Jap�o ter ocultado a real situa��o, tentando evitar o cancelamento das Olimp�adas de T�quio. A manuten��o do calend�rio esportivo se tornou insustent�vel e, depois do an�ncio de que os jogos ser�o postergados por um ano, as autoridades passaram a admitir que T�quio est� em uma fase cr�tica, "pr�via a uma explos�o da epidemia". Os n�meros de infectados tamb�m passaram a crescer. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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