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Estado de Minas GERAL

Os avan�os e os desafios para conseguir uma vacina


postado em 28/06/2020 16:37

Com quase 10 milh�es de infectados em todo o mundo e quase meio milh�o de mortos, a pandemia de covid-19, que teve in�cio no fim de 2019, n�o d� sinais de que esteja arrefecendo, e a esperan�a de que uma vacina possa parar o coronav�rus cresce a cada dia. De acordo com balan�o da Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), h� 141 candidatas a vacinas sendo investigadas, sendo 16 j� na fase de testes cl�nicos em humanos. A que est� mais avan�ada � a de Oxford, em fase 3, que ser� testada no Brasil.

Para discutir o que significam esses avan�os e quais s�o os desafios para ter um produto pronto e conseguir imunizar a maior parte da popula��o, o Estad�o promoveu esta semana um debate com um imunologista, uma microbiologista e uma dem�grafa que acompanham a evolu��o das pesquisas e da doen�a.

As pesquisas est�o evoluindo a uma velocidade nunca vista antes. Mas ainda h� algumas incertezas sobre como funciona a doen�a e sua rela��o com o sistema imunol�gico que podem ter impacto na produ��o de uma vacina. H� tamb�m gargalos log�sticos para conseguir vacinar todo mundo.

O coronav�rus tem dado um "ol�" na ci�ncia. Estudos recentes lan�aram d�vidas sobre como se d� a resposta imunol�gica dos pacientes infectados. Em geral, entende-se que uma pessoa ficou imune se ela produziu anticorpos ao pat�geno, mas notou-se que em pacientes assintom�ticos houve uma queda nos n�veis desses anticorpos. Pesquisas com vacinas ter�o de atentar para isso.

1. Toda semana h� not�cias de avan�os, de que alguma vacina chegou � fase de testes com humanos. O que falta para ficar pronta?

Jorge Kalil: � impressionante o que aconteceu no mundo. Desde que come�ou a pandemia, quase 30 mil artigos cient�ficos foram publicados e um n�mero enorme de vacinas come�ou a ser testado. Registradas na OMS s�o 141, mas a gente sabe que tem pelo menos umas 300 iniciativas pelo mundo. E algumas chegaram extremamente r�pido, como nunca se viu, �s fases cl�nicas. Muitas porque os pesquisadores estavam trabalhando com um primo do Sars-CoV-2, que � o Sars-CoV-1, o Sars que acometeu uma parte do mundo no come�o dos anos 2000.

Em 2007 o mundo criou uma coaliz�o para se preparar para essa pandemia que se chama CEPI - coaliz�o para emerg�ncias, prepara��o e inova��o -, justamente para que o mundo se preparasse para ter uma resposta muito r�pida porque a gente sabia que viria uma pandemia. Dentre as vacinas que est�o a�, h� basicamente duas ideias por tr�s.

Uma � multiplicar bastante o v�rus, inativ�-lo e usar como vacina. Outra � oferecer ao sistema imune uma prote�na espec�fica (do coronav�rus), que � a prote�na da esp�cula. Acredita-se que ela vai desencadear a produ��o de anticorpos que sejam neutralizantes. Se uma estrat�gia ou outra der certo, acredito que n�s teremos muitas vacinas no mundo, porque � uma quest�o do vetor. Se erramos na premissa cient�fica, a� talvez a coisa fique complicada.

Natalia Pasternak: Sessenta anos atr�s, o �nico jeito que a gente sabia fazer vacina era cultivar o v�rus e atenu�-lo ou inativ�-lo. Para fazer uma vacina assim, a gente tem plenas condi��es. O Instituto Butant�, a Biomanguinhos, que s�o grandes plantas vacinais p�blicas, t�m perfeitas condi��es de fazer uma vacina � moda antiga. Elas s�o boas, s�o eficazes, temos um monte delas no mercado, s�o perfeitamente seguras, mas implicam cultivar o v�rus para depois poder inativ�-lo. � um v�rus respirat�rio, contagioso, ent�o precisa de toda uma estrutura de seguran�a, que a gente tem no Brasil.

