(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas GERAL

Viol�ncia contra a mulher aumenta em meio � pandemia; den�ncias ao 180 sobem 40%

Apesar do maior volume de den�ncias, o aumento da viol�ncia dom�stica escapa das estat�sticas dos �rg�os de seguran�a p�blica


01/06/2020 23:00 - atualizado 01/06/2020 23:48

O avanço de casos de violência doméstica na pandemia não ocorre só no Brasil
O avan�o de casos de viol�ncia dom�stica na pandemia n�o ocorre s� no Brasil (foto: Pixabay:Divulga��o)
Um X vermelho de batom estampado na palma da m�o, um bot�o de p�nico num aplicativo de loja online de eletroeletr�nicos e at� um v�deo fake de automaquiagem que, na pr�tica, orienta a fazer den�ncias. Por meio de formas inusitadas como essas, governo, empresas e organiza��es da sociedade civil se mobilizam para ajudar a mulher a buscar socorro em caso de viol�ncia dom�stica nesses tempos de pandemia do coronav�rus. Isolada dentro de casa e, na maioria das vezes, tendo de conviver com o agressor, um n�mero crescente de brasileiras est� sendo v�tima de abuso dom�stico na quarentena.

Em abril, quando o isolamento social imposto pela pandemia j� durava mais de um m�s, a quantidade de den�ncias de viol�ncia contra a mulher recebidas no canal 180 deu um salto: cresceu quase 40% em rela��o ao mesmo m�s de 2019, segundo dados do Minist�rio da Mulher, da Fam�lia e dos Direitos Humanos (MMDH). Em mar�o, com a quarentena come�ando a partir da �ltima semana do m�s, o n�mero de den�ncias tinha avan�ado quase 18% e, em fevereiro, 13,5%, na mesma base de compara��o.

Apesar do maior volume de den�ncias, o aumento da viol�ncia dom�stica escapa das estat�sticas dos �rg�os de seguran�a p�blica. A raz�o � que, isolada do conv�vio social, a v�tima fica ref�m do agressor e impedida de fazer um boletim de ocorr�ncia na delegacia. "A queda que houve nos boletins de ocorr�ncia e processos no per�odo de pandemia n�o corresponde � realidade das agress�es", alerta a promotora Val�ria Scarance, coordenadora do N�cleo de G�nero do Minist�rio P�blico do Estado de S�o Paulo.

Um estudo coordenado pela promotora buscou outros indicadores para avaliar como andava a viol�ncia dom�stica em S�o Paulo na quarentena. Constatou que, no in�cio do isolamento, de fevereiro para mar�o, as pris�es em flagrante envolvendo agressores de mulheres aumentaram 51,4%. O resultado � muito diferente do registrado em fevereiro, quando houve queda de 10% no n�mero de pris�es na compara��o anual. Tamb�m a determina��o de medidas protetivas para mulheres aumentou 29,5% de fevereiro para mar�o no estado, depois de ter avan�ado 23,5% em fevereiro em bases anuais.

Levantamento do F�rum Brasileiro de Seguran�a P�blica em parceria com a empresa Decode, feito a pedido do Banco Mundial, revela aumento de 431% em relatos de brigas de casal por vizinhos em redes sociais entre fevereiro e abril deste ano. Segundo a outra pesquisa realizada junto a �rg�os de seguran�a de 12 estados do Pa�s, casos de feminic�cio aumentaram 22,2% de mar�o para abril, enquanto houve queda nos boletins de ocorr�ncia em casos de agress�o e viol�ncia sexual. Esses resultados confirmam a tese de que h� incremento da viol�ncia dom�stica e familiar no per�odo de quarentena, ainda que esse avan�o n�o esteja sendo captado pelos boletins de ocorr�ncia, aponta o estudo.

No mundo online, o Magazine Luiza, uma das maiores varejistas do Pa�s, registrou em maio, ante o mesmo m�s de 2019, aumento de 450% no uso do bot�o de den�ncia de viol�ncia contra a mulher dentro do canal espec�fico que existe em seu aplicativo de compras.

O avan�o de casos de viol�ncia dom�stica na pandemia n�o ocorre s� no Brasil.
Outros pa�ses que enfrentaram a covid-19 tiveram o mesmo problema. A Organiza��o das Na��es Unidas (ONU) tem recomendado medidas para prevenir e combater a viol�ncia dom�stica durante a pandemia, com investimentos de den�ncia online, servi�os de emerg�ncia em farm�cias e supermercados, abrigos tempor�rios para as v�timas, entre outros.

C�digos secretos

Diante da dificuldade das v�timas de pedir socorro, est�o surgindo v�rias iniciativas de canais silenciosos de den�ncias. O Conselho Nacional de Justi�a (CNJ) planeja lan�ar no dia 4 de junho, pr�xima quinta-feira, a campanha "Sinal vermelho contra a viol�ncia dom�stica". A iniciativa j� existe em outros pa�ses e agora come�a funcionar no Brasil. A mulher v�tima de viol�ncia mostra a palma da m�o marcada com um X vermelho feito de batom ou outro material ao atendente de uma farm�cia cadastrada, que aciona a Pol�cia Militar para socorr�-la.

Empresas tamb�m t�m dado prioridade a campanhas na internet de den�ncias veladas, necess�rias quando a mulher convive com o agressor. O Magazine Luiza, por exemplo, voltou � carga com um post no Instagram que atrai a mulher com produtos de maquiagem para "esconder manchas e marquinhas" (da viol�ncia), mas direciona a v�tima a usar o bot�o de den�ncias. O bot�o est� conectado ao canal 180 do MMDH. "A vantagem � que a mulher pode disfar�ar que est� fazendo compras, aperta o bot�o e a gente fica sabendo", diz Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho de Administra��o do Magazine Luiza e tamb�m do Mulheres do Brasil, grupo apartid�rio com 40 mil integrantes.

