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Estado de Minas EXCE��O � REGRA

Em momento hist�rico na tv brasileira, Globo News coloca no ar um jornal apresentado apenas por negros

Com cinco mulheres negras comentaristas e sob o comando de Heraldo Pereira, o Em Pauta desta quarta-feira foi um caso isolado de representatividade no jornalismo


postado em 03/06/2020 21:24 / atualizado em 03/06/2020 22:19

Em edição rara e histórica, o Em Pauta, da Globo News, foi apresentado totalmente por negros(foto: Repdorução/Globo News)
Em edi��o rara e hist�rica, o Em Pauta, da Globo News, foi apresentado totalmente por negros (foto: Repdoru��o/Globo News)
As redes sociais costumam ser, em sua maioria, territ�rios propensos ao compartilhamento de ideias rasas, voltadas para o simples entretenimento, quando n�o dedicadas ao despejo de declara��es de �dio gratuito. Mas, em alguns momentos, servem tamb�m para reflex�o e apontamentos de situa��es incoerentes.

Uma dessas incoer�ncias apontadas nos �ltimos dias por internautas � o fato de a cobertura jornal�stica dos protestos contra o racismo ocorridos nos Estados Unidos e no Brasil estar sendo realizada – como de costume – por uma maioria de pessoas brancas.

Esta cobran�a dos espectadores rendeu um momento hist�rico no jornalismo televisivo brasileiro: um programa inteiramente apresentado por negros.

O Em Pauta, da Globo News desta quarta-feira foi apresentado por Heraldo Pereira e teve como comentaristas as jornalistas Flavia Oliveira, Zileide Silva, Aline Midlej, Lilian Ribeiro e Maria J�lia Coutinho.

A edi��o levou o experiente �ncora Heraldo Pereira �s l�grimas. Ap�s ouvir o relato das colegas, Heraldo se emocionou ao falar de seu in�cio de carreira, aos nove anos como office-boy em Ribeir�o Preto, interior de S�o Paulo, at� chegar � televis�o. 

Logo na abertura do programa, Fl�via Oliveira, adepta do candombl�, marcou territ�rio j� na sua sauda��o: “Muito boa noite, Heraldo e �s minhas colegas. � uma alegria para mim, adentrar o terreiro do Em Pauta”.

Todas as jornalistas relataram casos em que foram v�timas de preconceito racial em suas trajet�rias profissionais ou na vida cotidiana.

Fl�via foi a primeira e contou sobre quando se internou em um hospital para uma cirurgia. Por causa de sua religi�o, ela estava vestida de branco.

“A enfermeira me viu, uma mulher negra, vestida de branco e perguntou: ‘U�, a dona Fl�via j� foi para o centro cir�rgico?’ Uma mulher negra vestida de branco num quarto de hospital de rico �, naturalmente, a acompanhante da madame e nunca a paciente. Esse � o retrato do racismo brasileiro. Ora velado, ora escancarado”, contou a jornalista.

O epis�dio narrado por Zileide Silva foi forte, assim como a forma com que ela o descreveu. Contou uma passagem em que se dirigiu � Fiesp para entrevistar o presidente da entidade, acompanhada de um cinegrafista branco, loiro e de olhos azuis. Chegando no local, Zileide foi desprezada pela secret�ria.

Entramos e a secret�ria n�o se dirigiu a mim. Ela s� conversou com o cinegrafista Ricardo. De repente a porta abriu, saiu o presidente da Fiesp, me deu um abra�o e falou ‘Zileide, que �timo voc� aqui’. Olhei para a cara dela, e ela completamente constrangida”, narrou.

Segundo a jornalista, sua rea��o tamb�m foi dura, como forma de mostrar que situa��es como a descrita n�o podem acontecer.

O que eu fiz? Eu levantei o nariz, porque n�o d� para aceitar esse tipo de situa��o em nenhum momento. Falo isso porque quero que colegas negras e negros como eu saibam que n�o d� jamais para abaixar a cabe�a, em nenhum momento, em nenhuma hip�tese. Nunca esqueci esse momento”.

