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Estado de Minas EM V�DEO

Jovem que foi agredido por PMs em Planaltina desabafa: "Pensei que ia morrer"

Weliton Luiz Maganha, 30 anos, relata ao Correio os momentos de medo que passou ao ser v�tima de viol�ncia policial


postado em 03/06/2020 08:43 / atualizado em 03/06/2020 08:53

Desempregado, Weliton contribui para o sustento da família, vendendo balas em ônibus(foto: Darcianne Diogo/CB/D.A Press)
Desempregado, Weliton contribui para o sustento da fam�lia, vendendo balas em �nibus (foto: Darcianne Diogo/CB/D.A Press)
Chutes, golpes de cassetetes e pedrada marcaram os momentos de agonia vividos por um vendedor ambulante de 30 anos. Weliton Luiz Maganha, negro e morador de Planaltina, sofreu agress�es de dois policiais militares pr�ximo a um supermercado no Setor de �reas Especiais Norte da cidade, na noite de segunda-feira. Ao Correio, Weliton relatou o ocorrido e busca por justi�a. “Pensei que ia morrer”, disse. O epis�dio de viol�ncia causou como��o no Distrito Federal e chama aten��o por acontecer num momento em que h� protestos contra o racismo em diversos pa�ses, ap�s o afro-americano George Floyd ser asfixiado e morto por um policial branco em Minneapolis, Minnesota, nos Estados Unidos.

A Corregedoria da Pol�cia Militar do Distro Federal apura o caso, envolvendo os dois militares lotados no 14º Batalh�o da PM. A corpora��o informou, por meio de nota oficial, que o incidente n�o se tratou de racismo, mas de viol�ncia policial.

Weliton mora com a esposa, a auxiliar de servi�os gerais Gildete Corr�a, 44, e trabalha como vendedor de balas em �nibus. Ele conta que, na noite de segunda-feira, foi ao supermercado para fazer compras j� que havia recebido a segunda parcela do aux�lio-emergencial — valor distribu�do �s pessoas de baixa renda prejudicados pela pandemia da covid-19. “Quando sa� do mercado, dois policiais me abordaram no estacionamento. At� a�, tudo bem. Viram meus documentos e, do nada, um deles me deu um soco na coluna, e eu o questionei: 'O que � isso, senhor?'”

Uma testemunha filmou a abordagem, nela � poss�vel ver que Weliton grita: “Eu n�o fiz nada de errado”. Mas, os policiais o repreendem: “Fala baixo!” e, em seguida, desferem, pelo menos, quatro golpes de cassetete nas costas da v�tima. “Quando ca� no ch�o, jogaram spray de pimenta no meu rosto e me deram uma pedrada na cabe�a”, afirmou o vendedor ambulante. Ele disse que sofreu les�es na clav�cula e no cr�nio, al�m de diversas escoria��es pelo corpo. A Pol�cia Militar do DF informou que os militares foram acionados para atender a uma chamada de perturba��o da tranquilidade de ordem p�blica no local.

Carioca, Weliton se mudou para Bras�lia h� tr�s anos em busca de emprego. O rapaz trabalhou de carteira assinada como repositor de supermercado, aplicador de gesso e ajudante de obras. Sem passagens pela policiais, a v�tima n�o tem d�vidas: foi agredido por ser negro. “Tenho certeza de que se fosse um homem branco, n�o teriam agido assim. N�o entendi nada e pensei: 'Ser� que est�o com preconceito?' Algumas pessoas tentaram justificar falando que eu era morador de rua ou usu�rio de drogas, mas n�o � nada disso. Apenas fui comprar comida em um mercado”, desabafou.

Ontem, a v�tima procurou o Hospital Regional de Planaltina, onde recebeu atentimento e foi orientado a voltar na pr�xima ter�a-feira para uma nova avalia��o m�dica.

Impot�ncia

A reportagem ouviu uma pessoa que presenciou a a��o dos PMs. Sem se identificar, ela contou que n�o conseguiu reagir. “Fiquei paralisado, porque se eu fosse l� confrontar, podia ser eu apanhando. � um sentimento de impot�ncia muito grande”, lamentou.

