A morte de um homem negro por um seguran�a e um policial militar em uma unidade do Carrefour em Porto Alegre, na v�spera do dia da Consci�ncia Negra, gerou forte como��o entre autoridades e figuras p�blicas, mas n�o teve impacto sobre as a��es da empresa na B3. Mesmo com os pedidos de boicote � rede em redes sociais, as a��es da varejista passaram o dia no campo positivo e fecharam em alta de 0,49%.
Especialistas dizem que o fato de o Carrefour ter sido palco de diversas situa��es envolvendo viol�ncia e desrespeito � cidadania nos �ltimos anos torna a not�cia ainda mais grave. Em 2008, em Osasco, um cliente negro foi espancado no estacionamento do supermercado Extra porque seguran�as acharam que ele estava roubando o seu pr�prio carro.
H� apenas tr�s meses, em uma loja da marca no Recife, um homem sofreu um ataque card�aco, morreu e a loja continuou funcionando normalmente at� a chegada da per�cia. O corpo foi coberto por guarda-s�is abertos. Outro caso emblem�tico foi o da morte, tamb�m por um seguran�a, de uma cadela vira-lata ocorrida em uma loja de Osasco, na Grande S�o Paulo, em novembro de 2018.
O caso de maus tratos a um animal causou forte rea��o da opini�o p�blica, e o Carrefour teve de mudar sua postura. "O assunto se tornou fundamental na agenda ap�s o triste epis�dio que envolveu o c�ozinho Manchinha, ocorrido na loja de Osasco, no fim de 2018", disse a varejista em seu relat�rio de sustentabilidade, um relato de pr�ticas sociais, ambientais e de governan�a que as empresas abertas divulgam anualmente.
Hoje, a rede de supermercados afirmou que far� neste s�bado, 21, um refor�o nas orienta��es aos funcion�rios sobre suas normas de conduta. Tamb�m destinar� as vendas de hoje a projetos antirracismo. Entretanto, ainda n�o sinalizou com a��es mais duradouras.
Segundo Fabio Alperowitch, gestor de portf�lio da FAMA Investimentos, especializada em investimentos ESG, o epis�dio refor�a que as empresas ainda s�o reativas neste campo. Em outros termos, s� mudam pr�ticas ap�s eventos negativos de forte repercuss�o. "As empresas n�o est�o fazendo porque � �tico e moral, mas sim porque � ruim n�o fazer", diz. Para ele, o mercado ainda cobra pouco. "Fica vis�vel que a incorpora��o do discurso aconteceu, mas a pr�tica (do ESG) est� longe."
O seguran�a que espancou Jo�o Alberto Silveira Freitas na noite de quinta, 19, era funcion�rio de uma empresa terceirizada. Isso cria uma zona cinzenta sobre a responsabilidade que a Justi�a atribuir� � varejista, e reduz o impacto da not�cia sobre as a��es. "Como a quest�o cai no campo jur�dico, n�o h� uma rea��o imediata porque o funcion�rio era terceirizado", afirma Henrique Esteter, analista da Guide Investimentos.
No in�cio de 2019, um seguran�a de uma loja da bandeira Extra, do GPA, no Rio de Janeiro, sufocou um homem negro ao imobiliz�-lo com uma 'gravata'. O seguran�a foi denunciado por homic�dio doloso, quando h� a inten��o de matar. Ele tamb�m era terceirizado.
No entanto, mesmo que a Justi�a n�o responsabilize o Carrefour, a vis�o � de que a rede precisa mostrar que seus prestadores de servi�o n�o est�o autorizados a agir em contrariedade a seus princ�pios. "Este � o segundo caso envolvendo seguran�a de lojas. A companhia, dado o porte, deveria fazer um trabalho melhor de treinamento", diz Daniela Bretthauer, analista do setor na casa de an�lises Eleven Financial.
Mudan�a de pr�ticas
Raphael Vicente, coordenador da Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial, considera que a morte de Freitas exige ainda que o Carrefour mostre comprometimento com as pautas raciais e v� al�m da contrata��o de pessoas negras. "A sele��o � uma pequena parte do todo", diz. "As empresas precisam se debru�ar internamente sobre suas pr�ticas."
O Carrefour � um dos signat�rios patrocinadores da Iniciativa, que busca ajudar as empresas a avan�arem na quest�o racial. Ap�s o epis�dio, foi suspenso por tempo indeterminado pela organiza��o, que tem membros como GPA, Bradesco, Magazine Luiza e Petrobras. "Sabemos do desafio que as empresas t�m para enfrentar o racismo, mas n�o podemos admitir que n�o se fa�a nada", diz Vicente.
Alperowitch, da FAMA, afirma que o caso mostra a necessidade de a empresa mudar processos internos, porque a repeti��o de crimes do tipo em suas lojas mostra haver falhas. "N�o se pode mais ver isso como um crime banalizado, que acontece v�rias vezes", diz ele. "Vai ter de haver uma revis�o absurda de procedimentos."
Procurado, o Carrefour informou que lamenta a morte de Freitas, e afirma que dar� suporte � fam�lia. Al�m disso, a varejista rompeu o contrato com a empresa que prestava servi�os de seguran�a, cujo nome n�o foi revelado, e demitiu o funcion�rio que era respons�vel pela loja no momento em que o crime ocorreu.
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