V�rus sem controle torna Pa�s atrativo para testar vacina

Pa�ses ou regi�es ricas como Estados Unidos, Reino Unido, Uni�o Europeia e Jap�o sa�ram na frente na corrida para estocar vacinas contra o coronav�rus e, juntos, j� reservaram mais de 1,3 bilh�o de doses - todos esses imunizantes est�o em fase de testes. O fato curioso � que o Brasil tamb�m est� no topo desse ranking, mas por raz�es contradit�rias. Por ter milhares de infectados, tornou-se atrativo para realiza��o de testes e, como consequ�ncia, garantiu a prioridade na compra dessas poss�veis vacinas.

O Brasil fechou acordo em junho para receber 100 milh�es de doses da vacina produzida pela Universidade de Oxford e pela farmac�utica AstraZeneca. A aproxima��o aconteceu inicialmente porque na Inglaterra n�o havia quantidade de infectados suficiente para tornar r�pida a fase de testes. E o Brasil, al�m reunir alto n�mero de contaminados, tem laborat�rios com tecnologia e capacidade para desenvolver vacinas. Foi firmada a parceria com a Fiocruz.

O acordo prev� compartilhamento de tecnologia e prioridade na compra das vacinas. O governo nacional investiu US$ 127 milh�es por 30,4 milh�es de doses mesmo sem efic�cia comprovada: 15,2 milh�es devem ser enviadas em dezembro e 15,2 milh�es, em janeiro. Se a vacina for comprovadamente segura, as outras 70 milh�es de doses ser�o compradas, com previs�o de entrega entre mar�o e maio de 2021.

A outra parceria brasileira � entre o Instituto Butant� e o laborat�rio chin�s Sinovac. O acordo prev� entrega de 120 milh�es de doses, em quatro remessas, at� junho de 2021. A vacina come�ou a ser testada em 21 de julho em volunt�rios no Hospital da Cl�nicas. No total, ser�o 9 mil brasileiros testados em 12 centros no Pa�s.

"O lament�vel alto n�mero de �bitos e de infectados e a falta de pol�tica p�blica organizada colaboraram para a vacina chegar com maior anteced�ncia no Brasil. � muito estranho, mas � o que est� acontecendo", comentou Vitor Engr�cia Valenti, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Valenti acredita que o Brasil n�o conseguir� vacinar toda a popula��o at� o final do pr�ximo ano. "� poss�vel que em 2021, pensando em um n�mero realista, entre 50% a 60% dos brasileiros possam estar vacinados. Isso coincide com a teoria da imunidade de grupo, de rebanho. Acredito que a covid-19 n�o ser� erradicada em 2021, mas o impacto ser� bem menos forte do que agora", disse.

No mundo, o cen�rio � ainda menos otimista, apesar de na ter�a-feira a R�ssia ter anunciado uma boa not�cia. O presidente Vladimir Putin disse que seu pa�s se tornou o primeiro a aprovar a regulamenta��o para uma vacina contra a covid-19, ap�s menos de dois meses de testes em humanos.

Segundo Kirill Dmitriev, CEO do Fundo Russo de Investimentos Diretos (RFPI, na sigla em russo), a R�ssia j� recebeu pedidos de mais de 20 pa�ses para 1 bilh�o de doses do seu imunizante rec�m-registrado. O governo do Paran� negocia acordo com Moscou.

A corrida pela reserva das doses por pa�ses ricos pode dificultar o acesso de na��es mais pobres �s vacinas. H� pa�ses com reservas maiores do sua popula��o, por exemplo, como � o caso da Inglaterra, por exemplo. "J� vimos isso em outras pandemias. � comum acontecer esse nacionalismo de vacinas. H� cerca de dez anos, com a H1N1 foi a mesma coisa. O que preocupa � que s�o justamente as na��es menos favorecidas que mais sofrem com a falta de condi��es de higiene."

Deborah Suchecki, professora do Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de S�o Paulo (Unifesp), compara essa pressa por estocar as doses com o que se viu no in�cio da pandemia. "As pessoas correram aos supermercados para guardar mantimentos. � um comportamento normal do ser humano, da esp�cie animal. As especula��es de perigo, a amea�a da vida, faz existir essa luta para garantir a sobreviv�ncia primeiro para si e para quem est� pr�ximo", disse.

A Organiza��o Mundial da Sa�de em parceria com outras entidades trabalha para conseguir um acesso igualit�rio e amplo �s doses de vacinas do novo coronav�rus. A meta � arrecadar US$ 18 bilh�es em doa��es para garantir 2 bilh�es de doses at� o final de 2021 para serem distribu�das a na��es de baixa e m�dia renda.

A popula��o mundial atual � de cerca de 7,8 bilh�es de habitantes. "Chegar em 4 bilh�es de pessoas imunizadas em 2021 seria satisfat�rio, mas � dif�cil. N�o digo imposs�vel porque em janeiro acharia imposs�vel existir uma vacina at� o final do ano", encerrou Valenti. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.