Mas oh n�o se esque�am / Da rosa da rosa / Da rosa de Hiroshima / A rosa heredit�ria / A rosa radioativa. O trecho de um dos mais conhecidos poemas de Vinicius de Moraes, A Rosa de Hiroshima, reflete o terror das pessoas comuns sobre o aspecto devastador da energia nuclear, materializada na bomba que devastou a cidade japonesa citada nos versos.
Mas a energia nuclear tamb�m � respons�vel por avan�os que facilitam o cotidiano das pessoas e at� mesmo salvam vidas. "Cabos de transmiss�o de energia em ve�culos s�o irradiados no Instituto de Pesquisas Energ�ticas e Nucleares (Ipen) para ficarem resistentes � chama. Na sa�de, t�cnicas de diagn�stico dependem de um is�topo radioativo produzido em reatores nucleares", explica Claudio Geraldo Sch�n, professor titular no Departamento de Engenharia Metal�rgica e de Materiais da Escola Polit�cnica da Universidade de S�o Paulo (Poli/USP).
Sch�n esteve � frente do grupo de trabalho que solicitou a cria��o do curso de Engenharia Nuclear na USP, que abre turma j� em 2021. Ofertada na Cidade Universit�ria, a gradua��o ter� dura��o de cinco anos em per�odo integral, e o ingresso poder� ser feito pelo vestibular da Fuvest ou pelo Sistema de Sele��o Unificada (Sisu).
Na entrevista a seguir, o professor aborda a nova gradua��o e a atua��o do engenheiro nuclear.
O que motivou a cria��o do curso de Engenharia Nuclear?
Temos no Pa�s um problema de falta de m�o de obra na �rea nuclear. Poucos sabem, mas as a��es de pesquisa no Brasil come�aram junto com a descoberta da pr�pria radia��o, no in�cio do s�culo 20. Foi bem antes das opera��es industriais, que tiveram in�cio no acordo com a Alemanha na d�cada de 1970 e quando houve um esfor�o de forma��o de m�o de obra. Mas, no caso da �rea nuclear, n�o houve continua��o nesse processo de preparo de profissionais e tal omiss�o ficou mais s�ria nos �ltimos dez anos, momento em que se viu a perspectiva dos especialistas da d�cada de 1970 se aposentarem sem as devidas reposi��es. Tendo em vista que o momento dessas substitui��es se aproxima, vimos que criamos nosso curso no momento correto.
Como ser� aplicado?
O curso ter� a primeira turma em 2021. Far� parte como terceira op��o de uma forma��o mais ampla que engloba Engenharia de Materiais e Engenharia Metal�rgica na Escola Polit�cnica da USP. Ser�o tr�s anos de disciplinas compartilhadas entre essas tr�s op��es de engenharia, nos quais fizemos adapta��es. N�s alteramos um pouco as disciplinas do ciclo comum, introduzindo aspectos que s�o pr�prios da engenharia nuclear, como por exemplo o tratamento de radia��es no contexto da f�sico-qu�mica, ou o transporte de n�utrons dentro da disciplina de fen�menos de transporte. Mas estamos estimulando todos os docentes a incluir t�picos de engenharia nuclear em suas disciplinas. Ao fim do terceiro ano, o aluno pode ent�o optar pelo direcionamento exclusivo a engenharia nuclear. Decidimos por essa configura��o para dar uma forma��o mais s�lida nos anos iniciais do curso.
Por que tal integra��o com as Engenharias de Materiais e Metal�rgicas � necess�ria para o interessado no curso de Engenharia Nuclear?
No aspecto em que planejamos o curso, ou seja, na �nfase no ciclo de combust�veis, um aspecto importante � o comportamento das mat�rias-primas da engenharia nuclear como materiais, ou seja, quais s�o suas propriedades mec�nicas e como s�o afetadas por processamento. Assim, a vincula��o aos cursos de Engenharia Metal�rgica e de Engenharia de Materiais � natural. Esses cursos oferecem uma forte base em f�sico-qu�mica de materiais, em ci�ncia dos materiais, assim como disciplinas que discutem a rela��o entre as estruturas e as propriedades dos materiais.
Em que �reas o engenheiro nuclear pode atuar?
Pode atuar em qualquer �rea da ind�stria que utiliza radia��o. Temos sempre no��o negativa do tema, mas � preciso ficar claro que usamos radia��o em v�rias tecnologias presentes no cotidiano. Por exemplo cabos de transmiss�o de energia em ve�culos s�o irradiados no Instituto de Pesquisas Energ�ticas e Nucleares (Ipen) para ficarem resistentes � chama. Na sa�de, t�cnicas de diagn�stico dependem de um is�topo radioativo produzido em reatores nucleares. E lembrando que no Brasil 3% da eletricidade � feita pelas usinas nucleares de Angra 1 e Angra 2.
Desastres em usinas nucleares como os de Chernobyl, na Ucr�nia, e mais recentemente em Fukushima, no Jap�o, despertam medo em muitas pessoas. Como o curso trabalha tais preocupa��es?
A radia��o � algo perigoso, mas na verdade o maior risco � justamente a falta de conhecimento em seu processamento. O engenheiro nuclear � justamente quem domina os modos seguros de lidar com irradia��es e, assim, garante que elas sejam usadas em nosso dia a dia.
E quais s�o as perspectivas para o profissional no cen�rio nacional p�s-pandemia?
Estamos vivendo uma situa��o de crise que causar� um grande impacto em toda a nossa vida. � de se esperar que ocorrer� uma retomada econ�mica e a� ser�o necess�rios implementos na seguran�a energ�tica no Pa�s. A ind�stria nuclear vai ser respons�vel por boa parte da energia brasileira, o que p�e em discuss�o as usinas que est�o sendo constru�das. Angra 3 vai ser conclu�da em algum momento e integrada � grade energ�tica brasileira. Outro grande projeto � o Reator Multiprop�sito Brasileiro (RMB), que ser� constru�do em Iper�, pr�ximo de Sorocaba, que tornar� o Pa�s autossuficiente na fabrica��o de is�topos para radiof�rmacos, colaborando assim na medicina nuclear. Esses s�o grandes exemplos com necessidade espec�fica de produ��o de reatores e que precisar�o de engenheiros nucleares.
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