
Profissionais de sa�de se preocupam com uma futura epidemia oncol�gica. A Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) j� esperava um aumento de casos at� 2030. A entidade estima que daqui a dez anos o mundo ter� 27 milh�es de novos casos e 17 milh�es de mortes por c�ncer. M�dicos acreditam, contudo, que a data pode ser antecipada pela falta de diagn�sticos. “Tivemos impacto direto no n�mero de pessoas que n�o realizaram consultas. E esses pacientes, muito provavelmente, v�o detectar a doen�a em um est�gio mais avan�ado. Logo, o tratamento vai ser limitado”, explica o radioncologista Felipe Teles, do Hospital Imaculada Concei��o, de Curvelo.
Membro titular da Sociedade Brasileira de Radioterapia, o m�dico explica que a limita��o de tratamentos para um diagn�stico avan�ado pode significar cirurgias mais invasivas ou at� mesmo menor chance de cura. “Alguns tratamentos, quando administrados nessa fase mais avan�ada, podem ser mais t�xicos, deixar mais sequelas e ter uma menor taxa de cura”, pontua. Adiar os exames de rotina, como mamografias, colonoscopias, entre outros, tem impacto direto na detec��o de c�nceres.
A preocupa��o de Teles � a mesma do patologista Cl�vis Klock, presidente do Conselho Consultivo da Sociedade Brasileira de Patologia, que teme uma epidemia de casos avan�ados de c�ncer. “Vimos servi�os que ficaram uma semana inteira sem receber um �nico material para an�lise”, alerta. A redu��o de diagn�sticos diminuiu, consequentemente, os encaminhamentos feitos para os oncologistas e radioncologistas. “Os encaminhamentos reduziram consideravelmente. A gente t� falando de, aproximadamente, 50%”, indica o especialista.
Em entrevista ao programa CB.Sa�de, o diretor do Hospital S�rio-Liban�s em Bras�lia, Gustavo Fernandes, disse ser “muito n�tida essa redu��o”. E destacou: “Eu sou um oncologista cl�nico e a minha vida � tratar de pacientes com c�ncer. Eu vejo a minha agenda, converso com os meus colegas e existe uma redu��o de mais de 50% no n�mero de diagn�sticos.”
Medo
O problema, no entanto, vai al�m. Uma segunda complica��o detectada na pandemia de covid-19 � a aus�ncia de pacientes j� diagnosticados durante o pr�prio tratamento. Uma pesquisa feita pelo Instituto Oncoguia aponta que o medo por cont�gio do novo v�rus foi o motivo mais citado por pacientes que tiveram o tratamento afetado nos �ltimos meses (veja arte). “N�s tivemos v�rios relatos de pacientes que n�o quiseram tratar quando a pandemia come�ou, simplesmente, pelo fato de n�o se sentirem seguros”, confirma o radioncologista Felipe Teles.
Maria Terezinha da Silva Oliveira, 55 anos, acompanha o tratamento do c�ncer de pr�stata do pai, Ant�nio Pereira da Silva, 87 anos, e adiou o in�cio da radioterapia em raz�o do medo da pandemia. Ambos s�o moradores de Curvelo, cidade mineira que acumula quase 500 infec��es e oito mortes pela covid-19. A indica��o do tratamento foi feita em fevereiro, quando o Brasil ainda n�o tinha casos, mas Ant�nio s� come�ou as sess�es de radioterapia no final de julho.
“No in�cio, voc� fica assustado e n�o sabe como �. O medo parece que toma conta”, conta a filha. Depois de ver que n�o podia mais esperar para continuar o tratamento, Ant�nio deu in�cio � radioterapia e j� fez 12 sess�es. “A gente toma todos os cuidados. Sa�mos de m�scara, vamos em um carro pr�prio para poder levar e trazer. O hospital tamb�m tem todos os cuidados e �lcool para todo lado”, relata Terezinha.
Orienta��o
A indica��o � de que todos os pacientes em tratamento falem com os m�dicos de refer�ncia para que recebam a orienta��o adequada. “N�s temos alternativas, mesmo diante da pandemia, seja trocar uma medica��o endovenosa para uma medica��o oral, seja reduzir o tempo de tratamento na radioterapia. N�s conseguimos, por exemplo, diminuir o n�mero de fra��es para que o indiv�duo n�o v� tantas vezes ao hospital. O mais importante, neste momento, � que os pacientes n�o abandonem o tratamento do c�ncer porque o c�ncer n�o vai esperar a pandemia passar”, completa Teles.
O grande problema em adiar o tratamento � o fato de que o c�ncer � uma doen�a tempo sens�vel. Ou seja, quanto mais o tempo passa, maior � a taxa de prolifera��o e progress�o da enfermidade. “Esses tumores, certamente, n�o est�o esperando a pandemia da covid-19 passar”, refor�a o oncologista Gustavo Fernandes. O diretor do Hospital S�rio-Liban�s ressalta que, hoje, a maior parte das estruturas de sa�de j� tem um n�vel apropriado de seguran�a para receber os pacientes. “Hoje, o medo tem que ser menor do que era ontem, porque, hoje, a gente conhece mais e se preparou para cuidar dos pacientes.”