
Quatorze dos 16 munic�pios do Estado foram afetados, o que prejudicou cerca de 775 mil amapaenses. A historiadora Marcella Viana, de 27 anos, conta que est� recebendo amigos de todas as regi�es de Macap� na quitinete de dois quartos que divide com a m�e, de 50 anos, e as irm�s, de 8 e 20. "A circula��o l� est� alta porque tenho muitos amigos que moram sozinhos e est�o sem ter como comer ou tomar banho", diz. Ela tem ido a um restaurante no centro, que funciona por gerador, para carregar o celular e divulgar a crise na internet Nas redes sociais, a hashtag #sosamapa ficou entre as mais compartilhadas.
Para quem mora nas comunidades mais afastadas, os baldes e litros de �gua fluvial podem custar at� R$ 20 para o transporte. Nos supermercados, o gal�o com um litro da �gua mineral j� custa R$ 35, e mesmo assim n�o � suficiente para toda a popula��o. A prefeitura de Macap� distribui caminh�es-pipa para abastecer algumas regi�es desde a noite de anteontem.
"S� saio de casa atr�s de sinal (de celular) depois que j� consegui �gua e comida pra minha fam�lia. Ontem (quinta-feira) ainda consegui comprar �gua, hoje (sexta-feira) consegui baldes que as pessoas recolheram com o que caiu da chuva na v�spera", conta Marcella. Os poucos supermercados que ainda vendem �gua, ela explica, j� come�aram a racionar a venda por pessoas. "Mas a compra est� sendo di�ria. N�o tem gelo na cidade, ent�o as pessoas n�o t�m onde armazenar", continua ela.
A estudante C�ssia Riane Cordeiro, de 14 anos, disse ontem � tarde que n�o tinha visto nenhum dos caminh�es-pipa no bairro onde mora com os pais. "Estamos sem �gua at� para beber. Os caixas eletr�nicos n�o est�o funcionando, ent�o est� dif�cil at� comprar comida, pois nem todos os com�rcios aceitam cart�o de cr�dito", relata. Desde o in�cio do blecaute, a fam�lia tem conseguido o m�nimo de �gua com parentes e vizinhos pr�ximos que t�m po�os.
O advogado H�lio Castro, de 34 anos, ajuda a organizar o Reacende Amap�, um protesto marcado para a tarde de amanh�, na Pra�a da Bandeira. O objetivo � reunir a popula��o vestida de preto, para simbolizar o apag�o, e impedir que o ato seja tomado por bandeiras pol�ticas.
Castro e os pais, os funcion�rios p�blicos Gersuliano da Silva e Ana C�lia Pinto, de 63 e 55 anos, est�o conseguindo tomar banho com a �gua da chuva que ficou retida na piscina. "N�o tem como salvar os alimentos porque a geladeira n�o funciona e n�o temos gerador. A �gua da torneira parou de cair no primeiro dia de apag�o." Segundo ela, alguns amigos tamb�m recolheram �gua que ca�a das calhas nos dias anteriores.
Poder p�blico
Na quarta, o Minist�rio de Minas e Energia criou um gabinete de crise e enviou comitiva ao Amap�. Foram anunciados tr�s planos para restabelecer o fornecimento de energia. As op��es apresentadas envolvem os Estados de Amazonas, Par� e Roraima para envio de pe�as, motores e transformadores. Ao lado do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), o ministro Bento Albuquerque disse que uma equipe t�cnica trabalha na filtragem do �leo de um transformador da subesta��o afetada (leia mais nesta p�g.).
O Estad�o n�o conseguiu contato nesta sexta, 6, com os governos do Estado, a prefeitura de Macap�, al�m das secretarias municipal e estadual de sa�de. O governador do Amap�, Waldez G�ez (PDT), assinou ontem decreto de emerg�ncia, para acelerar a libera��o de recursos e a contrata��o de servi�os, como de gera��o de energia emergencial e distribui��o de �gua para a popula��o.
Falha 'absurda'
O diretor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de P�s-Gradua��o e Pesquisa de Engenharia da UFRJ, Luiz Pinguelli Rosa, ex-presidente da Eletrobr�s, criticou a falha estrutural do sistema el�trico no Amap�. "� um absurdo o Estado inteiro ligado em uma �nica subesta��o. Caiu a energia e todo o Estado praticamente ficou sem energia. A responsabilidade � estadual e federal, pois o governo deveria estar supervisionando."
A gera��o de energia n�o foi comprometida neste caso, a falha foi somente na distribui��o. "O erro foi estrutural. Macap� deveria ter equipamentos para manuten��o, de substitui��o do transformador que deu problema. Deveria ter pelo menos um reserva funcionando."
Pinguelli Rosa n�o � o �nico a reagir com perplexidade. "� quase inacredit�vel ter um transformador reserva inoperante. Estamos apurando tudo o que aconteceu, h� quanto tempo existe o problema com esse transformador", comentou Joilson Costa, coordenador da Frente de Nova Pol�tica Energ�tica para o Brasil - entidade que re�ne 31 organiza��es sociais, ambientais e acad�micas.
Roberto Schaeffer, professor de planejamento energ�tico da Coppe/UFRJ, apontou como resolu��o a cria��o do sistema de redund�ncia, com a constru��o de uma outra subesta��o e a divis�o da pot�ncia entre elas. Se uma der problema, a outra dar� conta de manter a distribui��o.
"Isso significa custos maiores. Mas tem que ter outros equipamentos para ajudar tamb�m. � o caso do avi�o, n�o � por acaso que tem mais de uma turbina. Se uma falhar tem a outra que dar� conta de voar relativamente bem. � esse tipo de redund�ncia que estou falando."
O f�sico Shigueo Watanabe Jr., pesquisador do ClimaInfo, discorda. "Me soa gastar dinheiro � toa. O que tem que fazer � proteger melhor a subesta��o. Se um transformador pega fogo, passa para o outro. Tem que deixar um mais distante do outro. Construir uma segunda esta��o talvez seja exagero."
Uma subesta��o, de maneira simplificada, � uma central de transformadores que baixa a tens�o para chegar � casa das pessoas em uma pot�ncia acess�vel. "A analogia � simples. Voc� compra um ar-condicionado de 220 volts e sua tomada � de 110 volts. Voc� precisa de um aparelho para diminuir a tens�o. O que n�o d� para entender � por que esse problema vai demorar dez dias para ser resolvido", explicou Schaeffer.
Adiar elei��es torna-se possibilidade
O apag�o que atingiu o Amap� pode adiar as elei��es municipais no Estado. A possibilidade entrou no radar dos candidatos a prefeito e vereador nos 16 munic�pios e � avaliada pela Justi�a Eleitoral. Em nota, o presidente do TRE amapaense, desembargador Rommel Ara�jo, disse ter garantias de que haver� energia el�trica a tempo, nos locais de vota��o e que a Justi�a Eleitoral do Amap� est� preparada para o pleito. "Quanto �s urnas eletr�nicas, todos os equipamentos disp�em de bateria com autonomia suficiente para garantir o direito de voto em cada se��o eleitoral", destacou Ara�jo.
A Emenda Constitucional que adiou as elei��es para novembro em fun��o da pandemia prev� a possibilidade de nova data mas vincula o reagendamento � situa��o sanit�ria do novo coronav�rus. O governador Waldez G�es (PDT) decretou estado de emerg�ncia no Estado, o que pode embasar decis�o pelo adiamento. Os candidatos evitam tratar do adiamento: para eles no momento � preciso tratar especificamente do retorno da energia para evitar agravamento da crise.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.