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Estado de Minas GERAL

Brasileiras se destacam � frente da busca da vacina contra o coronav�rus


25/07/2020 12:15

Por tr�s da parceria que trouxe ao Brasil os testes da vacina de Oxford contra o coronav�rus, algumas brasileiras se destacam na viabiliza��o do acordo e na coordena��o dos estudos. No campo da ci�ncia, onde as mulheres, apesar de numerosas, ainda ocupam menos cargos de lideran�a do que os homens, foi uma mulher que intermediou a parceria entre o Brasil e o Reino Unido para trazer os estudos cl�nicos do imunizante ao Pa�s.

Os tr�s centros de estudo da vacina no Brasil, em S�o Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, t�m � frente dos trabalhos cientistas mulheres, assim como o bra�o brasileiro do laborat�rio farmac�utico AstraZeneca, que fez parceria com a Fiocruz para transferir a tecnologia do produto. A funda��o centen�ria, ali�s, tamb�m tem como presidente uma mulher - a primeira em 120 anos de hist�ria. E at� a primeira volunt�ria a receber a vacina tamb�m � uma cirurgi� dentista que atua na linha de frente de atendimento aos pacientes com covid.

O Estad�o entrevistou algumas das mulheres protagonistas da pesquisa da vacina no Brasil. Conhe�a abaixo as hist�rias dessas cientistas e como veem o papel das mulheres na ci�ncia..

'Lutei como uma leoa para trazer a pesquisa'

Era 6 de maio quando a infectologista carioca Sue Ann Costa Clemens recebeu uma liga��o de Andrew Pollard, investigador chefe da Universidade de Oxford no estudo da vacina contra a covid-19. A brasileira, diretora do Instituto para a Sa�de Global da Universidade de Siena (It�lia), j� era conhecida do brit�nico por sua larga experi�ncia em estudos cl�nicos com um grande n�mero de participantes. Em uma das pesquisas que coordenou, ela conseguiu recrutar 60 mil volunt�rios em apenas seis meses.

Era dessa rapidez no recrutamento que os brit�nicos precisavam para n�o perder a janela de oportunidade para os testes da vacina. Para que um imunizante tenha sua efic�cia medida adequadamente, ele precisa ser testado em uma popula��o com alta exposi��o ao v�rus. Era fundamental, portanto, que os testes come�assem quando a curva de casos ainda estivesse em ascens�o.

Pollard consultou Sue sobre a possibilidade de ela encontrar centros de estudo capacitados e coordenar a pesquisa por aqui. A brasileira aceitou na hora. Sabia que trazer o estudo para o Brasil facilitaria nosso acesso ao imunizante. "Dois dias depois da liga��o do professor Andrew eu j� estava com todo o estudo desenhado na cabe�a. Entre o primeiro contato dele e eu abrir o primeiro centro, foram 44 dias. Lutei como uma leoa para trazer esse estudo para o Brasil. Sabia que se tiv�ssemos a pesquisa aqui, nossa popula��o seria beneficiada".

At� a pesquisa come�ar, Sue atuou em v�rias frentes para viabilizar a parceria, desde aluguel de m�veis at� pedidos de financiamento para o estudo. "A primeira coisa que fiz foi ligar para o (ent�o) ministro (da Sa�de, Nelson) Teich, que deu todo o suporte e pediu para eu apresentar a proposta. N�o t�nhamos ainda dinheiro, ent�o fui bater na porta do Instituto D�Or e da Funda��o Lemann, que toparam apoiar o projeto".

A m�dica tamb�m fez contato com pesquisadores da Unifesp, em S�o Paulo, que ela j� conhecia da �poca de seu doutorado, para ali montar o principal centro de estudo. "Come�amos a recrutar os volunt�rios muito r�pido. Com um m�s, j� estamos com 1,7 mil vacinados e a expectativa � vacinar os 5 mil volunt�rios at� o fim de agosto", conta. O volume de trabalho "tem sido insano", incluindo conversas di�rias com o time de Oxford e de outros pa�ses que tamb�m est�o testando a vacina.