J� as vacinas que v�o lidar com a prote�na, tem v�rias maneiras de fazer. Ou vai usar vacinas gen�ticas, que v�o usar o DNA ou RNA do v�rus alvo, o Sars-CoV-2, ou vai trabalhar direto com a prote�na. A log�stica � muito diferente. J� n�o precisa de um laborat�rio de seguran�a. Vai trabalhar com plataformas que v�o carregar uma sequ�ncia gen�tica do v�rus. A vacina de Oxford, por exemplo, usa um adenov�rus de chimpanz�, que n�o vai causar nenhum mal pra gente. � usado como uma plataforma, um vetor onde se coloca a sequ�ncia gen�tica do Sars-CoV-2 que codifica a prote�na da esp�cula, que � a prote�na que a gente acha que vai dar a melhor resposta imune.

Ao injetar a vacina nas nossas c�lulas, elas v�o produzir a prote�na do v�rus, v�o apresentar isso para o nosso sistema imune, que vai olhar, falar: �Opa, o v�rus est� aqui�, e montar uma resposta imune. Mas o v�rus nunca esteve l�. S� est� a prote�na, que nossas c�lulas fizeram. Outra forma � fazer uma vacina de DNA, onde jogo direto a sequ�ncia de DNA do v�rus dentro da c�lula. E posso fazer isso com uma mol�cula de RNA, que � o mesmo racioc�nio. O RNA codifica a prote�na. A vantagem dessas t�cnicas mais modernas � n�o ter de trabalhar com o v�rus. Elas s�o mais r�pidas, mais vers�teis. E tem uma grande vantagem dessas vacinas de DNA, RNA, e de vetor: ter uma plataforma pronta, em que � poss�vel s� trocar de sequ�ncia gen�tica de v�rus. Conseguindo isso, estar�amos preparados para uma pr�xima doen�a. Se vier outro v�rus, � s� trocar a sequ�ncia gen�tica e a vacina est� pronta.

2. Uma vacina pode ficar pronta ainda neste ano, como alguns estimam?

Kalil: Realmente elas chegaram em tempo recorde em testes cl�nicos. E as fases 1 e 2 tamb�m foram em tempo recorde. Mas agora � a hist�ria do �vamos ver�. O grande desafio � quando chega em fase 3 porque a gente ainda n�o sabe o que vai dar. N�s temos at� agora s� dados indiretos, como a imuniza��o de macacos. S�o ind�cios que a gente cr� que correspondem � prote��o.

Mas precisamos ver se protege quando imunizar um grande n�mero de pessoas. E �s vezes temos surpresas. Porque a gente pensava que tinha de produzir s� anticorpo neutralizante. Agora vemos que precisa ter uma resposta celular. A gente tem de ver o que vai acontecer e se o regime de doses que forem institu�das vai dar uma cobertura grande na popula��o, que � essencial, e se vai desenvolver uma mem�ria para que depois de tr�s ou seis meses n�o tenha de tomar uma nova vacina.

3.Quando pronta, qual o caminho para chegar ao Brasil? Vamos ter de importar ou teremos condi��es de produzir? Quais os passos at� a popula��o come�ar a ser imunizada?

Natalia: Depende da formula��o que for para frente. Uma coisa � produzir vacina � moda antiga, que a gente j� tem a estrutura para fazer. Outra � uma moderna, para a qual n�o temos estrutura. Mas, ao mesmo tempo, elas s�o mais f�ceis de fazer em laborat�rio, rendem mais por litro. Ent�o vamos ter de pensar numa estrutura se quisermos trabalhar com essas vacinas mais modernas. E tem a quest�o de distribui��o. DNA � uma mol�cula mais est�vel, mais f�cil de armazenar e transportar. RNA � super fr�gil. Temperatura afeta muito sua estabilidade. Vamos ter de pensar como acondicionar, como transportar para n�o degradar. Tudo isso vai influenciar como produz e distribui.

4. E o que � vacinar uma popula��o em larga escala? Historicamente temos um programa muito bom de vacina��o no Brasil, mas que teve problemas nos �ltimos anos. A cobertura vacinal de doen�as como sarampo e febre amarela caiu e as doen�as voltaram. Como isso pode afetar a pol�tica de vacina��o em um pa�s tomado pela covid-19?

Marcia Castro: O programa de imuniza��o no Brasil de fato � um modelo internacional. O Brasil n�o s� expandiu sua cobertura vacinal, mas proveu vacinas sem custo para a popula��o. Saiu de um cen�rio em que dependia de importar vacina para um cen�rio em que produzia mais de 87% da demanda nacional e ainda exportava. � absolutamente fant�stico e s� foi feito gra�as ao SUS. O SUS n�o � s� fila em hospital do Rio de Janeiro. Tem muita coisa bacana que �s vezes as pessoas se esquecem. Mas se o SUS n�o funciona como deveria, � porque tamb�m n�o est� sendo financiado como deveria.

