Os Pr�mios Nobel de ci�ncia deste ano chamaram a aten��o para a produ��o feminina. Fazia 11 anos que uma premia��o n�o contemplava tr�s mulheres cientistas no mesmo ano. A raridade � regra. Em 120 anos de Nobel, os pr�mios de ci�ncia (Fisiologia ou Medicina, F�sica e Qu�mica) foram concedidos a 622 pessoas (dois homens receberam duas vezes o pr�mio na mesma �rea). Apenas 3,68% eram mulheres.
Na ter�a-feira, a astr�noma norte-americana Andrea Ghez recebeu o Nobel de F�sica e se tornou apenas a quarta mulher na hist�ria a obter a l�urea. Ontem, a microbiologista francesa Emmanuelle Charpentier e a bioqu�mica americana Jennifer Doudna receberam o de Qu�mica, elevando a sete o total de pesquisadoras consagradas na disciplina.
"N�s, astr�nomas, costum�vamos falar que t�nhamos medo de que a Andrea Ghez acabasse n�o levando o pr�mio, s� os homens ganhassem", conta Du�lia de Mello, pesquisadora da Universidade Cat�lica da Am�rica, em Washington.
Desde 1901, somente 22 pesquisadoras foram contempladas nas tr�s �reas. Foram 23 pr�mios para elas, sendo que Marie Curie levou dois - a �nica pessoa a receber pr�mios de duas �reas distintas da ci�ncia: F�sica e Qu�mica. Medicina responde pela maioria dos pr�mios cient�ficos femininos: 12.
A disparidade fica ainda mais clara quando se observam dados de produ��o cient�fica no mundo. Nas �ltimas d�cadas, tem aumentado a presen�a de mulheres na academia e na realiza��o de ci�ncia de ponta, mas o pr�mio ainda n�o reflete essa redu��o da desigualdade.
O relat�rio "A Jornada do Pesquisador pela Lente de G�nero", publicado pela Editora Elsevier em mar�o deste ano, mostrou que em 20 anos houve um avan�o da participa��o feminina em todo o mundo na publica��o de artigos cient�ficos.
O documento considerou a evolu��o da paridade de g�nero entre cientistas de 15 pa�ses com base em publica��es em peri�dicos da base Scopus em dois per�odos: entre 2014 e 2018 e entre 1999 e 2003. Segundo o levantamento, passou de 29% para 38% o n�mero de mulheres entre os autores de pesquisas em todo o mundo. O Brasil � um dos pa�ses onde mais cresceu essa participa��o. No in�cio do s�culo, 35,3% dos autores eram mulheres. Hoje elas j� s�o 44,25%.
"Em m�dia, somos 50% dos alunos na gradua��o, no mestrado e no doutorado", afirma a f�sica M�rcia Barbosa, diretora da Academia Brasileira de Ci�ncias (ABC). Os maiores desafios come�am a surgir depois. "Detectamos em nossos estudos que as mulheres t�m menos capacidade de construir redes pol�ticas. N�o somos treinadas para isso desde novas, como os homens", diz. "Quanto mais pol�tico for o cargo, menor � o porcentual de mulheres ocupando. O Nobel se enquadra nisso, depende de indica��es."
Para a bioqu�mica Helena Nader, ex-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ci�ncia (SBPC) e atual vice-presidente da ABC, a baixa presen�a de mulheres no Nobel � um s�mbolo de que a ci�ncia ainda � machista. "O Nobel funciona com vota��o. Considera-se o quanto o pesquisador � conhecido, al�m do m�rito da pesquisa, que � o mais �bvio. A circula��o � importante, mas as mulheres ainda circulam menos", diz Helena.
"Tamb�m tem um lobby. E a maioria dos vencedores � dos EUA e da Europa, onde a propor��o de mulheres ainda n�o � t�o grande." O estudo da Elsevier de fato mostrou que nos EUA, as mulheres s�o 33,6% dos autores de artigos cient�ficos. Na Alemanha s�o 32%, no Reino Unido, 37,5%, e na Fran�a, 39%.
Injusti�a
Na hist�ria recente da ci�ncia houve algumas injusti�as hist�ricas no reconhecimento do trabalho das cientistas. A mais not�ria ocorreu com a qu�mica brit�nica Rosalind Franklin (1920-1958) cujas pesquisas foram cruciais para a descoberta da estrutura de dupla h�lice do DNA. Ela, por�m, nem sequer assinou o artigo de James Watson e Francis Crick. Em 1962, os dois ganharam o Nobel de Qu�mica com Maurice Wilkins sem nunca reconhecerem apropriadamente a import�ncia do trabalho de Rosalind. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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