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Estado de Minas GERAL

Quarentena desenhada


postado em 04/05/2020 07:00

De uma simples garatuja, aquele rabisco que tem a "pretens�o" de desenho, at� verdadeiras historinhas das crian�as um pouco mais velhas. Tristeza, saudade da escola, alegria por n�o estar doente ou medo de perder algu�m para o coronav�rus s�o revelados por meio do projeto Sentimentos no Papel, do Fundo das Na��es Unidas para a Inf�ncia (Unicef). Meninos e meninas de diversas idades e de v�rios lugares do Brasil s�o incentivados a desenhar suas emo��es em tempos de pandemia.

"O novo coronav�rus mudou a rotina das fam�lias e das crian�as, impactando muito seu cotidiano. Neste momento, � fundamental acolh�-las e criar um ambiente em que elas possam expressar seus sentimentos. A campanha surge com este objetivo: estimular as crian�as a contar como est�o se sentindo por meio de desenhos", explica Michael Klaus, chefe de Comunica��o e Parcerias do Unicef no Brasil.

Lucas Fontoura, de 9 anos, morador de Manaus, Amazonas, colocou no papel os diferentes sentimentos que agora fazem parte de seu dia a dia. "Eu tenho v�rias emo��es. � muito confuso. Num dia eu estou triste porque n�o posso sair de casa, n�o posso ver meus amigos. No outro dia estou feliz porque aprendi uma coisa nova. Depois eu fico triste de novo porque penso que pode morrer algu�m pr�ximo de mim", explica o menino.

A crian�a expressa na brincadeira, no desenho, na fantasia, o que est� sentindo e o que est� descobrindo sobre o mundo. "No momento, temos um contexto coletivo presente na casa de todas as fam�lias. Muitas crian�as est�o ouvindo algumas palavras como "v�rus" e "pandemia", e n�o recebem explica��o sobre o significado dessas palavras. E, ao n�o saber o significado, reproduzem e entendem da maneira que os recursos pr�prios permitem", avalia a psic�loga Ana Beatriz Chamati, analista do comportamento e coordenadora do curso de Forma��o em Desenvolvimento Humano da Inf�ncia e Adolesc�ncia no Instituto de Psiquiatria da USP (IPq-HCFMUSP).

"O que tenho percebido � que as crian�as est�o mais sens�veis e curiosas sobre esses processos, tanto sobre o que vai voltar a ser como era antes do in�cio do isolamento quanto sobre o que ficar� das mudan�as que o isolamento trouxe", diz.

O desenho possibilita acessar o mundo interno, as percep��es, afetividade, afli��es, ang�stias e desvenda como a crian�a experimenta sua individualidade em rela��o aos outros e ao meio ambiente. A capacidade intelectual, atitude perceptiva, desenvolvimento f�sico, gosto est�tico e desenvolvimento social s�o alguns dos reflexos dessas produ��es.

"O desenho � uma interpreta��o criativa, pessoal e cr�tica a respeito do mundo. Ele pode ser pouco elaborado, como as garatujas e os rabiscos de crian�as, ou, ainda, muito sofisticados como os desenhos de artistas, mas o que de fato importa � que o desenho � um recurso extremamente valioso que contribui para revela��es, descobertas e possibilidades do mundo interior de seu criador", na an�lise da neuropsic�loga Edyleine Bellini Peroni Benczik, doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de S�o Paulo.

Percep��o e sentimento

A an�lise do desenho leva em considera��o o desenvolvimento infantil e a faixa et�ria. � poss�vel analisar processos adaptativos e expressivos, tais como: tema e conte�do do desenho, posi��o, localiza��o da p�gina, tamanho do desenho em rela��o � folha, qualidade dos tra�os, sombreamento, transpar�ncias, uso de cores, perspectiva ou movimento. "As crian�as expressam ricamente e com propriedade o que sentem e percebem. Ali�s, elas percebem tudo e todos. Muitas est�o sofrendo, se sentindo limitadas, ansiosas, com medo e inseguras; outras est�o conseguindo olhar para os benef�cios e tirar proveito desta situa��o dif�cil", ressalta Benczik.

Ana Beatriz Chamati considera que os desenhos criados por crian�as durante a pandemia do coronav�rus representam, de maneira geral, essa confus�o do momento atual. "� poss�vel ver no mesmo desenho a express�o de tristeza e tamb�m de felicidade, pontos positivos e negativos sobre o que eles est�o vivendo. Os desenhos expressam desejos, como casas com todos os moradores fora dela, ou fatos da realidade, como olhar o mundo pela janela em um momento que estamos privados da possibilidade de sair de casa. Essa � a magia do ato de desenhar - poder expressar fantasia, desejos, sentimentos, colocar para fora o que est� dentro", afirma.

"Eu sinto saudade de abra�ar e beijar minha v�, meu v�, minha m�e", conta Alessandra Albuquerque, 11 anos, de Fortaleza, no Cear�. "Eu desenhei a minha fam�lia brincando de massinha e cora��es porque eu estou gostando. A gente est� dentro de casa porque n�o pode sair", diz Sofia Baldinato, 5 anos, de Carapicu�ba, na Grande S�o Paulo.

As emo��es expressas nos desenhos divulgados pelo Unicef variaram das mais agrad�veis de sentir, como felicidade e alegria, at� as mais desagrad�veis, como medo, tristeza, ansiedade, t�dio, raiva e frustra��o. "Nos desenhos, � poss�vel verificar que as crian�as mais novas, entre 4 e 5 anos, tenderam a se sentir mais inseguras e indefesas, necessitando de mais suporte e seguran�a", pondera Edyleine Bellini Peroni Benczik.

Benczik aponta, tamb�m, que alguns desenhos feitos por crian�as na quarentena revelam como est�o lidando com as duas faces da pandemia. "O lado ruim e o lado positivo, ou seja, o que podem tirar de proveito diante de uma situa��o dif�cil, nos dando uma grande li��o de maturidade e de integra��o dos opostos. Por exemplo, algumas relatam gratid�o por poderem estar junto de suas fam�lias (muitas delas, talvez, por nunca poderem conviver tanto tempo com seus pais, em fun��o do trabalhos deles), por n�o estarem doentes e tamb�m por n�o terem nenhum parente infectado. E tamb�m por terem aprendido a mexer no computador e por poderem conversar com os colegas pelo telefone", diz.

Enquanto os adultos se expressam por meio de lives nas redes sociais, os pequeninos t�m, no desenho, um recurso art�stico para despejar suas emo��es em tempos de pandemia. "Apesar da express�o de suas ang�stias e conflitos, nos desenhos das crian�as predominou o uso de cores, o que pode nos fazer pensar que a situa��o promovida pela pandemia � a ponta de um grande iceberg e estando apenas na superf�cie. Mas, l� na profundidade de seus mundos internos, ainda prevalece vida que vibra e que est� prestes a ser vivida plenamente, assim que a pandemia permitir", conclui Benzick.

Para participar da campanha do Unicef, pais, m�es e respons�veis devem abrir esse espa�o de di�logo com seus filhos e filhas, organizando um ambiente acolhedor em que a crian�a possa desenhar e falar sobre como se sente. Em seguida, os adultos podem usar o stories do Instagram, postando a foto do desenho, uma fala da crian�a ou um v�deo dela explicando o desenho, acompanhado da hashtag #sentimentosnopapel e marcando o perfil do Unicef Brasil.

As imagens ser�o selecionadas e parte delas ser� divulgada nas redes sociais do Unicef no Pa�s, contribuindo para dar visibilidade aos sentimentos de cada crian�a, em tempos de coronav�rus.


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