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Estado de Minas GERAL

Brasileiros LGBT tentam ganhar espa�o na Igreja Cat�lica


26/10/2020 18:37

A recente declara��o do papa Francisco de apoio � uni�o civil de homossexuais retomou a discuss�o sobre o espa�o da popula��o LGBT tamb�m dentro da Igreja Cat�lica. Embora enfrente ainda grande resist�ncia, em que sua conduta sexual e afetiva � majoritariamente vista como pecado, esse grupo tem se organizado em coletivos e a��es pastorais e at� ganhado apoio de par�quias e lideran�as religiosas.

No Brasil, a Rede Nacional de Grupos Cat�licos LGBT j� integra pelo menos 20 grupos das regi�es Sul, Sudeste, Centro-oeste e Nordeste do Pa�s. H�, ainda, outras entidades de n�vel nacional, como a Diversidade Cat�lica, fundada em 2007.

Cat�lica "de ber�o", a psic�loga Marianne Luna, de 25 anos, esteve � frente de iniciativas variadas dentro da igreja desde a adolesc�ncia. Por alguns anos, chegou a afastar-se, mas retornou em 2013, "tentando ter uma rela��o mais saud�vel com os dogmas" e de desconstru��o de alguns tabus, como discuss�es sobre feminismo e racismo dentro da religi�o.

Hoje, � uma das coordenadoras do Movimento Pastoral LGBT Marielle Franco, tamb�m chamado de Mopa. Fundado em 2018, o grupo realiza atividades na Par�quia Nossa Senhora do Carmo, em Itaquera, que integra a diocese de S�o Miguel Paulista. Embora fique na zona leste, Marianne diz que as a��es acolhem pessoas "da cidade inteira", sendo ela mesmo da regi�o sul paulistana.

Os encontros s�o formativo-religiosos, com acolhimento e discuss�es, e ocorrem em uma sala da par�quia, com divulga��o em murais na igreja e durante a pr�pria missa, embora por vezes haja resist�ncia de alguns frequentadores. Eventualmente, o grupo consegue a participa��o pontual de algum religioso "Muitos dos jovens que v�o at� os encontros s�o de fam�lias que n�o sabem (que s�o LGBT), n�o t�m um lugar pra conversar", comenta.

Embora esse tipo de a��o seja realizada por leigos (fi�is n�o ordenados), a psic�loga conta que grupos como o que ela coordena recebem suporte informal de religiosos. "N�o tem muito apoio p�blico (pelo receio de serem repreendidos), mas acontece."

Para ela, a fala recente e posicionamentos anteriores do papa Francisco ajudam na redu��o da intoler�ncia. "LGBTs dentro da igreja cat�lica sempre existiram, mas foram silenciados por muito tempo. Mas a fala n�o me d� certeza de que um dia pessoas LGBT poder�o se casar na igreja, o que seria o meu sonho", lamenta.

Outro coletivo com proposta semelhante � o Grupo Diversidade, anteriormente conhecido como Pastoral da Diversidade Sexual, de Belo Horizonte, que tem um foco no apoio � popula��o transg�nero e travesti que mora no entorno da Par�quia S�o Francisco das Chagas. "Est�vamos inquietos com essa realidade. Algumas vinham na par�quia quando uma morria, queriam a presen�a do padre", afirma um dos coordenadores do grupo, criado em 2017, o professor Felipe Marcelino, de 30 anos.

Segundo ele, a par�quia tem um n�mero expressivo de frequentadores gays, cuja orienta��o sexual � conhecida no local. "Toda par�quia tem pessoas LGBTs, gays, l�sbicas. As comunidades toleram, mas isso n�o � discutido", comenta. "Todo mundo na par�quia sabia que eu era gay, mas ningu�m dizia, era uma coisa velada. A gente trabalha muito a quest�o de como inserir o debate da diversidade sexual e de g�nero dentro de igreja."

Do interior mineiro, Marcelino sempre participou da igreja e foi at� coroinha, mas sofreu na adolesc�ncia ao se sentir culpado pela pr�pria sexualidade. "Aos 15 anos, tive minha primeira experi�ncia afetiva, foi muito forte para mim. Lembro dessa confus�o, recorri � igreja, chorei muito, ficava arrependido, tinha a sensa��o de que era impuro. Esse discurso � muito pesado, gera sentimento de culpa."

Para ele, a receptividade a esse tipo de tema � maior hoje em dia. "O que o papa fala � muito coerente pela pr�pria doutrina igreja, que defende o estado laico. Ele n�o fala de casamento religioso, fala de direito civil", destaca. "� um avan�o, uma fala impactante, toca no assunto com tranquilidade, sem tabu. E ele sabe do peso que a palavra dele tem. � importante porque muita gente utiliza o discurso religioso para se justificar como homof�bico."

Casamento religioso ainda � sonho distante

Um dos pontos de mais dif�cil inser��o � o de reconhecimento do casamento. No Brasil, nos �ltimos anos, padres de diferentes localidades chegaram a ser afastados e punidos por participarem da cerim�nias de matrim�nio de casais LGBT, mesmo que fora da igreja. Outros foram criticados por setores conservados por abordar o assunto em alguma fala.

Em Goi�nia, por exemplo, o padre C�sar Garcia foi afastado ap�s dar uma b�n��o no casamento dos arquitetos Leo Romano, de 49 anos, e Marcelo Tentro, de 45 anos, de quem era amigo. "Ele estava com uma roupa normal (terno, n�o batina), falou lindamente palavras de amor, contra o preconceito, foi uma cerim�nia super respeitosa e afetiva", recorda Romano. "Foi uma repercuss�o no Brasil todo. Por uma coisa que deveria ser cotidiana, deu uma tempestade."

Para ele, a declara��o do papa � importante. "� um degrau a mais, n�o deixa de ser uma conquista, tardia", comenta. "Infelizmente, a gente precisa de chancelas para que possam entender e ver que as coisas evoluem, o que era velado deixa de ser."

Outro caso, com resolu��o mais positiva, foi o do batismo dos tr�s filhos (Alyson, J�ssica e Filipe, ent�o com 16, 14 e 12 anos) do professor universit�rio Toni Reis, de 56 anos, e do tradutor David Harrad, de 62 anos, realizado em 2017 em Curitiba. "Eles que pediram (para serem batizados). Buscamos quatro igrejas diferentes, mas disseram n�o. Procurei o arcebispo, que aceitou."

Tempos ap�s a cerim�nia, o professor reuniu algumas fotos e mandou para o Vaticano. A resposta veio meses depois, em uma carta do monsenhor Paolo Borgia que trazia uma foto do pont�fice. "O papa Francisco lhe deseja felicidades, invocando para a sua fam�lia a abund�ncia das gra�as divinas, a fim de viverem constante a condi��o de crist�os", dizia um trecho.

Hoje, a carta est� enquadrada na sala e emociona Toni, que na inf�ncia colocava os vestidos da m�e para brincar de celebrar missa. Anos depois, na adolesc�ncia, afastou-se por algum tempo do catolicismo ap�s um religioso local lhe dizer que estava em pecado.

Ele tamb�m elogia a recente declara��o do l�der cat�lico. "O amor crist�o deve ser incondicional, n�o deve semear o �dio, seja contra gays, ciganos, ateus, judeus, agn�sticos, veganos, corintianos. Todos fomos feitos � imagem e semelhan�a de Deus e temos que ter guarida na igreja."


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