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Estado de Minas GERAL

Fam�lias de v�timas da covid-19 revivem dor da morte a cada dia


postado em 31/05/2020 08:30

Em um apartamento de classe m�dia do Para�so, zona sul de S�o Paulo, os seis moradores contra�ram o novo coronav�rus em mar�o. Em uma semana, a fam�lia ficou pela metade, pois o pai e dois filhos n�o resistiram. Um deles era um porteiro aposentado de 62 anos que se tornou a primeira v�tima da doen�a no Brasil no dia 16.

Hoje, a m�e, de 84 anos, e os dois filhos restantes, com m�dia de 60 anos, est�o recuperados da doen�a e tentam recome�ar a vida. Um dos desafios � o notici�rio di�rio que atualiza a dor. Outro drama � a solid�o. Pelo medo da contamina��o, parentes e vizinhos evitam visitas ao apartamento grande e confort�vel.

Algumas fam�lias das primeiras v�timas da covid-19 no Brasil relatam a dor da perda revivida quase diariamente com o avan�o da doen�a. Traumatizadas, elas confessam tamb�m medo excessivo de contamina��o. Outras observam a trajet�ria de quem passou como for�a e inspira��o para tentar dar a volta por cima, mas todas lamentam a falta do ritual da despedida. Vel�rios e funerais de pacientes de covid-19 n�o s�o recomendados pelo Minist�rio da Sa�de desde 25 de mar�o.

A enfermeira Ana Paula da Silva conta que a dor mais intensa desse per�odo de quarentena est� ligada � falta do adeus para sua m�e, Juraci Augusta da Silva, uma das primeiras profissionais de sa�de vitimadas pela doen�a.

As roupas levadas para a v�tima n�o foram utilizadas e o caix�o foi lacrado. Apenas os parentes mais pr�ximos compareceram ao cemit�rio S�o Pedro, na zona leste de S�o Paulo. A �ltima vez que as duas tiveram contato foi no momento da interna��o. "N�o tivemos oportunidade de despedida. Mesmo sendo da �rea da sa�de e entendendo que a morte � um processo natural, sinto muito falta de dizer 'vai com Deus, fique em paz'".

Com mais de 25 anos de trabalho na �rea da sa�de, dona Juraci, mineira de Montes Claros, atuava como t�cnica de enfermagem em um hospital p�blico da zona leste paulistana. Por causa dos seus 72 anos, ela seria afastada por pertencer ao grupo de risco da covid-19. Al�m disso, era transplantada renal e hipertensa. "Ela deveria ter sido afastada antes. Acho que demoraram um pouco", protesta a filha. Dona Juraci era uma mulher independente e morava sozinha. Ningu�m mais na fam�lia se contaminou.

M�scaras em casa

Os tr�s sobreviventes do apartamento no Para�so seguem � risca as recomenda��es de isolamento social, pois temem uma nova infec��o. O virologista Paulo Eduardo Brand�o, da Faculdade de Medicina Veterin�ria e Zootecnia da Universidade de S�o Paulo (USP), afirma que a reinfec��o � uma probabilidade real quando se estudam os outros coronav�rus, mas casos comprovados pelo novo coronav�rus ainda est�o pendentes. "A ideia de que as pessoas criam anticorpos e se tornam imunes depois de infectadas � mais consistente para v�rus como sarampo e rub�ola, por exemplo. Mas n�o para os coronav�rus", explica.

Os cuidados com higieniza��o na casa da primeira v�tima de covid-19, que antes eram rigorosos, se tornaram quase uma obsess�o. O trauma foi t�o grande que eles usam m�scara at� dentro de casa. Embora seja a principal forma de lazer da fam�lia, a televis�o faz com que as lembran�as da trag�dia sejam reavivadas frequentemente. "Todas as not�cias s�o sobre isso. A gente n�o consegue esquecer ou pensar em outra coisa", diz um dos irm�os, que est� desempregado.

A solid�o pesa bastante na casa. Vizinhos contam que perceberam certo distanciamento de alguns familiares. S� os irm�os que vivem em outros endere�os levam comida e rem�dios.

Parentes da primeira v�tima da covid no Rio de Janeiro tamb�m se sentem discriminados. "As pessoas pensam que a gente pode transmitir a doen�a", disse um sobrinho de dona Cleonice, empregada dom�stica de 63 anos que morava em Miguel Pereira e tamb�m morreu em mar�o. Ela trabalhou dez anos na mesma casa no Alto Leblon, zona sul da cidade. Depois de cuidar da patroa que voltou com problemas respirat�rios da It�lia (o teste confirmou que se tratava de coronav�rus), ela come�ou a sentir falta de ar na segunda-feira. Em dois dias, foi hospitalizada, entubada e morreu. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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