
Entre as tr�s perguntas mais buscadas em 2020 com a express�o "como lidar", duas est�o relacionadas a ansiedade e depress�o. Bateu recorde tamb�m o interesse dos brasileiros pelo questionamento do que � a felicidade. Em junho, a pergunta teve o maior volume de buscas dos �ltimos oito anos.
Para especialistas, o comportamento na internet reafirma o que estudos no Brasil e no exterior j� observam: medo, solid�o e incertezas trazidas pela pandemia e o isolamento levam a uma alta de transtornos mentais.
"O medo de contrair a doen�a ou de transmiti-la para familiares do grupo de risco gera ansiedade. A diminui��o do contato presencial e dos v�nculos, impactos econ�micos, sobretudo para os que j� tinham menos recursos, e a exposi��o excessiva a not�cias sobre coronav�rus aumentam o sofrimento mental", diz Ives Cavalcante Passos, professor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Desde abril, ele coordena pesquisa sobre os impactos da pandemia na sa�de mental. Mais de 8 mil pessoas est�o sendo acompanhadas por question�rios online. O objetivo, diz ele, � testar hip�teses, como "observar se esse per�odo est� associado ao aumento de idea��o suicida e de uso de �lcool e drogas".
Levantamento do Estad�o com base em boletins da Comiss�o Nacional de �tica em Pesquisa (Conep), respons�vel por autorizar estudos com humanos, mostra que j� foram aprovadas 97 pesquisas para investigar efeitos ps�quicos da pandemia. Algumas buscam medir o poss�vel aumento de doen�as como depress�o e ansiedade; outras querem medir o impacto psicol�gico em grupos espec�ficos, como profissionais de sa�de, crian�as e adolescentes, idosos e gestantes. Alguns tamb�m investigam quais fatores podem reduzir o risco de um transtorno mental neste per�odo.
Algumas pesquisas j� t�m respostas preliminares. Estudo da Universidade Estadual do Rio (UERJ) verificou que profissionais com mais dificuldade financeira e os que n�o podem trabalhar de casa t�m mais preval�ncia. "Donos de com�rcio, administradores, empres�rios t�m preval�ncia de depress�o 50% maior do que a m�dia da amostra. Profissionais que precisam sair para trabalhar e est�o mais expostos ao risco de contamina��o tamb�m t�m pior sa�de mental", diz Alberto Filgueiras, professor de Psicologia da UERJ, que coordena o estudo.

Ajuda
Para Ives Passos, � importante estar atento a sinais e sintomas persistentes. "Medo e tristeza s�o emo��es b�sicas e fazem parte da vida de todos. Quando ocupam a maior parte do dia e s�o acompanhados de outros sinais, como altera��es no apetite, sono e falta de energia, � necess�rio consultar um profissional." Ele diz que, apesar do tabu, o n�mero de pessoas que buscam ajuda para si um parente ou amigo tem crescido. A alta de buscas no Google indica percep��o do problema. "� importante, por�m, que qualquer interven��o seja feita com aux�lio de um profissional."
Segundo Marco T�lio Pires, coordenador do Google News Lab no Brasil, muitos usu�rios veem na plataforma oportunidade de se informar sobre quest�es pessoais e �ntimas sem julgamentos. "Alguns ficam constrangidos em falar sobre certos assuntos at� mesmo com pessoas pr�ximas e usam o Google para buscar mais informa��es. Se isso j� acontecia antes, com o isolamento ficou mais intenso." O Google, afirma ele, tem aprimorado algoritmos e feito parcerias com especialistas para dar informa��es de qualidade e confi�veis sobre sa�de. "A ideia � priorizar fontes oficiais, autoridades no tema."
Desde 2016, a plataforma tem parceria com o Hospital Albert Einstein na produ��o de conte�do. Ao buscar o nome de uma doen�a, um painel surge do lado direito da tela com informa��es de sintomas e tratamento.
Isolamento e crises
"Foi quando me vi trancada dentro do meu apartamento de 54 m² que comecei a identificar que estar presa e longe dos familiares me fazia muito mal." Essa breve descri��o poderia ser de qualquer um que precisou trabalhar de casa e manter distanciamento por causa do novo coronav�rus. � de uma mulher, de 29 anos, que teve o hist�rico de ansiedade e s�ndrome do p�nico agravado pela pandemia. A terapia, antes semanal, passou a ser tr�s vezes por semana e as doses de rem�dios para controlar as crises aumentaram.