A varejista que tem um canal espec�fico para o atendimento a funcion�rias v�timas de viol�ncia combinou um c�digo secreto para monitorar os casos "mais cr�ticos" em tempos de pandemia, conta Tarsila de Paula Mendon�a, respons�vel pelo canal. Quando a mulher monitorada fala sobre determinado assunto combinado na conversa por meio de mensagens, � o sinal de alerta de que est� correndo perigo. Tarsila conta tamb�m que a periodicidade das conversas mantidas com as mulheres que enfrentam problemas mais cr�ticos de viol�ncia dom�stica tamb�m aumentou depois da pandemia.

Campanhas globais

A pandemia de viol�ncia dom�stica contra mulher se tornou tamb�m um problema global, assim como a covid-19. Por isso, as a��es para enfrentar o problema extrapolam as fronteiras dos pa�ses. O Instituto Avon da Argentina, do grupo Natura &Co, por exemplo, teve a ideia de fazer uma campanha global #isoladassimsozinhasn�o para todas as marcas da companhia.

A iniciativa, que foca na viol�ncia dom�stica em tempos de pandemia, foi importada pelo Brasil e outros pa�ses da Am�rica Latina. "A campanha faz um chamado para que cada pessoa preste aten��o nos ru�dos da vizinhan�a para identificar casos de agress�o", explica Daniela Grelin, diretora do Instituto Avon no Brasil.

Nesses pa�ses, a empresa desenvolveu uma forma de alcan�ar as v�timas de viol�ncia disfar�adamente. Compartilha, por meio de WhatsApp, um v�deo com tutorial de maquiagem, por exemplo, e durante a exposi��o s�o exibidas informa��es de combate a agress�es, telefones de emerg�ncia e incentivo de apoio �s v�timas.

Daniela explica que no Brasil, o Instituto Avon foi al�m. Lan�ou, tamb�m por meio de um n�mero de WhatsApp, um servi�o de chatbox (caixa de di�logo) em parceria com a Uber. Por meio desse chatbox � feito o rastreamento das necessidades da v�tima e o n�vel de risco a que ela est� exposta.

A v�tima recebe todas as orienta��es e s�o passados os endere�os mais pr�ximos onde pode encontrar ajuda. Se ela n�o tem como ir, a Uber oferece uma corrida gratuita at� o destino do socorro. O mapa do acolhimento funciona no Pa�s inteiro e o transporte � gratuito, onde h� servi�os da Uber.

"A melhor forma de liberta��o da v�tima de viol�ncia � construir uma rede de apoio", explica Daniela. Em um m�s de funcionamento, o chatbox teve 925 acessos e atendeu a 863 mulheres. Destas, 311 foram identificadas como casos de alto risco e 116 pediram ajuda urgente.

Abusos f�sicos e verbais

Casada h� menos de dois anos, uma personagem v�tima de maus tratos do marido relatou ao Estad�o, sob a condi��o de anonimato, as agress�es f�sicas sofridas durante o per�odo de isolamento social, que culminaram na recente separa��o. Maria (nome fict�cio) relatou que, durante o namoro, o marido era o "homem dos sonhos": agrad�vel, gentil, um amor de pessoa, disse. Mas depois do casamento, na igreja e no cart�rio, a situa��o mudou. Desempregado, ele passou a agredi-la verbalmente. Trabalhando o dia todo, Maria o encontrava somente � noite.

Mas com a pandemia do novo coronav�rus, o patr�o de Maria suspendeu temporariamente o contrato de trabalho e ela teve de ficar em casa. "Quando fiquei sem trabalhar e tivemos de passar o dia inteiro juntos, as humilha��es por boca come�aram a ser mais frequentes, mas continuei quieta", disse. At� que no m�s passado, a agress�o verbal se transformou em agress�o f�sica. Durante um discuss�o noturna, Maria, aos gritos, pediu socorro aos vizinhos que chamaram a pol�cia. Com hematomas, foi encaminhada ao hospital e � delegacia e pediu medida protetiva contra o agressor.

"Com a pandemia e o maior tempo de conviv�ncia, ele se revelou outra pessoa", disse. Ela acredita que o fato de o agressor estar desempregado e fazer uso de droga piorou o relacionamento, que j� era ruim.

Val�ria Scarance frisou que "nenhum homem pac�fico se torna violento por causa do isolamento imposto pela covid-19". Ela explicou que a viol�ncia � um padr�o aprendido em casa ou na sociedade, com pessoas muito pr�ximas. "70% dos homens que praticam viol�ncia hoje viram viol�ncia em casa."

Ocorre, no entanto, que existem fatores de risco que funcionam como fa�scas para detonar a viol�ncia pr�-existente. S�o eles: isolamento da v�tima, maior controle, aumento do consumo de �lcool e drogas e problemas econ�micos. "Esses fatores fazem com que a viol�ncia exploda, mas nenhum homem fica violento porque consumiu �lcool ou drogas ou por estar desempregado", pondera a promotora de Justi�a.

"Muitas vezes se convive por muito tempo com uma pessoa, mas sem conhecer de fato quem ela �", admitiu Maria. Como tantas outras mulheres, machucadas f�sica e psicologicamente por seus companheiros neste per�odo de isolamento social, Maria pediu a separa��o judicial do marido agressor. E tenta agora a sacudir a poeira para construir uma vida nova p�s-pandemia.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)