A solidariedade e a chance de aprender com a hist�ria do outro t�m feito parte da vida de quem se disp�s a fazer trabalhos volunt�rios durante a pandemia do novo coronav�rus. Enquanto alguns se organizam sozinhos para iniciar projetos de doa��o, outros fortaleceram a conex�o que j� tinham com a atividade e passaram a contribuir ainda mais. Pode at� ser estranho dizer, mas � justamente em meio ao caos que mais vemos florescer a esperan�a, que faz parte do Dia Nacional do Voluntariado, celebrado nesta sexta-feira, 28.
A crise de sa�de global que fez milh�es de brasileiros perderem total ou parcialmente a renda e �s vezes n�o terem dinheiro para comprar comida incomodou o casal Francisco e Ananely Cattosso, que moram na zona leste da capital paulista. Em 2 de abril, eles publicaram um v�deo no Instagram convidando pessoas a colaborarem com doa��es para montar cestas b�sicas que seriam entregues a algumas fam�lias necessitadas. "N�s nunca participamos de nenhum trabalho volunt�rio. T�nhamos essa vontade, mas n�o sab�amos por onde come�ar. At� que aconteceu essa situa��o da pandemia", relata o t�cnico de enfermagem, de 36 anos.
O despertar para a a��o foi saber que, ap�s o fechamento da escola estadual onde a m�e dele � coordenadora, por causa da pandemia, muitas crian�as ficaram sem a merenda e, portanto, com menos comida. Ele conta que as fam�lias entravam em contato com a institui��o de ensino para saber se havia sobrado algum alimento. Sensibilizados, ele e a esposa resolveram fazer algo para ajudar. "Nossa ideia era conseguir 50 cestas e no final foram cerca de 250." A entrega foi feita no dia 10 de abril no estacionamento da escola.
A a��o que teve in�cio na pandemia representa os muitos interessados em contribuir nesse momento de desordem social. Um ind�cio de que o engajamento solid�rio � maior em momentos dif�ceis � o levantamento feito pela plataforma de voluntariado Atados. Entre 16 mar�o e 30 de junho, o site registrou aumento de 113% nos acessos e 12% nas inscri��es para trabalho volunt�rio em compara��o ao mesmo per�odo de 2019.
"Isso � muito um reflexo da crise de sa�de p�blica, que gerou movimentos em muitos cantos e as pessoas foram sentindo essa necessidade de contribuir de alguma forma. Isso te tira um pouco da zona de conforto e traz sentimento de compromisso social, de identificar que estamos todos conectados e que cada um est� sofrendo de alguma forma os efeitos dessa pandemia", avalia Beatriz Carvalho, coordenadora de relacionamento com ONGs e volunt�rios da Atados.
Picos de engajamento como esse tamb�m foram vistos em duas ocasi�es espec�ficas do ano passado: quando o rompimento de uma barragem em Brumadinho (MG) deixou 259 mortos e 11 desaparecidos e diante das manchas de �leo que se espalharam por praias do Nordeste. "A gente fez uma ativa��o local, que trouxe sentimento da crise, da cat�strofe, sentimento de que precisava fazer alguma coisa. A gente criou campanha pensando em como poderia apoiar com a rede de volunt�rios", explica Beatriz. Embora houvesse um chamado para essas a��es, a disponibilidade das pessoas em colaborar foi significativamente positivo.
Neste ano, uma das pessoas que atenderam ao chamado para colaborar com trabalhos volunt�rios durante a pandemia foi a estudante Yasmin Wicher Damasceno, de 23 anos, que mora em Catanduva, interior paulista. "Comecei na Atados entre mar�o e abril em v�rios projetos. Atuei no Faladores, em que a gente tinha de mapear ONGs interessadas em se cadastrar na plataforma, falar com elas, entender do que precisavam. Tamb�m me inscrevi em um para enviar cartas para idosos em asilos e para profissionais que continuam trabalhando durante a pandemia, e outro em que se um vizinho seu do grupo de risco precisasse de ajuda para ir em algum lugar, voc� vai", conta a jovem.
Al�m do envolvimento com a plataforma, ela segue com a��es que j� vinha fazendo h� alguns anos, como recolher cartelas de medicamentos vazias e tampinhas de pl�stico. Ambas s�o monetizadas e o dinheiro � usado para fabricar cadeiras de rodas e pagar ra��o, vacinas e cuidados com animais resgatados em um pet shop.
O levantamento da Atados mostra que, no per�odo analisado de 2019, 27% dos volunt�rios eram homens enquanto, neste ano, eles representam 45%. O incremento tamb�m foi visto na faixa et�ria de 18 a 24 anos: passou de 14% para 35% dos inscritos. "Eu acho que os dois aumentos s�o causados pelo mesmo efeito, dessa onda de solidariedade, inc�modo que pessoas sentiram e se viram nesse compromisso de agir. E acho que o fato de as pessoas estarem mais em casa contribui tamb�m, principalmente o jovem, que perdeu o conv�vio social", avalia Beatriz.
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