Quando chega no momento atual� temos de produzir em escala e vacinar em escala. Tem pa�ses na Europa que j� est�o mudando a produ��o industrial, se adaptando para fabricar os dois tipos de vacina. Seja qual for que fique pronta primeiro, j� tentaram otimizar a produ��o industrial para produzir rapidinho e vacinar a popula��o. Se a gente esperar para fazer esse planejamento quando a vacina estiver pronta, � tarde. E, quando tivermos a vacina pronta, teremos de vacinar 210 milh�es de pessoas. A� � outra quest�o: quem ganha e quem perde. O Brasil � um pa�s extremamente desigual. Se a gente conseguir produzir uma vacina no Pa�s que n�o dependa de ningu�m, que n�o dependa de importa��o, �timo. Porque se depender de importa��o pode acontecer como na H1N1.

Os pa�ses ricos compraram a vacina toda e os pobres tiveram de esperar. Ou o que aconteceu agora, em que se queria comprar m�scaras e os pa�ses ricos tinham comprado tudo. Nunca o mundo aprendeu o pre�o da globaliza��o como agora na pandemia. Mas tendo a vacina pronta: quem � que ser� vacinado primeiro? � uma quest�o importante. Vai fazer uma campanha nacional? A� vai precisar de ajuda da rede de aten��o b�sica, mas a aten��o b�sica est� totalmente esquecida na resposta dessa epidemia. Os agentes comunit�rios de sa�de, que poderiam estar atuando no campo - sendo os �detetives covid� como a gente chama aqui nos Estados Unidos -, fazendo rastreamento de contato, podiam ajudar na campanha de vacina��o. Eles n�o foram treinados, n�o receberam equipamento, n�o podem trabalhar. Para fazer uma campanha de vacina��o em massa, que atinja toda a popula��o, no interior do semi�rido, da Amaz�nia, que chegue �s popula��es ind�genas, que atinja todo mundo, precisa ter uma coisa muito bem coordenada, usando a rede do SUS, a rede de aten��o b�sica.

Outro ponto � que h� um movimento antivacina que infelizmente est� crescendo no Brasil. E temos naturalmente algumas pessoas que n�o poder�o ser vacinadas, as que t�m problema com imunidade, alguma comorbidade. Se essa parcela se somar �queles que n�o acreditam em vacina e esse n�mero for muito grande, talvez nem imunidade de rebanho a gente consiga ter.

Se todas as pecinhas do quebra-cabe�as derem certo, ainda teremos essa para pensar. Para dar tudo certo, a gente tem de ter uma vacina que seja produzida no Brasil, n�o dependa de importa��o, em r�pida escala, que n�o demore muito tempo para ter todas as doses e que tenha uma campanha de vacina��o usando a aten��o b�sica para realmente atingir todo mundo. Se uma pe�a n�o se encaixa, n�o teremos uma campanha de vacina��o igualit�ria, que beneficie cada brasileiro.

5. E mesmo que tudo d� certo, n�o vamos ter 210 milh�es de doses imediatamente. Como se define quem recebe primeiro?

Marcia: Teoricamente, se tiver de tra�ar uma prioridade, ela � definida em raz�o do risco de mortalidade. Para isso a gente precisa ter a capacidade de analisar os dados do Brasil e entender exatamente quem � o grupo de risco. Porque n�o d� para a gente simplesmente pegar o risco de mortalidade da China. Quando chegou � It�lia mudou o risco por idade, quando chegou aos Estados Unidos, tamb�m j� mudou. Temos um padr�o de comorbidades e desigualdade que s�o diferentes desses outros pa�ses. Se a gente quiser tra�ar um grupo priorit�rio para come�ar a vacina��o de forma priorit�ria, porque n�o tem doses para todo mundo ou as doses estiverem sendo produzidas aos poucos, ent�o a gente tem de entender esse grupo de risco.

Kalil: Na China, a Sinovac (empresa que est� testando uma das vacinas mais avan�adas) j� est� fazendo uma grande �rea industrial para produ��o. Eles disseram que v�o conseguir produzir 100 milh�es de doses por ano. Isso levaria 12 anos para imunizar toda a popula��o da China. Desde que come�amos a discutir a quest�o, digo que temos de fazer o roadmap, o planejamento at� a imuniza��o final. Se come�ar a fazer f�brica em todo lugar, vai faltar liofilizador, que � o aparelho da fase final da vacina. Vai faltar at� frasco e tampa, porque s�o poucos produtores, gra�as � globaliza��o.

