
Para o m�dico Adriano Massuda, sanitarista pela Universidade Federal do Paran� e professor na Funda��o Getulio Vargas (FGV), o pa�s n�o est� preparado para uma nova explos�o dos cont�gios. “Hoje, n�s vamos enfrentar um sistema de sa�de sobrecarregado e com profissionais cansados. Isso implica uma capacidade de resposta que pode ser pior do que na primeira onda”, ressalta o Ph.D em sa�de coletiva.
Massuda lembra que o pa�s tamb�m enfrenta as consequ�ncias de outras doen�as que n�o foram tratadas da forma adequada devido � pandemia. “J� h� registro na redu��o de tratamentos de doen�as cr�nicas, como hipertens�o, diabetes e c�nceres, que v�o aparecer em quadros mais complexos e, assim, demandando aten��o hospitalar”, observa.
A epidemiologista Ethel Maciel, p�s-doutora pela Universidade Johns Hopkins e professora da Universidade Federal do Esp�rito Santo, ressalta o problema abordado por Massuda. “No in�cio, n�s tivemos o cancelamento de todos os procedimentos que n�o eram emergenciais e quase todos os hospitais ficaram exclusivos para covid-19, mas, agora, n�o temos esse cen�rio”, afirma a especialista.
Para ela, a maior preocupa��o � a velocidade com que a rede de sa�de dos estados precisar� se preparar para atender � nova alta de infec��es “A gente n�o tem leitos exclusivos para a covid, e � uma preocupa��o muito grande, porque n�o sei com qual velocidade os estados v�o poder reabrir aqueles que estavam desativados. Ent�o, acho que a gente corre um risco de um colapso iminente”, alerta.
De acordo com o Conselho Nacional de Secret�rios de Sa�de (Conass), o Brasil tem 17.637 leitos habilitados para pacientes com COVID-19, mas apenas 4.262 destes est�o em opera��o. O Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Sa�de estima que um a cada tr�s leitos do pa�s � perdido.
Recordes negativos
A nova alta de casos e mortes do Brasil fez o pa�s bater recordes negativos na �ltima semana, na qual o Minist�rio da Sa�de registrou o maior n�mero de infec��es pelo novo coronav�rus em um s� dia, ao atingir pela primeira vez mais de 70 mil casos. Sem os n�meros de S�o Paulo, o Brasil confirmou, na �ltima quarta-feira, 70.574 diagn�sticos positivos. Ethel explica que esse salto ocorre porque o v�rus j� circulava dentro do pa�s.
“O v�rus estava circulando entre n�s, a �nica diferen�a � que ele tinha desacelerado e n�o estava em crescimento exponencial. O que acontece � que, nessas doen�as causadas por contato, toda vez que se aumenta a intera��o, voc� acelera a transmiss�o”, avalia.
O movimento de volta ao trabalho presencial, que ocorre desde setembro, foi uma das fontes da propaga��o do novo coronav�rus. “Com isso, houve um aumento da circula��o de pessoas, principalmente em transportes coletivos, nos quais a gente n�o teve melhoria nenhuma durante a pandemia”, indica Ethel. Al�m disso, a epidemiologista destaca que, no meio do caminho, o pa�s teve elei��es municipais. “Um v�rus que, teoricamente, estava devagar, come�ou a ser transmitido de forma mais r�pida”, observa.
Falta de controle
Para o Ph.D em microbiologia na �rea de Gen�tica de Bact�rias pelo Instituto de Ci�ncias Biom�dicas da Universidade de S�o Paulo (ICB-USP) e colaborador do Instituto Quest�o de Ci�ncia (IQC), Luiz Almeida, o Brasil, infelizmente, n�o conseguiu controlar a onda de contamina��o pelo novo coronav�rus desde o come�o da pandemia.
“O pa�s n�o estava em uma onda de covid-19, e, sim, em um tsunami. Estamos com um alto �ndice de mortes di�rias e contamina��o desde o in�cio da doen�a, e n�o conseguimos baixar os n�meros de forma eficaz. E, agora, mesmo com os casos em ascens�o, as pessoas est�o se descuidando”, alerta.
O especialista explica que o conceito de onda � dado pelo desenho feito pelo gr�fico de contamina��o e �bitos, e diz que o atual aumento de casos ocorre devido ao grande n�mero de pessoas que ainda n�o foram contaminadas, que estavam isoladas no come�o da pandemia e voltaram a sair e a realizar viagens, principalmente por causa do fim de ano.
*Estagi�rios sob a supervis�o de Odail Figueiredo
“Hoje, n�s vamos enfrentar um sistema de sa�de sobrecarregado e com profissionais cansados. Isso implica uma capacidade de resposta que pode ser pior do que na primeira onda”
Adriano Massuda,
sanitarista pela Universidade Federal do Paran� e professor na Funda��o Getulio Vargas
Cuidados redobrados
A sensa��o de estar no “finalzinho da pandemia” � equivocada. O sanitarista Adriano Massuda pontua que o v�rus n�o segue nosso calend�rio nem uma ordem cronol�gica. “Parece irrelevante falar isso, mas, o fim do ano n�o implica o fim do v�rus. Muito pelo contr�rio. As coisas n�o v�o acontecer do dia para noite. � uma boa not�cia termos a vacina em fase de testes e algumas popula��es estarem sendo imunizadas, mas o v�rus se mostrou altamente transmiss�vel e o cuidado precisa ser cont�nuo. O final do ano precisa ser aproveitado com cautela para evitarmos maiores casos de transmiss�o. O ano de 2021 precisa ser o de derrotar o v�rus”, disse.
A falta de medidas mais restritivas para for�ar uma diminui��o no fluxo de pessoas pode resultar em um cen�rio ainda mais ca�tico no in�cio de 2021. "Culturalmente, temos essa tradi��o de fim de ano em que as pessoas se encontram e celebram, mas, neste momento, � preciso dizer que este Natal e o ano-novo v�o ser diferentes. A gente tem que entender que, para termos outras celebra��es e outras festas, temos que comemorar estas de forma especial”, indica o epidemiologista Ethel Maciel.
O cuidado � ainda mais necess�rio, j� que a maioria das fam�lias tem pessoas mais velhas e com comorbidades, que integram grupos de risco. “Precisamos proteger essas pessoas, e o ideal � que re�na apenas aquelas que moram na mesma casa”, indica.
As recomenda��es do microbiologista Luiz Almeida v�o na mesma linha. O especialista aconselha reuni�es familiares reduzidas, com prefer�ncia em locais abertos, com o uso de m�scaras em todos os momentos poss�veis, al�m da dist�ncia social e da higieniza��o das m�os. Almeida faz uma compara��o entre n�o usar medidas preventivas e a chamada roleta-russa. “A cada descuido ou medida que o cidad�o deixa de adotar � como se ele colocasse mais uma bala no cartucho e girasse esse tambor para apertar o gatilho. �s vezes, ele n�o sofre dano algum, mas, � medida que o tempo passa, o risco aumenta”, reitera.