Ap�s a morte do neto Gabriel Ribeiro Marcondes, de 20 anos, baleado em uma opera��o policial no �ltimo s�bado, o cantor Neguinho da Beija-Flor afirmou que pretende se mudar para Portugal, para criar a filha mais nova, negra e de 12 anos, em seguran�a. O sambista disse que nunca foi militante, mas destacou que "n�o pode tapar o sol com a peneira".
Neguinho referia-se ao racismo que identifica nas a��es policiais em comunidades pobres no Brasil. "Morreram mais dois l�, junto com meu neto. Tinha algum branco? � ruim, hein? S� tinha preto da comunidade", afirmou o av�, hoje com 71 anos. "Se eu n�o tivesse dado sorte na m�sica, se n�o fosse conhecido no mundo todo - no mundo todo, n�o s� no Brasil -, eu n�o estaria mais aqui (vivo) h� muito tempo. Na favela, a pol�cia atira primeiro e pede documento depois."
As reclama��es de Neguinho t�m respaldo nas estat�sticas. Segundo o Atlas da Viol�ncia 2020, editado pelo Instituto de Pesquisa Econ�mica Aplicada (IPEA) e divulgado em agosto, os negros (soma de pretos e pardos, segundo classifica��o do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica) foram 75,7% das v�timas de homic�dios em 2018 no Pa�s. Trata-se de uma taxa de 37,8 por 100 mil habitantes. Entre os n�o negros (soma de brancos, amarelos e ind�genas), a taxa foi de 13,9. A maioria das v�timas � jovem (15 a 29 anos), como Gabriel.
O neto de Neguinho foi baleado no Morro da Bacia, em Nova Igua�u, na Baixada Fluminense, em opera��o policial para reprimir um baile funk. Gabriel trabalhava com montagem de tendas para eventos. Socorrido, foi levado ao Hospital da Posse, mas n�o resistiu.
"O garoto estava desarmado. Mas a� as pessoas falam: 'Ah, mas ele estava no local errado, na hora errada'. E queriam que ele estivesse onde? No Morumbi? Em Copacabana? No BarraShopping? Ali�s, se ele estivesse no shopping, o seguran�a estava andando atr�s dele, com certeza", disse Neguinho. Ele lembrou que o jovem vivia na comunidade, onde o sambista tamb�m j� morou, no passado.
'S� na favela'
Em 2019, 1.810 pessoas foram mortas por disparos de policiais no Rio de Janeiro. A maioria era de jovens negros, moradores de comunidades carentes. "Por que a pol�cia n�o chega em apartamento atirando, matando gente? Nos apartamentos onde tem milh�es de d�lares escondidos? Onde as pessoas colocam dinheiro na cueca? � s� na favela", reclamou Neguinho. Ele acompanhou o filho, pai de Gabriel, � delegacia e disse que pretende processar o Estado pela morte do rapaz.
O sambista disse que j� tinha planos para se mudar para Portugal, onde outros parentes j� est�o morando. Com a morte tr�gica do neto, a vontade se intensificou. Ele avisa que tem uma filha, Luisa, "de pele escura, como a minha", e pergunta: �Como � que eu vou viver aqui? Vou dar no p�".
Ele lembrou que h� "negros presos injustamente", cujas fam�lias tiveram de se mobilizar para provar que eram inocentes, e outros que morreram na cadeia, "sem culpa de nada". "Fiquei velho pra ver a PF prender branco de olho azul. Mas, mesmo assim, tem segunda inst�ncia, tem habeas corpus, tem tornozeleira, tem o cacete... Para preto favelado n�o tem nada disso", desabafou.
Na �ltima segunda-feira, a Pol�cia Civil abriu um inqu�rito para apurar as circunst�ncias das mortes dos tr�s jovens. De acordo com a PM, os policiais receberam uma den�ncia de que um baile funk n�o autorizado estaria bloqueando uma via p�blica no Morro da Bacia. Eles contaram que tentaram abordar dois homens que estavam em uma motocicleta. Na persegui��o, teriam recebido v�rios tiros de traficantes da comunidade e revidado.
O Estad�o pediu � PM um posicionamento sobre as acusa��es feitas por Neguinho da Beija-Flor, mas at� as 19h30 de ontem n�o havia resposta.
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