Um relat�rio produzido pela Rede de Observat�rios da Seguran�a, grupo de estudos sobre viol�ncia nos Estados de S�o Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Cear� e Pernambuco, reuniu dados que demonstram como a popula��o negra � a principal v�tima da viol�ncia no Pa�s. Os negros (pretos e pardos) s�o 75% dos mortos pela pol�cia. Entre as v�timas de feminic�dio, 61% s�o mulheres negras. Enquanto a taxa geral de homic�dios no Brasil � de 28 pessoas a cada 100 mil habitantes, entre os homens negros de 19 a 24 anos esse n�mero sobe para mais de 200.
"Meninos negros das periferias aprendem a ter medo da pol�cia desde pequenos. Sabem que podem ser alvos de abordagens injustificadas, revistas humilhantes, pris�es ilegais, agress�es verbais, flagrantes falsos e algumas vezes espancamentos e morte", descreve o relat�rio. "Em fevereiro de 2020, o v�deo de uma abordagem policial a um jovem de 16 anos no bairro de Paripe, em Salvador, obrigou o pr�prio governador, Rui Costa, a condenar publicamente a a��o policial. As imagens mostram que o PM d� murros e chutes no rapaz, que usava cabelo no estilo black power, afirmando: "Voc� pra mim � um ladr�o. Voc� � vagabundo! Olha essa desgra�a desse cabelo. Tire a� (o chap�u), v�! Essa desgra�a aqui. Voc� � o qu�? Voc� � trabalhador, �, viado?'", narra o texto.
Para os analistas, as opera��es policiais violentas em �reas onde predominam popula��es negras e as abordagens ao "elemento suspeito cor padr�o" s�o difundidas e interpretadas por parte da sociedade como a��es de combate ao crime e n�o como pol�tica p�blica altamente racializada.
"A constru��o hist�rica de um estere�tipo racializado que configura o 'criminoso' guarda conex�o com a ideia das classes perigosas do in�cio do s�culo passado e com o projeto civilizat�rio eug�nico de embranquecimento do pa�s e de elimina��o f�sica do outro", afirma o relat�rio.
A Rede de Observat�rios da Seguran�a � um projeto do Centro de Estudos de Seguran�a e Cidadania (CESeC) lan�ado em 28 de maio de 2019 sob coordena��o geral da cientista social Silvia Ramos. Entre 1� de junho de 2019 e 31 de maio deste ano, os pesquisadores analisaram not�cias divulgadas pela imprensa e informa��es difundidas pelas redes sociais em busca de relatos sobre viol�ncia e seguran�a p�blica nesses cinco Estados. Dos 12.559 registros, apenas 50 se referiam ao racismo ou � inj�ria racial. O relat�rio faz cr�tica � imprensa por raramente registrar a cor das v�timas.
"O racismo � o motor do funcionamento pleno das institui��es herdadas de um pa�s escravista, de uma elite colonial, e essas institui��es agem conferindo desvantagens e privil�gios a partir da ra�a", afirma o texto. O relat�rio tamb�m analisa outros temas relacionados � criminalidade e seguran�a p�blica, como viol�ncia contra mulheres e opera��es policiais.
"O n�mero assombroso de opera��es e patrulhamentos nos Estados traduz uma abordagem da seguran�a p�blica em que pol�ticas de preven��o, Intelig�ncia e investiga��o foram virtualmente abandonadas em favor de pr�ticas de policiamento repressivo nas ruas, onde impera a l�gica do flagrante. A produtividade policial � aferida pelo n�mero de pris�es e apreens�es de drogas", diz o relat�rio.
Citando livro do antrop�logo e especialista em seguran�a Luiz Eduardo Soares, o texto afirma que "esse sistema orienta o policial para as opera��es nas favelas e periferias, onde os policiais batem suas metas prendendo diariamente jovens negros portando ou comercializando pequenas quantidades de drogas no varejo. Assim se desenvolve uma onerosa e in�til estrat�gia de guerra �s drogas, que na pr�tica � uma guerra contra as periferias, e que enche as pris�es de pequenos vendedores do tr�fico, fortalecendo as fac��es".
Analisando mais de 7.000 textos, a Rede constatou que a palavra "investiga��o" aparece apenas 373 vezes e "intelig�ncia", s� 25 vezes.
Feminic�dio
A viol�ncia contra a mulher foi outro tema abordado pelo relat�rio da Rede. "Ao todo foram computados 1.408 casos dessa natureza nos cinco Estados monitorados. Estes casos distribuem-se entre tentativas de feminic�dio/agress�es f�sicas, feminic�dios, viol�ncia sexual/estupros, homic�dios, agress�es verbais, tortura, sequestros, balas perdidas, c�rcere privado, amea�as/coa��o, tentativas de homic�dio e outros. Juntos, feminic�dios e tentativas de feminic�dio correspondem a 68,8% deste total - 454 e 516, respectivamente", relata a Rede.
"As informa��es dispon�veis sobre a motiva��o de todos os casos de viol�ncia contra mulher, nos cinco Estados, mostram 319 casos motivados por brigas, 123 por t�rmino de relacionamentos, 68 por ci�mes e 28 por crime de �dio - aquele praticado contra uma pessoa por ela pertencer � determinada etnia, cor, origem, orienta��o sexual e, neste caso, identidade de g�nero. A maior parte dessas agress�es � praticada por pessoas pr�ximas: 466 casos por companheiros e ex-companheiros; 152 por namorados e ex-namorados; e 68 por outros familiares", segue o texto.
Segundo o relat�rio, um "caso de feminic�dio barbaramente emblem�tico ocorreu em maio de 2019, no bairro do Caj�, em S�o Louren�o da Mata, Pernambuco. D�bora Maria Sales da Silva, de cinco meses, foi espancada at� a morte pelo seu pai, Augusto Silva da Cruz. A m�e da v�tima, que tamb�m sofria viol�ncia pelo companheiro, contou que o marido n�o aceitava o fato de a crian�a ser menina. O Conselho Tutelar local j� havia recebido den�ncias de agress�o e maus-tratos contra a crian�a.
postado em 15/07/2020 18:10