'Temos de valorizar a presen�a feminina'

Muito antes do in�cio das tratativas para um acordo de produ��o da vacina de Oxford no Brasil, a soci�loga N�sia Trindade Lima, presidente da Funda��o Oswaldo Cruz (Fiocruz) - a primeira mulher em 120 anos de hist�ria -, j� estava mergulhada na resposta brasileira � covid-19. Quando o v�rus castigava a China e fazia suas primeiras v�timas no Brasil, N�sia j� coordenava a��es que ficaram sob a responsabilidade da institui��o, como a produ��o de milh�es de testes diagn�sticos, a capacita��o de laborat�rios p�blicos do Pa�s e de pa�ses vizinhos e a prepara��o do seu instituto de infectologia para atender a pacientes com a doen�a.

Entre final de abril e in�cio de maio, N�sia e equipe entraram em nova frente de batalha - a an�lise das diferentes vacinas que estavam sendo testadas no mundo para pensar em formas de fazer parcerias e facilitar o acesso do Pa�s ao imunizante. "Intensificamos a prospec��o de todas as vacinas existentes. Fizemos uma matriz de an�lise em conjunto com a Secretaria de Ci�ncia e Tecnologia do Minist�rio da Sa�de", conta ela.

A partir dos resultados preliminares dessas vacinas e de conversas entre o Brasil e os respons�veis de Oxford, decidiu-se firmar um acordo com os parceiros brit�nicos. "Com base na nossa an�lise, o governo brasileiro firmou uma carta se comprometendo a adquirir 30,4 milh�es de doses da vacina, mas com o acordo de que haver� a transfer�ncia integral da tecnologia para que possamos produzir nacionalmente na Fiocruz, por meio de Biomanguinhos. Com isso, o Brasil poder� ser autossuficiente", destaca ela.

N�sia est� em seu quarto ano como presidente da Fiocruz, mas j� acumula mais de tr�s d�cadas na institui��o. Mesmo assim, ainda sofre questionamentos sobre sua compet�ncia para estar no posto. "A Fiocruz tem 56% dos trabalhadores mulheres e, na �rea de pesquisa, 57%. Mas nos cargos de gest�o essa progress�o n�o � acompanhada."

Diante das dificuldades e do lento avan�o rumo � igualdade de g�nero na ci�ncia (e na sociedade como um todo), ela destaca: "S�o muitas mulheres na linha de frente dessa resposta (ao desafio da covid-19) na Fiocruz: desde o laborat�rio de refer�ncia para v�rus respirat�rios at� a �rea de pesquisa cl�nica. Temos que valorizar essa presen�a em espa�os t�o importantes."

'Meus filhos pequenos j� sabem o que � vacina'

Na casa de Maria Augusta Bernardini, seus filhos, de 3 e 7 anos, j� sabem o que � vacina. A diretora m�dica da AstraZeneca no Brasil teve que conversar com as crian�as para justificar por que tem trabalhado tanto desde maio, quando o laborat�rio, parceiro da Universidade de Oxford no desenvolvimento da vacina, iniciou o processo de parceria com o Brasil para futura produ��o do imunizante. A diretora coordena uma equipe de cerca de 25 pessoas que trabalham em diversas frentes. "Como temos expertise em pesquisa cl�nica, colaboramos com a documenta��o para aprova��o da pesquisa. Depois veio a parceria com a Fiocruz para futura transfer�ncia de tecnologia", diz.

O per�odo que antecedeu a aprova��o do estudo junto � Anvisa e � Comiss�o Nacional de �tica em Pesquisa (Conep) foi o de maior estresse, segundo ela. "Precis�vamos correr para iniciar o estudo quando a pandemia ainda estivesse no pico aqui", conta. Agora, com a pesquisa j� aprovada e em andamento, Maria Augusta conta que o maior desafio � lidar com as expectativas externas sobre o resultado. "O mundo inteiro, at� meus familiares e amigos, est�o ansiosos por uma vacina. Alguns me pressionam, mas n�o temos respostas ainda", diz.