A testemunha diz que estava no local e viu a agress�o do come�o. “Parece que o policial ficou com raiva por alguma coisa que ele falou e jogou spray de pimenta no rapaz, que estava rendido. � revoltante. Poderia ser meu av�, meu tio, porque todos somos negros. Isso aconteceu em um momento muito significativo, por toda mobiliza��o contra a morte de George Floyd e pelo menino Jo�o Pedro. As pessoas precisam ver que isso acontece em todo lugar, como aconteceu em Planaltina”, afirma.Continua depois da publicidade

Gildete Corr�a disse que o esposo chegou machucado em casa e o orientou a procurar um advogado. “Eu estranhei a demora dele no supermercado e achei que pudesse ter ocorrido algo. Isso n�o se faz com as pessoas. � uma coisa terr�vel”, protestou. 

Suspeitos est�o sob investiga��o

Os advogados volunt�rios da v�tima, Anderson Tiago Campos e Paulo Henrique de Oliveira, esclareceram que levar�o Weliton ao Instituto de Medicina Legal (IML) para exame de corpo delito hoje. “Pretendemos pedir o aux�lio da Comiss�o dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados (OAB) local para acompanhar o caso no �mbito administrativo”, ressaltou Anderson. “Vamos cobrar indeniza��o pelos danos. O v�deo � claro e n�o deixa d�vidas da utiliza��o da for�a policial”, acrescentou Paulo.

Por meio de nota oficial, a Pol�cia Militar confirmou as agress�es, informando que “o final da a��o foi registrada conforme o v�deo”, mas argumentou que foi chamada ap�s v�rias den�ncias de perturba��o e tranquilidade e da ordem p�blica. A corpora��o ressaltou que “n�o h� que se falar em atitude racista, mas de excesso na a��o policial”, e que os policiais foram ouvidos, no devido processo disciplinar/criminal, pela Corregedoria da PM, para “verificar as circunst�ncias do fato com o rigor que o caso requer”.

Nas redes sociais, a Pol�cia Militar de DF publicou que n�o compactua com desvios de conduta e refor�ou que caso n�o se tratou de racismo. “Somos uma institui��o bicenten�ria multi�tnica e consciente da sua responsabilidade junto � sociedade. Os policiais do v�deo est�o na Corregedoria e nada ser� impune aos rigores da lei”, diz o texto.

O secret�rio de Seguran�a P�blica, Anderson Torres, emitiu nota oficial, afirmando que atua em conjunto com o comando da PMDF para adotar “todas as provid�ncias legais de apura��o dos fatos ocorridos”. “Est� em curso a instaura��o de Inqu�rito Policial Militar. Deixamos claro, desde j�, que as atitudes dos policiais em quest�o em nada correspondem �s diretrizes de abordagem e conduta preconizadas pela corpora��o”, ressaltou o titular da pasta.

A C�mara Legislativa (CLDF) encaminhou, ontem, um of�cio � PMDF pedindo a investiga��o das den�ncias de viola��o dos direitos humanos ou cidadania. Na nota, assinada pelo deputado e presidente da Comiss�o dos Direitos Humanos, F�bio Felix, a Casa “repudia tal desvio de conduta e express�o do racismo institucional.”

De acordo com o presidente da OAB-DF, D�lio Lins, ocorr�ncias como essas s�o recorrentes. “Sempre que recebemos, prestamos assist�ncia, ap�s fazer uma an�lise do caso e ver a proced�ncia. Quando se trata de um processo na Corregedoria, nos habilitamos como fiscais. Quando n�o existe, damos in�cio ao procedimento”, frisou.

O caso tamb�m � investigado pela 16ª Delegacia de Pol�cia (Planaltina). Agentes foram ao supermercado em busca das imagens das c�meras de seguran�a.

Palavra de especialista

Sombra do passado

“� enganoso pensar que o fato de ser a sede do poder de Estado faria de Bras�lia um local seguro e protegido para os mais pobres em rela��o as for�as mais violentas que abusam do poder para humilhar e subjugar o outro pela via do horror do racismo, por exemplo. As cenas que vimos em Planaltina expressam a sombra de um passado que nunca deixou de ser presente na capital desde os tempos da Pacheco Fernandes, �ndio Galdino e tantos outros fatos narrados por diversos personagens sem-nome. No entanto, houve uma mudan�a hoje. A mudan�a est� no poder de tornar mais ou menos invis�vel essa viol�ncia do cotidiano contra os direitos da popula��o pobre e negra do Distrito Federal”., Perci Coelho de Souza, professor doutor em servi�o social do Instituto de Ci�ncias Humanas e do Centro de Estudos Avan�ados e Multidisciplinares da Universidade de Bras�lia (Ceam/UnB).


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