Cientistas brasileiros estudam os mecanismos moleculares por tr�s dos efeitos da maconha nas c�lulas nervosas do c�rebro humano. O objetivo � desenvolver medicamentos espec�ficos para condi��es de sa�de graves. Essa lista inclui epilepsia, dores neurop�ticas cr�nicas, depress�o, mal de Alzheimer e doen�a de Parkinson.
Pelo menos 20 potenciais usos medicinais dos canabinoides j� s�o bem conhecidos. E a maconha medicinal vem sendo usada, na forma de �leo ou vaporizada, em v�rias partes do mundo, inclusive no Brasil, para amenizar os sintomas de muitas dessas doen�as.
Os cientistas, por�m, n�o conhecem ainda muito bem os mecanismos exatos que produzem esse efeito. Tamb�m n�o sabem quais combina��es espec�ficas dos diferentes canabinoides - existem mais de cem no total - s�o mais eficientes para cada problema.
Desde dezembro do ano passado, os produtos � base de maconha est�o regulamentados pela Anvisa. Esses itens podem ser vendidos em farm�cias, mediante prescri��o m�dica, e est�o sujeitos � fiscaliza��o da ag�ncia. O cultivo da planta no Pa�s, no entanto, foi rejeitado. Para produzir rem�dios no Brasil continua a ser necess�rio importar a mat�ria-prima.
O �nico medicamento feito a partir da cannabis que j� tem registro no Brasil � o Mevatyl (Sativex), produzido por um laborat�rio brit�nico. � base de THC e CDB, os dois canabinoides mais conhecidos, � indicado para os sintomas da esclerose m�ltipla. Uma embalagem com tr�s ampolas de 10 ml cada uma custa R$ 2.896,70.
Al�m disso, j� h� autoriza��o para a produ��o e comercializa��o de alguns extratos de cannabis de uso mais gen�rico, que s�o igualmente caros. Para importar algum produto derivado da maconha, � preciso ter autoriza��o da Anvisa. A grande maioria dos pacientes acaba usando �leos produzidos artesanalmente.
Um acordo firmado entre o Instituto D�Or de Pesquisa (Idor) e a Entourage Phytolab, a primeira empresa do Pa�s autorizada a importar mat�ria-prima in natura e a produzir medicamentos com canabinoides, pode mudar isso.
Epilepsia e Alzheimer
Fazendo uso dos minic�rebros (estruturas criadas em laborat�rio an�logas ao c�rebro humano), os cientistas querem estudar as diferentes combina��es de canabinoides nas c�lulas nervosas humanas para o desenvolvimento de rem�dios espec�ficos. "Num primeiro momento, vamos testar os efeitos dos canabinoides THC, CBD e CBG isolados ou em combina��o sobre a inflama��o e a degenera��o previamente induzidas nas c�lulas nervosas humanas", explicou o neurocientista Stevens Rehen, do Idor e da UFRJ.
O cientista conta que, no futuro, a meta � conseguir analisar os efeitos de 20 combina��es diferentes de canabinoides. "Queremos estudar os mecanismos moleculares associados � neuroinflama��o e � neurodegenera��o, fen�menos comuns a doen�as como epilepsia, Alzheimer e Parkinson." O primeiro medicamento desenvolvido e produzido no Brasil chega ao mercado no ano que vem e ser� indicado para o tratamento da epilepsia. "O principal objetivo � compreender melhor os diferentes potenciais dessas subst�ncias e de suas diversas combina��es", explicou Caio Santos Abreu, CEO da Entourage Phytolab. "A partir desses primeiros resultados, poderemos selecionar os melhores caminhos de desenvolvimento terap�utico que, no futuro, dever�o evoluir para ensaios cl�nicos com nossos pr�prios medicamentos."
Tratamento
Tadeu, de 8 anos, � autista. Come�ou a ser medicado com o �leo extra�do da cannabis em dezembro do ano passado para tratar alguns dist�rbios associados ao transtorno neurol�gico. A conectividade e a intera��o social do menino melhoraram. Mas ele continuou muito agitado e com pouco apetite.
Tadeu estava usando um �leo que continha somente canabidiol (CBD). "H� dois meses, recebemos uma doa��o de um �leo feito artesanalmente que eu achei que era CBD puro, mas n�o era; tinha THC tamb�m", contou o pai de Tadeu. "Nossa, que surpresa tivemos. Na primeira vez que demos esse �leo, foi num s�bado, por volta das 20 horas. Quando deu 20h30, observamos uma coisa que nunca t�nhamos visto em toda a vida do Tadeu: ele bocejou."
Logo depois, conta o pai, Tadeu sentou-se � mesa e comeu toda a fatia de torta de frango que estava em seu prato. N�o satisfeito, avan�ou no prato do pai e, em seguida, no da m�e.
"Ele comeu como nunca tinha comido", lembrou seu pai. "E depois, para melhorar tudo ainda mais, ele subiu para escovar os dentes e dormir. Normalmente, ele fica at� 1h30 tocando o terror."
Informa��o
Animada pelo resultado t�o impressionante observado na primeira aplica��o, a fam�lia resolveu ent�o n�o esperar por outra doa��o e correr por conta pr�pria para manter o resultado obtido. Cotizou-se para comprar um extrato produzido oficialmente pela Abrace, uma associa��o de pacientes com sede em Jo�o Pessoa (PB). Mas o efeito n�o se repetiu.
"O �leo artesanal � feito por um m�todo simples, numa panelinha parecida com aquelas de cozinhar a vapor", contou o pai do Tadeu. "Mas � aquilo, n�? N�o tem um laborat�rio para dizer quanto exatamente de THC e de CBD tem naquele �leo. Voc� sabe que funciona, mas n�o sabe exatamente como. N�o sabe que cepa foi usada, que tipo de cannabis. A�, se precisa arranjar outro fornecedor, n�o sabe o que procurar. Foi o que aconteceu comigo", lamenta.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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