A diretora, que lida quase diariamente com outras mulheres � frente do processo, defende que a lideran�a feminina seja mais valorizada. "Tenho orgulho de ver tantas mulheres nessas posi��es", diz ela, que integra um grupo de empoderamento dentro da AstraZeneca.

Para a diretora, desigualdades hist�ricas s�o combatidas n�o s� com oportunidades, mas com exemplos. "� importante outras mulheres verem que estamos em posi��es de destaque para que n�o tenham um pensamento limitante", adverte. "Quando fiz o processo seletivo para a AstraZeneca e fui chamada, havia decidido que n�o trocaria de emprego na ocasi�o porque estava tentando engravidar. Cheguei a falar isso para o RH da empresa e eles me disseram que isso de forma alguma seria um impeditivo. Me senti muito estimulada".

Desde ent�o, ela teve dois filhos e acumulou promo��es. A li��o que tirou: "Voltei de uma licen�a-maternidade e fui promovida. � importante que as empresas tenham pol�ticas de inclus�o para evitar que a pr�pria mulher se sabote tendo que escolher entre uma �rea ou outra da vida."

'N�o tinha como ficar indiferente ao que vi'

Nos �ltimos quatro meses, a cirurgi� dentista Denise Abranches n�o teve folga um dia sequer. Coordenadora da odontologia do Hospital S�o Paulo, da Unifesp, onde trabalha h� 20 anos, ela passou at� mesmo seu anivers�rio de 47 anos, no dia 14 de junho, cuidando de pacientes com covid-19 na UTI.

Ela trabalha de segunda a segunda, coordenando uma equipe de 25 dentistas e capacitando a �rea de enfermagem a lidar com esses doentes. � dela a miss�o de definir os protocolos para a higieniza��o da boca dos pacientes - e isso n�o � mero detalhe. Quando eles s�o entubados, h� maior risco de les�es bucais, porta de entrada para micro-organismos e de infec��es secund�rias perigosas.

Nessa jornada, o que mais a abalou n�o foi o risco de contamina��o ao que est� exposta nem as UTIs lotadas. Foi ver a morte solit�ria dos pacientes. O pesar pela situa��o foi o que a moveu a se voluntariar para participar da pesquisa de poss�vel vacina pela Universidade de Oxford.

Denise tornou-se, no final de junho, a primeira brasileira a receber o imunizante em teste, que contar� com 5 mil volunt�rios no Pa�s. Assim que soube que a Unifesp participaria da pesquisa brit�nica e que profissionais da sa�de seriam volunt�rios, foi imediatamente se inscrever. "Eu sa� da sala de reuni�o e, no mesmo minuto, atravessei a rua e fui ao Centro de Refer�ncia para Imunobiol�gicos Especiais (CRIE) me voluntariar. N�o pensei duas vezes. Pra mim n�o � um sacrif�cio, � uma forma de contribuir", diz.

Denise tomou a dose do imunizante no dia 23 de junho, por via intramuscular e, desde ent�o, vem preenchendo um di�rio eletr�nico sobre seu estado de sa�de. "Tenho que medir a temperatura todos os dias e relatar se tive algum sintoma ou evento adverso. At� agora est� tudo normal". A dentista, como os demais volunt�rios, n�o sabe se recebeu o imunizante em teste ou uma vacina contra meningite que est� sendo dada aos volunt�rios do grupo de controle. Nem pesquisadores nem participantes s�o informados, para que n�o haja nenhuma influ�ncia nos resultados.

Denise encara a decis�o como uma obriga��o cidad�. "Essa pandemia ressignificou muita coisa para mim e para todos na linha de frente. N�o tem como ficar indiferente vendo o que eu vi, por isso considerei como um dever participar da pesquisa", conta.

As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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