Um grupo de 80 pesquisadores alertaram nesta quarta-feira, 14, em carta � revista The Lancet, que abordagens sobre imunidade de rebanho para manejo da covid-19 � uma "fal�cia perigosa" ao permitir que a imunidade se desenvolva em popula��es de baixo risco enquanto se protege os mais vulner�veis. Segundo eles, essa estrat�gia "n�o tem apoio de evid�ncia cient�fica". O alerta foi feito diante da segunda onda do novo coronav�rus que atinge a Europa, com mais de um milh�o de mortes em todo o mundo devido � doen�a.
No documento, os cientistas de universidades de diferentes pa�ses, como Reino Unido, Estados Unidos, Alemanha e It�lia, e de distintos campos da sa�de, apresentaram observa��es do consenso cient�fico acerca da compreens�o da covid-19, al�m das estrat�gias que precisam ser implementadas para proteger sociedades e economias. Eles afirmam que, na fase inicial da pandemia, muitos pa�ses institu�ram lockdown para reduzir a dissemina��o do v�rus, o que "foi essencial para diminuir a mortalidade, proteger os servi�os de sa�de de ficarem sobrecarregados e ganhar tempo para articular sistemas de resposta para suprimir a transmiss�o".
Contudo, os pesquisadores reconhecem que a medida teve impactos na sa�de f�sica e mental das pessoas, bem como amea�ou a economia das na��es, sendo pior naquelas que n�o conseguiram estabelecer um sistema de controle efetivo. "Isso, compreensivelmente, levou a desmoraliza��o generalizada e diminui��o da confian�a. A chegada de um segunda onda e a compreens�o dos desafios � frente levaram a um interesse renovado na chamada imunidade de rebanho, o que sugere permitir um grande surto n�o controlado na popula��o de baixo risco enquanto se protege os vulner�veis", afirmam, para em seguida dizerem que "essa � uma fal�cia perigosa n�o suportada por evid�ncias cient�ficas".
Os cientistas justificam que qualquer estrat�gia de manejo de pandemia baseada na imunidade de infec��es naturais da covid-19 � falha e que a transmiss�o n�o controlada em pessoas mais jovens representaria um risco significativo de mortalidade em toda a popula��o. Eles destacam tamb�m que n�o h� evid�ncias de imunidade duradoura ao Sars-CoV-2 ap�s a infec��o e a transmiss�o end�mica, resultado da imunidade decrescente, "representaria um risco para as popula��es vulner�veis por um futuro indefinido." Em vez de acabar com a pandemia, a medida resultaria em repetidas ondas de transmiss�o por muitos anos.
Tamb�m nesta quarta-feira, 14, organiza��es de sa�de p�blica dos Estados Unidos se manifestaram contra a estrat�gia de usar a imunidade de rebanho para controlar a dissemina��o do novo coronav�rus. A declara��o foi uma resposta a um manifesto supostamente escrito por cientistas e n�o cientistas chamado Great Barrington. As institui��es afirmam que as proposi��es n�o s�o baseadas na ci�ncia, ignoram conhecimentos s�lidos de sa�de p�blica e "sacrificariam vidas aleatoriamente e desnecessariamente". Al�m disso, consideram o manifesto como pol�tico, n�o estrat�gico.
"Combater a pandemia com bloqueios ou reabertura total n�o � uma escolha bin�ria,. Precisamos adotar pr�ticas de sa�de p�blica de bom senso que permitam uma reabertura segura da economia e um retorno ao trabalho e aprendizagem presencial, ao mesmo tempo que usamos estrat�gias comprovadas para reduzir a propaga��o do v�rus", defendem. Em agosto, o diretor do programa de emerg�ncias da Organiza��o Mundial da Sa�de afirmou que a imunidade de rebanho n�o � a "salva��o" da pandemia e que n�o se poderia viver na esperan�a disso.
Para os cientistas que escreveram a carta � The Lancet, � fundamental agir de forma decisiva e urgente. "Medidas eficazes para suprimir e controlar a transmiss�o precisam ser amplamente implementadas e devem ser apoiadas por programas financeiros e sociais que incentivem respostas da comunidade e abordem as desigualdades que foram ampliadas pela pandemia", afirmam. Para eles, restri��es cont�nuas provavelmente ser�o necess�rias no curto prazo para evitar futuros lockdowns. "A prote��o de nossas economias est� intimamente ligada ao controle da covid-19. Devemos proteger nossa for�a de trabalho e evitar incertezas de longo prazo."
Os autores concluem que as evid�ncias s�o claras: "controlar a dissemina��o comunit�ria da covid-19 � a melhor maneira de proteger nossas sociedades e economias at� que vacinas e terapias seguras e eficazes cheguem nos pr�ximos meses. N�o podemos permitir distra��es que minem uma resposta eficaz".
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