
O n�mero que mais impressionou foi o da Bahia, onde 97% dos 650 mortos pela pol�cia no ano passado eram negros. Em Pernambuco, esse dado tamb�m foi alarmante, chegando a 93%. "Hoje n�o d� mais para dizer que tem vi�s racial. A gente tem que dizer o nome exato que isso tem. Tem que dizer que existe racismo por parte do Estado", afirma Silvia Ramos, coordenadora da Rede de Observat�rios da Seguran�a e do Centro de Estudos de Seguran�a e Cidadania.
A pesquisadora ressalta que os n�meros dizem respeito apenas a mortes ocorridas em interven��es da pol�cia. "Esse tipo de problema de viol�ncia � muito espec�fico. N�o estamos falando de crimes contra patrim�nio, de homic�dios ocorridos em brigas de fac��es. Estamos falando de um agente da lei que produziu uma morte, sem considerar se depois foi julgado como leg�tima defesa ou n�o", pontua Silvia. "Estamos olhando a cor dessas mortes, patrocinadas pelo Estado, seja contra um criminoso ou uma v�tima inocente."
No Rio de Janeiro, apesar de 51% da popula��o ser negra, os mortos por policiais nesse grupo de pessoas chegou a 86% em 2019 - em n�meros gerais, o total de mortes em interven��es da pol�cia foi o maior em tr�s d�cadas. Em S�o Paulo, por sua vez, 64% dos mortos pela pol�cia no ano passado eram negros.
Outro dado que alarmou os pesquisadores foi encontrado no Cear�: segundo a pesquisa, em 77% dos casos as v�timas n�o tiveram sequer sua cor notificada. Entre as que tiveram, 87% eram negras.
"Quando um agente p�blico n�o preenche um dado, como sexo da v�tima, idade ou grau de escolaridade, por exemplo, voc� at� entende que isso pode demandar algum tipo de trabalho, de levantamento. Mas n�o informar a cor da v�tima? � uma combina��o de indiferen�a, de desleixo e, muito mais grave, de racismo por parte de agentes do Estado", afirma Silvia.
Todos os dados que embasaram a pesquisa foram obtidos atrav�s da Lei de Acesso � Informa��o, e comparados com o censo do IBGE. Sobre isso, a Rede de Observat�rios da Seguran�a lamenta a dificuldade em conseguir os n�meros oficiais.
"� quase que uma batalha que temos que travar com cada secretaria de Seguran�a. Apesar de a gente ter Lei da Transpar�ncia, as Leis de Acesso � Informa��o, est� mais dif�cil agora do que h� dois ou tr�s anos. � muito mais f�cil conseguir dados de outros crimes do que os da viol�ncia policial. Parece que h� uma orienta��o para n�o divulgarem", comenta Silvia Ramos.
O governo do Rio disse � reportagem que a pol�tica de seguran�a � baseada em intelig�ncia e tecnologia das pol�cias. "A atua��o das pol�cias tem sempre, como princ�pio, a preserva��o das vidas. Os n�meros do Instituto de Seguran�a P�blica (ISP) comprovam isso: de janeiro a outubro de 2020 houve uma queda de 30,8% nas mortes por interven��o de agentes do Estado em rela��o ao mesmo per�odo de 2019", informou o governo, que acrescentou que todas as mortes praticadas ou n�o por agentes do Estado s�o apuradas com rigor.
A Secretaria da Seguran�a de S�o Paulo disse n�o conhecer a metodologia da pesquisa e esclareceu que o compromisso das for�as de seguran�a do Estado � "com a vida, raz�o pela qual medidas para a redu��o de mortes s�o permanentemente estudadas e implementadas pela pasta". "A quantidade de pessoas mortas em confronto com policiais militares em servi�o vem caindo de maneira consistente no Estado de S�o Paulo", acrescentou a pasta, que detalhou que outubro foi o quinto m�s de queda consecutiva do indicador. As mortes cometidas por policiais s�o "rigorosamente investigadas", apontou a secretaria.
"A Secretaria da Seguran�a P�blica da Bahia ressalta que as a��es policiais s�o realizadas ap�s levantamentos de intelig�ncia e observa��o da mancha criminal. A SSP destaca ainda que todos casos que resultam em mortes s�o apurados pela Corregedoria e, existindo ind�cio de aus�ncia de confronto, os policiais s�o afastados, investigados e punidos, caso se comprove a atua��o delituosa."
A reportagem tamb�m entrou em contato com as secretarias de Seguran�a dos Estados de Cear� e Pernambuco, e pediu um posicionamento sobre os dados de cada um deles, mas ainda havia obtido retorno at� a publica��o desta mat�ria.