6. E a primeira vacina a ficar pronta n�o necessariamente ser� a melhor, certo? Os testes em macacos com a vacina de Oxford indicaram limita��es.

Kalil: Quem ganha uma corrida de vacina n�o � quem chega primeiro, � quem chega em melhores condi��es. Isso significa: proteger da doen�a, eliminar o v�rus, ter uma cobertura muito grande na popula��o, e desenvolver uma boa mem�ria imunol�gica. N�o sabemos se as vacinas que est�o mais avan�adas ter�o isso, porque as premissas cient�ficas (de como funciona o coronav�rus) ainda n�o s�o conhecidas. O que preocupa nessa vacina de Oxford, embora todos estejam torcendo para que d� certo e diminua essa press�o social que estamos sofrendo, � que, no experimento em macacos, ela mostrou que protegia da pneumonia, mas n�o eliminava o v�rus circulante nas mucosas. N�o sabemos se isso seria extrapolado para os homens, mas isso pode significar - n�o sabemos - que o indiv�duo ficaria protegido da doen�a grave, mas continuaria transmitindo o v�rus.

� grave em termos de sa�de p�blica, porque as pessoas que n�o estiverem vacinadas estar�o sob amea�a. Temos de observar. Esse estudo est� sendo feito em Oxford, vai ser feito no Brasil e os Estados Unidos v�o duplicar o n�mero de indiv�duos e incluir as popula��es de risco. Tudo isso est� em andamento. Estamos todos sofrendo problemas f�sicos e mentais com a pandemia, a ansiedade � grande. Mas n�s, cientistas, temos de ter muita cautela e ser muito cr�ticos.

Natalia: N�o � uma corrida para ver quem vai chegar primeiro. � extremamente necess�rio que v�rios grupos continuem trabalhando nas suas respectivas estrat�gias. Muitas vezes o pessoal pergunta: "Ai, mas por que tem tanta gente fazendo a mesma coisa?". Ainda bem que tem tanta gente fazendo a mesma coisa.

Isso � sem precedentes na hist�ria. Essa coisa � muito importante, ent�o a gente precisa de muita gente trabalhando para que se chegue a v�rias estrat�gias vacinais que funcionem e que possam ser produzidas localmente, para n�o ter tantos problemas de log�stica, transporte, importa��o. Quem chegar primeiro vai dar um f�lego para que as outras continuem. Na vacina de Oxford, parece que realmente sobrou carga viral no nariz e na garganta dos animais, que � de onde s�o retiradas amostras para fazer testes. Os animais ficaram protegidos quando foram vacinados, n�o ficaram doentes, mas o v�rus continuava no nariz. O problema � que ningu�m viu se esse v�rus estava realmente ativo.

Outra coisa � que, ao inocular os animais, se coloca uma grande quantidade de v�rus no nariz deles. Os testes consistem em vacinar os animais e, depois de algum tempo, desafi�-los com o v�rus para ver se est�o protegidos. Em pessoas a gente n�o faz isso, mas em animais se inocula diretamente o v�rus no nariz deles. Em uma grande quantidade que n�o corresponde ao que acontece na natureza, e isso pode ter afetado o resultado. Mas vamos partir do pressuposto que realmente a vacina de Oxford protege s� contra a doen�a e n�o eliminou o v�rus.

Pode ser que as pessoas, apesar de n�o ficarem mais doentes, continuem transmitindo. A gente vai jogar no lixo essa vacina? N�o. Se ela for segura e impedir que as pessoas tenham a forma grave da doen�a, a gente vai usar e aproveitar para continuar pesquisando outras vacinas. Por isso a primeira vacina n�o precisa necessariamente ser a melhor. A gente sabe que tem vacinas que �s vezes funcionam muito bem em pacientes jovens, de 18 a 50 anos, mas n�o em idosos. A gente n�o vai usar? Vai usar nessa popula��o enquanto trabalha em outra que funcione melhor em idosos.

Temos de trabalhar com a hip�tese de que elas n�o v�o ser as melhores, mas o mais importante � que sejam seguras, testadas e eficazes, mesmo que parcialmente. O que � muito importante � n�o perder o rigor cient�fico. Porque se alguma coisa der errado, como ter efeitos colaterais que n�o foram detectados porque n�o se fez uma fase 3 direito, as consequ�ncias disso para a vacina��o em si ser�o terr�veis.