“Que isso se torne uma normalidade”

Entre os presentes nesse programa �mpar, esteve a apresentadora do Jornal Hoje, da TV GloboMaria J�lia Coutinho. A competente e carism�tica Maju come�ou na emissora como rep�rter em 2007 e ganhou notoriedade alguns anos depois, quando come�ou a apresentar a previs�o do tempo no Jornal Nacional.

Em 2015, foi v�tima de coment�rios racistas de internautas na p�gina do Jornal Nacional, em um post em que aparecia uma foto da jornalista.

O epis�dio desencadeou uma campanha aderida por v�rios jornalistas e usu�rios das redes sociais, que divulgaram em massa a hashtag #SomosTodosMaju.

No Em Pauta desta quarta, ela come�ou falando sobre as vezes em que teve que estar com o microfone empunhado para provar ser uma rep�rter da Globo. Falou, tamb�m sobre seu desejo de que a presen�a negra seja mais frequente na tela. “Que isso se torne uma normalidade”, disse a jornalista.

Em seguida, descreveu uma situa��o in�dita pela qual passou durante uma viagem em fam�lia.

“Viajei com meu marido para o exterior. Ele, negro, saiu para passear � noite em um parque. N�o pude ir porque n�o estava passando muito bem. Ele voltou radiante, falando assim: ‘Pela primeira vez eu me senti livre de passar ao lado de mulheres brancas, de senhoras brancas e n�o sentir um olhar de repulsa e de medo’”, contou.

Maria J�lia seguiu: “Mortes acontecem mais cedo na nossa comunidade. Quantos parentes eu j� perdi mais cedo e a gente sabe que � por desgaste emocional. Porque o racismo mata sim, o racismo nos fere. Das viol�ncias di�rias que a gente acaba tendo que olhar e enfrentar. E esse enfrentar � um gasto de energia t�o grande que a gente precisa se trabalhar muito para n�o sucumbir, como a Zileide disse”.

Contrariando as estat�sticas

A presen�a de pessoas negras em segmentos e classes privilegiados da sociedade ainda � escassa.

O programa desta quarta �, infelizmente, raro na televis�o brasileira e se trata de um caso isolado de representatividade.

Segundo levantamento realizado por estudantes do departamento de jornalismo do Centro Universit�rio de Belo Horizonte (UniBH) em 2019, os negros t�m pouco – ou, em alguns casos, nenhum – espa�o nos postos de maior destaque dos ve�culos de comunica��o no Brasil.

Na TV Globo, por exemplo, os apresentadores de telejornais eram � �poca do estudo, 87,5% brancos e 12,5% pretos.

Entre os 82 apresentadores e comentaristas da GloboNews, a divis�o �tnica era a seguinte:
Heraldo Pereira e Maju Coutinho se despedindo com o 'cumprimento black', gesto imortalizado pelos Panteras Negras americanos(foto: Repdorução/Globo News)
Heraldo Pereira e Maju Coutinho se despedindo com o 'cumprimento black', gesto imortalizado pelos Panteras Negras americanos (foto: Repdoru��o/Globo News)

74 brancos;
5 pardos (Claufe Rodrigues, Cristiana Lobo, Pedro Neville, Rafael Coimbra, Ronaldo Lemos) e;
3 pretos (Heraldo Pereira, Aline Midlej e Fl�via Oliveira).

Eram 89,1% de profissionais brancos e 10,8% de negros (6,75% pardos e 4,05% pretos).

Entre os pretos, dois t�m posi��o de destaque no canal. Heraldo Pereira, experiente jornalista do Grupo Globo � o apresentador titular do Jornal das Dez, o mais importante programa da casa, exibido diariamente �s 22h.

Al�m de Heraldo, Aline Midlej tamb�m tem presen�a importante na grade. Ela � uma das apresentadoras do Jornal GloboNews Edi��o das 10h (dividindo a ancoragem do programa com Raquel Novaes, que � branca).

Eventualmente, Aline tamb�m substitui Jos� Roberto Burnier (branco) na apresenta��o do GloboNews Em Ponto (programa di�rio, de 6h �s 9h da manh�).

A outra jornalista da cor preta no quadro do canal � Fl�via Oliveira, comentarista do vespertino Est�dio i, programa apresentado por Maria Beltr�o de segunda a sexta, �s 14h. Por�m, como h� um rod�zio entre os 13 comentaristas do programa, Fl�via n�o aparece diariamente na tela.



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