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Estado de Minas GERAL

'Pantanal est� triste', diz produtor


14/09/2020 17:43

O drama da maior s�rie de queimadas no Pantanal pode ser visto bem longe das matas e v�rzeas da regi�o e foi presenciado pelo Estad�o. No centro de Cuiab�, em Mato Grosso, as m�scaras de pano anticovid-19 n�o evitam o cheiro forte da nuvem cinzenta sobre a cidade. Os term�metros registram 33�C. O clima � abafado e quente. Neste fim de semana, a fuma�a dos inc�ndios no bioma e na Amaz�nia come�ou a chegar aos Estados do Sudeste e do Sul.

Pela estrada at� Pocon�, primeiro munic�pio da regi�o pantaneira a partir da capital mato-grossense, � poss�vel ver a devasta��o do fogo que consome a vegeta��o nativa desde julho.
Tamb�m fica vis�vel a aus�ncia de a��es intensivas do poder p�blico para conter os focos.

A destrui��o atinge desde propriedades particulares a �reas de grande interesse cient�fico e ambiental. O governo de Mato Grosso estima que mais da metade dos 108 mil hectares do Parque Estadual Encontro das �guas, onde est� a maior concentra��o de on�as-pintadas no planeta, foi queimada. A unidade ecol�gica fica na localidade de Porto Jofre, a 290 quil�metros de Cuiab�. � dali que sa�ram, no come�o da semana, as primeiras imagens de on�as com patas feridas e enfaixadas.

Queimadas numa regi�o de produ��o de bois e secas prolongadas s�o corriqueiras. As deste ano, por�m, alcan�aram dimens�o avassaladora e in�dita para sitiantes, barqueiros e boiadeiros que carregam a experi�ncia de uma vida inteira enfrentando as estiagens.
Pequenos pecuaristas revelam o medo de perder a fonte de renda porque pastos que j� eram modestos foram reduzidos a cinzas.
Montado em um alaz�o, o produtor Celso Rondon vistoria queimadas nas redondezas de Pocon�. Al�m do sobrenome e dos tra�os f�sicos, o encanto com os temas do sert�o tamb�m o assemelha ao marechal C�ndido Mariano, desbravador do Centro-Oeste. Com a sabedoria de quem vive h� 64 anos no Pantanal, diz nunca ter visto sua pequena cria��o de bezerros amea�ada.

O Estad�o encontrou Rondon no fim da Rodovia Transpantaneira. A estrada de 145 quil�metros come�a logo depois do per�metro urbano de Pocon�. � o in�cio do Pantanal mato-grossense - dos 150 mil quil�metros quadrados do bioma no territ�rio brasileiro, 65% est�o em Mato Grosso do Sul e 35% em Mato Grosso. O bioma ocupa ainda �reas da Bol�via e do Paraguai, nossos vizinhos sul-americanos, em um espa�o total que equivale ao Estado de S�o Paulo.

�s margens do caminho de terra e cascalho, a paisagem pantaneira se revela com a presen�a dos primeiros jacar�s e tuiui�s - e com as primeiras grandes �reas em cinzas. Corpos de bichos de pequeno e m�dio porte que n�o conseguiram escapar do fogo est�o por todos os trechos da estrada.

� um percurso formado por uma centena de pontes de madeira, muitas em p�ssimo estado de conserva��o. As estruturas s�o desafiadoras para a seguran�a de moradores e viajantes. Com o inc�ndio, o que era inseguro ficou ainda mais. O fogo derrubou a sustenta��o de algumas pontes e n�o h� nenhum aviso a respeito.

Na sexta-feira, uma das estruturas sem desvios n�o resistiu ao peso de um �nibus. O fluxo foi interrompido. A dica dos pantaneiros para evitar acidentes � explorar ao m�ximo os desvios que existem ao lado das pontes, o que aumenta o tempo da viagem.
Em alguns momentos, o fogo amea�ava "abra�ar" a estrada para chegar ao outro lado e o mais prudente era acelerar o carro.

O Estad�o acolheu a orienta��o quando adentrou a Transpantaneira, por volta das 13 horas da quinta-feira. No caminho, colheu relatos sobre animais em apuros por parte de brigadistas, veterin�rios e nativos. Militares locais disseram que o ponto mais cr�tico estava aos fundos de uma fazenda vizinha ao Parque Encontro das �guas.

Duas dezenas de bombeiros tinham a atribui��o de n�o permitir que o fogo atravessasse um acesso preparado desde a v�spera.
A estrat�gia, confidenciada pelos bombeiros, n�o era a de p�r fim ao fogo - uma miss�o considerada imposs�vel diante da falta de estrutura. Est� de bom tamanho tentar proteger apenas as �reas mais sens�veis e deixar que a natureza decida quando quer por fim �s queimadas, afirmaram em car�ter reservado � reportagem. O fogo que rompe � noite deixa rastros pela manh�. A fuma�a forma uma neblina desde as primeiras horas do dia. O cheiro da queimada e a fuligem s�o permanentes, o que compromete uma frente de a��o contra os inc�ndios.

Em Porto Jofre, quatro aeronaves agr�colas foram deslocadas para lan�ar, a cada sobrevoo, 2 mil litros de �gua sobre focos de inc�ndio. Sem visibilidade segura, os avi�es permaneceram em solo na quinta-feira e na sexta. "Com essa visibilidade de 100 metros n�o tem condi��es de subir", relata o piloto privado Gustavo Borges, 33 anos. "Operamos aqui dois dias, mas j� temos dois dias sem operar."

O inc�ndio � mais um golpe para a ind�stria do turismo que j� vinha mal por causa da covid-19. Com menos clientes, os propriet�rios podem, no entanto, dedicar todo o tempo e esfor�o para proteger a regi�o e ajudar a resgatar animais. Ao chegar na madrugada de quinta-feira a Porto Jofre, um povoado com ilumina��o noturna prec�ria, o Estad�o n�o encontrou pousadas abertas. Ap�s alguma procura e campainhas tocadas em v�o, restou adentrar a varanda de uma delas e pernoitar em redes.

Segundo o Minist�rio da Defesa, estima-se que os focos de inc�ndio concentrados em Pocon�, Bar�o de Melga�o (MT), e uma �rea em Porto Jofre, j� tenham passado por redu��o superior a 72%, conforme relat�rio emitido em 23 de agosto pelo Corpo de Bombeiros de Mato Grosso.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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