Marcia: Temos um movimento antivacina crescendo, e a comunica��o em torno da covid est� sendo muito prec�ria. Ent�o, se por acaso a primeira vacina for nesse sentido, de prevenir a doen�a, mas n�o que a pessoa infecte outros, isso tem de ser muito bem explicado, porque a chance de aumentar o movimento antivacina por isso � muito grande.

Kalil: N�s partimos do pressuposto de que o que queremos � um tipo de anticorpo que neutraliza o v�rus. Mas quando se estuda o grupo de pessoas que ficaram boas da doen�a, v� que tem muita gente que ou n�o tem anticorpo detectado ou o anticorpo n�o � neutralizante, ou � muito pouco. Jogamos as fichas todas em ter anticorpo neutralizante, e tem gente que se defende de outra forma. O sistema imune � muito mais diverso. Eu estou estudando quais s�o os fragmentos de prote�na que s�o reconhecidos pelos gl�bulos brancos chamados de linf�citos T.

A gente sabe que muita resposta � linf�cito T. E tem quem ache que muita gente n�o pega doen�a, apesar de estar convivendo com algu�m que tem, porque tem uma resposta de c�lulas T que � muito forte por causa de outros adenov�rus. Tem fam�lias em que um pega e o outro, dormindo na mesma cama, n�o. Por isso, quero fazer uma vacina cientificamente mais sofisticada. Estamos estudando a resposta T. Coletamos amostras de 220 indiv�duos convalescentes e estamos estudando detalhes da resposta. A outra coisa � que �s vezes injetando a vacina no m�sculo n�o produz anticorpo que defenda a mucosa nasal e oral, ent�o estudamos vacinas que possam ser dadas pela boca ou pelo nariz.


7. Tipo um �Z� Gotinha� do coronav�rus?

Kalil: Se fiz�ssemos uma vacina est�vel em gota, a facilidade de imuniza��o seria enorme. Ent�o temos de apoiar a ci�ncia. Investir US$ 100 milh�es, US$ 200 milh�es, US$ 1 bilh�o. Isso n�o � nada perto do que est� acontecendo em termos econ�micos. O mundo est� arrasado.

8. Essas quest�es vieram � tona com uma pesquisa que mostrou queda na presen�a de anticorpos em pacientes assintom�ticos. Quais s�o as implica��es disso? Poder� n�o haver imunidade permanente?

Natalia: Os pesquisadores compararam 37 pacientes assintom�ticos com 37 pacientes que apresentaram sintomas. Eles mediram nos pacientes os n�veis de IgG, que � um anticorpo de mem�ria longa e viram que, depois de dois meses, 40% dos assintom�ticos perderam IgG no sangue. N�o dava mais para detectar. E isso ocorreu tamb�m em 13% dos sintom�ticos. Depois saiu um outro trabalho, que acompanhou algumas fam�lias para ver como era a transmiss�o e a forma��o de anticorpos e tamb�m reparou que tinha gente que foi contaminada, mas nem formava anticorpo.

Ainda estamos engatinhando para entender a resposta imune para esse v�rus. Ela parece ser um pouco diferente daquele padr�o com o qual estamos acostumados. Esse v�rus mostra que n�o � todo mundo que produz anticorpo, ou que produz, mas � pouco, ou que produz e depois cai rapidamente. Mas isso n�o quer dizer que as pessoas n�o est�o imunes.

O IgG n�o � a �nica resposta imune de uma pessoa. Ele � apenas um marcador muito usado. E � muito usado porque � f�cil de medir e geralmente tem uma boa correla��o para dizer que uma pessoa j� teve a doen�a e ficou imune. Mas nesse caso parece que ele n�o correlaciona t�o bem. Porque desgra�a pouca � bobagem e esse v�rus tinha de dar mais um ol� na gente. Existem outros tipos de resposta imune. Temos a resposta de c�lulas T, que parecem ser a resposta principal no caso do coronav�rus. Esses pacientes que foram acompanhados nessas fam�lias tiveram a resposta de c�lula T medida.

