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Estado de Minas DE NOVO

Mais uma vez: cloroquina n�o tem comprova��o cient�fica

Defensores da hidroxicloroquina para tratamento da COVID-19 dizem que h� evid�ncia, mas especialistas explicam que esse n�vel � fr�gil


29/08/2020 16:43

O Pal�cio do Planalto recebeu, nessa semana, um grupo de m�dicos que defende o uso da hidroxicloroquina. Eles discursaram no evento Brasil vencendo a COVID-19 e contestaram o fato de que n�o h� comprova��o cient�fica da medica��o no tratamento de pessoas com o novo coronav�rus, citando que "temos evid�ncia 2-A" para a utiliza��o da cloroquina.

"Para os t�cnicos que est�o nos escutando, voc�s sabem que isso � uma evid�ncia que nos sustenta para tratar com total propriedade e convic��o o que a gente faz. N�s j� temos evid�ncia 2-A, ent�o, podemos e devemos medicar", afirmou a m�dica Raissa Oliveira Azevedo, na presen�a do presidente Jair Messias Bolsonaro (sem partido).

A frase "evid�ncia cient�fica 2-A" passou, ent�o, a ser repetida por parte da popula��o que defende o uso do medicamento contra a COVID-19. Mas � preciso muita calma para n�o confundir o n�vel de evid�ncia com uma comprova��o cient�fica, como explicam especialistas.

David Urbaez, diretor cient�fico da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal e infectologista do Laborat�rio Exame, detalha que � preciso compreender o campo da medicina embasada em evid�ncias para entender o assunto. "Essa �rea foi a grande resposta para anularmos, nas pesquisas, todos os desvios advindos da subjetividade do pesquisador, que sempre quer comprovar que aquilo que ele diz funciona mesmo, al�m de barrar interesses comerciais, que podem estar atr�s de qualquer pesquisa de medicamento", explica.

Vi�s de percep��o

Apesar de chegar ao n�vel 2-A, os estudos sobre a cloroquina como medica��o eficaz contra o novo coronav�rus est�o em um campo fr�gil, segundo Urbaez, pois tratam-se de trabalhos observacionais, que n�o utilizam um grupo de controle para comparar conclus�es.

"Esses trabalhos servem s� como janela para chamar a aten��o que aquilo poder�, eventualmente, ser algo que vale a pena ir a fundo, que vale a pena investir com mais rigorosidade cient�fica. Nesse sentido, pode-se chegar a uma evid�ncia at� 2-A, que s�o evid�ncias de estudos de corte, ou seja, de grupo que se observa, mas que n�o t�m grupo controle", explica.

Mais detalhadamente, pode-se dizer que esses testes n�o passaram por uma importante etapa de observa��o cient�fica, os ensaios cl�nicos randomizados, que dividem os pacientes em grupos que recebem a medica��o e outros que tomam placebo, sem que eles ou os pesquisadores saibam quais receberam o qu�. "O efeito placebo � real. Apenas pelo fato de algu�m estar cuidando das pessoas, elas podem ter melhora no quadro cl�nico. Isso anula totalmente o vi�s de percep��o do pesquisador", pontua David.

Em suma, n�o � poss�vel concluir a efic�cia de um medicamento que n�o passou por essas etapas. "Nos ensaios cl�nicos randomizados duplo-cego com placebo, s�o anulados quaisquer tipos de desvios resultantes da vontade do grupo de pesquisa de mostrar que aquilo � real. Isso � o que representa, ent�o, a evid�ncia 1-A", classifica o especialista.

David Urbaez conclui que, atualmente, para propor um protocolo de medicamento, � exigida a evid�ncia 1-A, que seja decorrente desses ensaios cl�nicos. "Infelizmente, a popula��o geral, inclusive os pr�prios m�dicos t�m pouqu�ssima forma��o em termos de interpreta��o da produ��o da verdade cient�fica por meio da metodologia da medicina baseada em evid�ncias. Por isso, temos essa confus�o lament�vel, dolorosa e conden�vel, com a cloroquina", avalia.

Medicamento off label

A infectologista Ana Helena Germoglio ressalta o que vem sendo repetido pelos especialistas: "N�o temos, hoje, nenhuma droga eficaz no tratamento da covid". Ela explica que a cloroquina, em casos de novo coronav�rus, encaixa-se no chamado medicamento off label, rem�dio utilizado para algo que n�o existe indica��o pr�via na bula.

"Para prescrever isso, devemos apontar os riscos e os benef�cios desse tipo de tratamento, j� que esse rem�dio n�o nasceu para esse tratamento", ressalta a especialista. Ela lembra que h� estudos avan�ados que procuraram responder aos questionamentos de benef�cios e malef�cios desse uso.

"Alguns estudos, bem iniciais, apontaram que o uso da cloroquina poderia ter efeito in vitro na redu��o da carga viral. Entretanto, um dos estudos de maior evid�ncia que temos em rela��o � cloroquina s�o os RCTs, aqueles randomizados controlados. J� existem v�rias pesquisas assim que provam que o paciente n�o tem um benef�cio e pode at� ter um malef�cio quando administrados", pontua. Ana Helena conclui, detalhando que "os RCTs t�m um n�vel de evid�ncia acima dos estudos 2-A", pois s�o de evid�ncia A, enquanto os de n�vel 2 s�o de evid�ncia B.


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