A brasiliense, que preferiu preservar a identidade, faz parte do grupo de pessoas que sentiu o estresse, a ansiedade e a depress�o aumentarem na quarentena, mas as consultas com a psic�loga s�o um ponto de equil�brio para seguir adiante.
"Nesses cinco anos de terapia, s� tive benef�cios e consigo identificar os gatilhos (das crises). Tenho esclarecimento muito maior de mim mesma e falo para as pessoas que sabem que tenho doen�a mental que a terapia n�o � s� para isso. � para a se conhecer e � muito positivo", diz. No passado, as crises de ansiedade tamb�m levaram a um quadro de depress�o.
"Eu estava bem, nunca deixei de fazer tratamento, tinha vida normal em vista das fases que j� tive. Com a pandemia, acabou piorando." O primeiro ind�cio de que as coisas iam mal foi quando passou a trabalhar de casa, em meados de mar�o. "Comecei a ter crises fortes." Ficar longe da m�e e da av� - que moram juntas e s�o do grupo de risco - contribuiu na piora. "Isso foi um dos gatilhos para ter crise de ansiedade e p�nico."
Para a psic�loga Cristina Laubenheimer, v�rios fatores t�m levado � ansiedade extrema, e a mudan�a nas rela��es humanas traz impacto. "De repente, quem antes era seu conforto passa a ser amea�a. Isso gera conflito grande." Em junho, estudo da Ipsos em 16 pa�ses mostrou que o Brasil � o que mais sofre com ansiedade na crise sanit�ria. Dos brasileiros, 41% lidam com o problema. As mulheres s�o as mais afetadas (49%).
Apreens�o
Quem tamb�m recorreu � terapia e passou a tomar calmantes e antidepressivos leves foi Priscilla Martin, instrumentadora cir�rgica e laserterapeuta que continuou trabalhando na pandemia. Ela, de 41 anos, seguiu em contato com diversas pessoas dentro de diferentes hospitais e manteve atendimentos em domic�lio quando a situa��o exigia. Divorciada, a profissional depende dos pais, idosos, para cuidar do filho de 9 anos enquanto passa o dia fora.
"Desde quando come�ou o alarme da covid, fiquei extremamente preocupada. Saindo para trabalhar todo dia, indo aos hospitais, todo mundo com aquela cara de terror. Voc� n�o sabe o que faz, se pode falar, se pode p�r a m�o na ma�aneta. E quando chega em casa, tamb�m n�o sabe bem o que fazer. O tempo todo � nessa tens�o e preocupa��o. Minha vida hoje est� muito mais estressante do que a rotina anterior", conta Priscilla, que chegou a atuar em um parto cuja paciente tinha covid.
Por mais que ela use m�scara, escudo facial, luvas, troque os itens sempre que preciso e use soros para lavar as vias a�reas, a d�vida sempre ronda o pensamento. "Vou para casa e fico: 'ser� que estou realmente salva? Ser� se n�o peguei?'. At� o momento, a gente conseguiu se manter em seguran�a", conta.
"� muito diferente passar pela doen�a e estar com medo de morrer ou sequela, de algo acontecer com o pai, perder o emprego, ficar confinado sozinho e come�ar a sentir solid�o. No geral, estressores do tipo perigo levam mais para quadros de ansiedade. Situa��es de perda levam mais a quadro depressivo", explica o psiquiatra Diogo Lara, do Comit� T�cnico da Alian�a para a Sa�de Populacional.
Dicas para a sa�de mental
Hor�rios: Estabele�a hor�rio para dormir e, uma hora antes, desligue computador, celular e TV, para se desconectar de situa��es de estresse. Defina hor�rios para refei��es, com equil�brio nutricional.
Intervalos: Fa�a pausas de relaxamento de 2 a 3 vezes por dia. Cinco minutos para um exerc�cio de respira��o ajuda a oxigenar o c�rebro e baixar o estresse no corpo.
Gin�stica: Fa�a atividade f�sica. H� apps que indicam exerc�cios r�pidos e de baixa intensidade. Ioga e medita��o tamb�m ajudam.
Sintomas e ajuda: Aten��o a sintomas persistentes que indiquem depress�o e ansiedade. Medo e tristeza constantes, e associados a mudan�as de sono, apetite e falta de energia, podem revelar problemas. Busque aux�lio profissional.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.