E viu-se que as pessoas foram infectadas, tiveram a resposta de c�lula T, mas n�o fizeram anticorpos. O que a gente n�o sabe � se essas c�lulas T geraram mem�ria. Ou se mesmo sem a gente detectar anticorpos essas pessoas geram um pouco, mas numa quantidade muito pequena que n�o � detectada nos testes, mas que depois formou c�lulas de mem�ria e que poder�o gerar uma resposta imune se voltarem a ter contato com o v�rus. Tudo isso ainda est� no ar.

O que isso quer dizer, num primeiro momento, � que o IgG n�o � o marcador ideal. E os testes que estamos fazendo de soropreval�ncia na popula��o s�o com IgG. Pode ser que a gente esteja deixando de contar pessoas que j� tiveram, se recuperaram, n�o produziram anticorpos, mas produziram resposta de c�lula T. Outros estudos mostraram que tem pessoas com resposta cruzada com outros coronav�rus - rea��o de c�lulas T. Conseguimos detectar no sangue de outras pessoas c�lulas T que reagiam com outros coronav�rus, de resfriado comum. A gente n�o sabe se de repente pessoas que j� tiveram esses coronav�rus de resfriado comum, e desenvolveram respostas de c�lulas T, ficaram menos suscet�veis ao novo coronav�rus.

Ser� que elas ou nem pegam ou pegam uma doen�a mais leve? Tudo isso a gente ainda est� estudando. E tudo o que a gente vai fazer de vacina depende dessas premissas, que ainda n�o est�o prontas. Mas n�o � motivo para ningu�m se desesperar se o IgG cair. Isso n�o quer dizer que est� automaticamente suscet�vel a uma reinfec��o.


9. Considerando o momento atual da pandemia, em que v�rios lugares no mundo que reabriram voltaram a ter casos e est�o sendo obrigados a fechar novamente. Sem a vacina, talvez teremos de planejar um mundo em que ficaremos retomando o isolamento de tempos em tempos, at� ter um produto?

Marcia: Acho que sem a vacina a gente vai precisar de ter mecanismo de vigil�ncia muito forte, para tentar conter e manter a coisa num n�vel aceit�vel. O Brasil poderia estar fazendo isso e ensinando ao mundo como responder a uma pandemia usando o SUS e a rede de aten��o b�sica. A gente j� perdeu uma chance de fazer a coisa certa. Agora que as cidades est�o reabrindo, a gente ainda pode fazer isso, manter sob controle sem uma vacina. Mas isso s� vai ser poss�vel se usar o SUS, a rede de agentes comunit�rios de sa�de. S� precisamos trein�-los e equip�-los com equipamentos de seguran�a para come�ar a fazer rastreamento de contato. Sem isso, vai ser abre-e-fecha e a� ningu�m aguenta, nem a economia nem a popula��o.

Kalil: Eu fiquei surpreso que, quando come�aram as atividades na Europa, parece que as pessoas esqueceram. Eu vi um v�deo de uma rua de Paris com um bistr� atr�s do outro coalhado de gente, e ningu�m com m�scara. As pessoas em pa�ses super educados e desenvolvidos n�o aprenderam. Ent�o, se a gente n�o ensinar muito bem, as pessoas n�o v�o entender. Elas n�o veem o v�rus, e as pessoas doentes desaparecem de circula��o. As pessoas t�m de ter a consci�ncia, porque essa doen�a � uma roleta russa, voc� nunca sabe o que vai dar para voc�. Gira o tambor e n�o sabe se vai sair tranquilo ou se vai receber um tiro. A gente tem de se cuidar, e para isso teremos de pensar atividade por atividade, empresa por empresa, como agiremos de maneira inteligente na rua, nos locais p�blicos e tamb�m nos locais de trabalho.

Natalia: Para conseguir reabrir com uma certa seguran�a, precisa de monitoramento, testagem e de uma boa comunica��o com a popula��o. Mas n�o fazemos testagem o suficiente, n�o fazemos rastreamento de contatos nem monitoramento, n�o temos uma boa comunica��o com a popula��o nem transpar�ncia dos dados, e temos um governo federal preocupado em mostrar que n�o est� acontecendo nada e n�o � s�rio. J� vemos em algumas cidades as pessoas achando que liberou geral. As consequ�ncias podem ser catastr�ficas e podemos ficar indo de lockdown em lockdown para ver se segura. Sem testagem, rastreamento e comunica��o com a popula��o, estamos trabalhando no escuro. Se algu�m n�o entendeu nada disso, pode perguntar ao ministro da Sa�de, assim que a gente tiver um. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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