
No texto escrito para o jornal, Dimenstein conta que sonhou com uma mulher dizendo que ele estava com c�ncer. Amante da ci�ncia, o jornalista se considerava “super-racional” mas admitiu que se sentiu incomodado com a �deia. “Fui aos m�dicos, fiz colonoscopia, endoscopia, ultrassonografia, n�o achavam nada, mas eu continuava impressionado”, conta. Foi depois de uma d�vida m�dica que o c�ncer foi detectado. “No dia seguinte, j� estava no hospital. Tirei o tumor bem no comecinho, o que aparentemente era boa not�cia.”
Apesar disso, depois de tr�s semanas o c�ncer j� havia atingido o f�gado. Da� em diante, o jornalista conta que s� teve m�s not�cias. “C�ncer � algo que n�o desejo para ningu�m, mas desejo para todos a profundidade que voc� ganha ao se deparar com o limite da vida. N�o queria ter ido embora sem essa experi�ncia”, conta.
Gilberto relata que, depois da doen�a, deixou de dar valor ao que ele chamou de “culto a bobagens”. “Quando voc� tem um c�ncer, ainda mais como o meu, de met�stase e de p�ncreas, um tipo muito agressivo, n�o h� alternativa. Ou vive o presente ou sua vida vira um inferno.”
Ele conta que, durante o ciclo da doen�a, acabou se redescobrindo. Come�ou a andar de bicicleta, conversar mais com o neto e come�ou a dar mais valor para a vida simples. “N�s vivemos nos meios digitais a era da indelicadeza, 500 mil pessoas criticando. Eu acabei entrando no mundo das gentilezas. Cada pessoa tem uma palavra, um ch�, uma dica de ora��o, um olhar gentil. O outro mundo vai ficando rid�culo”, diz.
Dimenstein tratou a doen�a com canabidiol. O composto qu�mico � derivado da maconha, liberado para uso medicinal. “Com ou sem c�ncer vamos todos morrer, e se pudermos antecipar essa sensa��o, vamos evitar v�rias bobagens. A clareza maior da morte � uma d�diva. N�o � o fim, mas um come�o.”
O jornalista relata o sentimento de estar morrendo. Flertando com a morte, ele questiona o sentido da vida. “N�o � que eu ache que morrer � bom, mas voc� come�a a questionar por que existe, e a conclus�o � que, se n�o podemos escolher como entramos na vida, podemos decidir como sair dela.”
Ao falar sobre o jornalismo, o que ele diz ser sua paix�o, Dimenstein relata que certos arrependimentos. “Mudei minha carreira para fazer um jornalismo que n�o � de filantropia nem altru�smo, mas de empoderamento, de usar a comunica��o para promover causas”, contou. Ao falar sobre seu papel na profiss�o, o escritor apenas diz: “N�o inventei nada, o comunicador n�o faz o vinho. Mas tira a rolha.”
Em uma met�fora, o escritor chega a comparar o mundo com o corpo humano e brinca com as “infec��es” (cultura do �dio) criadas pelo presidente norte-americano Donald Trump e o presidente brasileiro Jair Bolsonaro.
“O mundo � como um corpo humano. H� pessoas que espalham infec��es, se xingam, se odeiam. O presidente dos EUA, Donald Trump e o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, n�o criaram isso, mas sintetizam essa cultura da infec��o, do �dio, do confronto. E h� os gl�bulos brancos, as pessoas que n�o deixam o mundo acabar, que inventaram a anestesia, o antibi�tico, descobriram a h�lice dupla do DNA.”
O jornalista termina o relato conversando sobre a vida ap�s a morte. “Vida ap�s a morte? Se for igual a esta, prefiro que n�o exista. Se eu acordasse e estivessem l� Trump, Bolsonaro, primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orb�n, n�o sei se queria, n�o [risos].”
Autor de mais de 10 livros, Dimenstein lutava desde 2019 contra o c�ncer no p�ncreas. Segundo divulgado pelo portal Catraca Livre, ele morreu �s 9h, enquanto dormia. O jornalista deixa dois filhos, Marcos Dimenstein e Gabriel Dimenstein, a esposa, Anna Penido, e um neto.
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* Estagi�ria sob supervis�o da editora Liliane Corr�a