
Um conjunto de fatores, que inclui o encarecimento da importa��o do produto e a migra��o de fac��es criminosas para o interior do Pa�s, fez com que o n�mero de p�s de maconha identificados e destru�dos pela Pol�cia Federal saltasse de 968.027 em 2018 para 1.585.759 em 2019. De janeiro a 10 de julho deste ano, a PF j� havia localizado outras 303 �reas e destru�do 983.117 unidades da planta.
O relat�rio da PF mostra que, nos �ltimos 10 anos, o Pa�s nunca deixou de produzir maconha em seu pr�prio territ�rio. A novidade, agora, � o avan�o sobre �reas adensadas da Amaz�nia, onde o rastreamento identificou 95 planta��es - o equivalente a 18 campos de futebol.
Desde o ano passado, foram encontradas planta��es em Garraf�o do Norte (munic�pio localizado na regi�o do Alto Rio Guam�), Nova Esperan�a do Piri�, Conc�rdia do Par� e outros munic�pios paraenses. Conc�rdia fica pr�xima ao Rio Capim, na Ba�a do Maraj�, de onde a maconha � escoada de barco para grandes centros do Pa�s.
A �ltima opera��o deste tipo na Amaz�nia havia ocorrido em 2015, mas com inexpressiva �rea de plantio encontrada. Segundo investigadores da PF ouvidos pela reportagem, antes, as planta��es de maconha eram controladas por fam�lias nativas dessas regi�es, que eram recrutadas pelo crime organizado.
Agora, os agentes identificaram c�lulas das pr�prias fac��es criminosas, como do Primeiro Comando da Capital (PCC), montadas para tomar conta dos plantios em cidades no interior do Nordeste e na Amaz�nia.
Os agentes da PF relatam que a maconha tem sido encontrada cada vez mais adensada na caatinga. Para despistar a pol�cia, os plantadores costumam escamotear os p�s da Cannabis em meio a planta��es de macaxeira (mandioca) e outras culturas nativas da regi�o.
Apesar do aumento no n�mero de opera��es e de planta��es encontradas, a PF admite que faltam agentes especializados e investimento para combater a expans�o da produ��o da droga no territ�rio nacional.
Desde o ano passado, foram sete opera��es realizadas pelo �rg�o. Ao todo, foram encontradas quase mil �reas de planta��es, que resultaram na destrui��o de 2,5 milh�es de p�s de maconha, insumo que, segundo a pr�pria institui��o, entraria no mercado brasileiro em forma de 643 toneladas do produto. Procurados, PF e Minist�rio da Justi�a n�o responderam at� 19h30 desta sexta-feira, 17.
Pol�gono da Maconha
O Pol�gono da Maconha � composto por mais de 10 munic�pios da Bahia e Pernambuco. Entre os anos 1970 e 2000, a regi�o chegou a produzir maconha suficiente para abastecer 40% do mercado nacional.
Entre 2005 e 2010, a fiscaliza��o na regi�o foi intensificada com a cria��o de uma superintend�ncia local da PF, o que provocou o �xodo de fam�lias que controlavam o plantio para outras regi�es do Norte e Nordeste.
"H� mais maconha sendo plantada, em mais munic�pios, tanto dentro quanto fora do Pol�gono da Maconha. A PF est� usando tecnologia de rastreamento por sat�lite, o que aumenta a capacidade de identifica��o de plantios", afirmou Jos� Luiz Ratton, coordenador do N�cleo de Estudos e Pesquisas em Pol�ticas de Seguran�a da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
De acordo com Ratton, a apreens�o de tamanha quantidade de maconha nestas �reas indicam que pode haver aumento de outros tipos de crime, como roubo de carga e assaltos a banco, al�m do tr�fico de outras drogas il�citas. "Subst�ncias que n�o podem ser rastreadas por sat�lite e cujo transporte � mais f�cil por envolver menos volume", disse.
Plantar a Cannabis � crime, enquadrado como tr�fico de drogas, e tem pena de at� 20 anos de cadeia. No ano passado, a Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa) discutiu autorizar o plantio de maconha no Pa�s para fins de pesquisa e medicinais. A proposta, no entanto, foi recha�ada. O governo foi contra e a ag�ncia liberou apenas a importa��o de insumos para fabrica��o do medicamento em territ�rio nacional.
Por meio de decis�o judicial, no entanto, uma institui��o da Para�ba � conhecida como sendo a �nica no Pa�s com permiss�o para plantar maconha para fins medicinais. A Abrace Esperan�a atende mais de 3 mil pacientes de todo o Pa�s que dependem do principio ativo para tratamentos diversos.
Par� passa a ter 'quadrado' da planta
Pesquisadores da Universidade Federal do Par� (UFPA) j� identificaram o alastramento do plantio de maconha em 10 munic�pios paraenses, principalmente no nordeste do Estado, regi�o que os traficantes passaram a chamar de Quadrado da Maconha (refer�ncia ao Pol�gono da Maconha).
Segundo o pesquisador Aiala Couto, a regi�o amaz�nica passou a ser alvo dos traficantes depois que as for�as policiais aumentaram a repress�o na Bahia e em Pernambuco. "Essas press�es fizeram um deslocamento, fizeram do Par� e da Amaz�nia os locais ideais para desenvolver o plantio." Ele explica que a cannabis se desenvolveu bem no solo �mido da floresta. Para despistar a pol�cia, os plantadores preparam e adubam imensos terrenos camuflados sob as copas das �rvores.
"Os donos das planta��es n�o moram no Par�. Arrendam terras para plantio e contratam camponeses para trabalhar para eles. Quando tem opera��o policial, os camponeses s�o encarcerados por tr�fico de drogas. Os donos das propriedades n�o s�o vistos." Segundo Couto, fam�lias inteiras migraram da agricultura familiar para o trabalho com o cultivo da erva. "� uma crise econ�mica, sobretudo no que diz respeito o campesinato. Tem uma l�gica de organiza��o, que come�a com precariza��o do trabalho do campo." As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.