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Estado de Minas GERAL

Para brasileiros que vivem fora do Pa�s, 2020 � ano de saudade e solid�o


28/12/2020 07:01

"Acho que a dist�ncia do Brasil aumentou, a saudade aumentou. Poder ir ou n�o deixou de ser uma escolha. Agora, n�o h� perspectiva de quando vou reencontrar minha fam�lia", diz a bi�loga La�s Maia, de 29 anos, que mora em Christchurch, na Nova Zel�ndia. "Antes, eu podia falar 'Pego um voo e vou'. Quando n�o se tem essa possibilidade, a dist�ncia fica maior", concorda o diretor de arte Daniel Cazzamatta, de 33, que vive no Porto, em Portugal.

Nas �ltimas semanas, a reportagem do Estad�o ouviu depoimentos sobre o ano de 2020 de sete brasileiros que vivem fora do Pa�s. Se por um lado alguns deles se sentem sortudos - e at� aliviados - de estarem em lugares cujos governos lidaram melhor com a pandemia, por outro lamentam a solid�o de um ano em que n�o houve contato pessoal com a fam�lia.

Cazzamatta, por exemplo, vive fora h� cinco anos. Primeiramente, na It�lia. Agora, em Portugal. Nesse per�odo, nunca ficou mais do que um ano e meio sem visitar os parentes. Em 2020, ele e a mulher j� tinham at� comprado passagem para outubro. O voo foi cancelado e a companhia emitiu um voucher para remarca��o. "Decidimos esperar mais, porque os casos voltaram a aumentar."

Para ele, o pior momento foi viver a dist�ncia o luto pela perda do av�. "Eu queria ter ido ao vel�rio. Mas n�o pudemos. Depois, pensamos em passar o Natal. Seria importante estar com a fam�lia. Meu av� era muito pilar, era quem unia todos."

Aceitar n�o ir ao Brasil tamb�m foi dif�cil para La�s. Ela vive h� tr�s anos na Nova Zel�ndia, onde faz pesquisa de doutorado na Universidade de Canterbury. Nos dois primeiros anos, nem podia pensar em viajar - ela precisava acompanhar diariamente a pesquisa que realizava ou os insetos de seu experimento morreriam. T�o logo terminou essa fase, ainda em 2019, comprou bilhetes para as esperadas f�rias no Brasil. Seriam em abril de 2020.

"Estava superansiosa. Quando em fevereiro come�ou a surgir o assunto da pandemia, pensei que n�o poder�amos ir mais", lamenta. "Me sinto sortuda por viver aqui, mas foi um ano em que me senti mais isolada, mais triste."

Para Cazzamatta, at� mesmo a decis�o de morar fora tem sido reavaliada. "Antes, para mim era tranquilo. Eu pensava: qualquer coisa pego um voo e em 12 horinhas estou em casa. Agora, o cen�rio mudou. E mudou nossa percep��o inclusive sobre querer continuar aqui ou n�o."

Pescaria adiada

Este foi o primeiro Natal que o arquiteto Gustavo Minosso, de 40 anos, n�o passa com seus parentes no Brasil. Ele vive em Mil�o, na It�lia, onde tem um escrit�rio h� 13 anos. A decis�o sobre a quebra da tradi��o foi tomada em setembro. "Vi que a situa��o aqui na Europa iria piorar e poderia acabar ficando 'preso' no Brasil ou ser obrigado a fazer quarentena quando retornasse." Aficionado por pescaria, ele tem o h�bito de organizar passeios com o irm�o todos os anos. Agora, suas expectativas para rever os parentes foram adiadas para agosto, per�odo de f�rias na It�lia. Enquanto isso, contenta-se em pescar nos lagos de Como e de Garda, por exemplo, perto de Mil�o.

Para a empreendedora Maria Fernanda Hinke, de 39 anos, tamb�m ser� exce��o passar as festas de fim de ano longe da fam�lia. Ela mora em Paris, na Fran�a, desde 2012. Como trabalha com cicloturismo, aproveita os meses frios de dezembro a fevereiro, quando n�o h� demanda, para visitar o Brasil.

Fernanda conta que tomou a decis�o de n�o ir h� sete meses, quando entendeu a propor��o da crise. Para ela, � uma quest�o de consci�ncia. "N�o � o momento de fazer esse tipo de viagem, de fazer o v�rus circular. E tem o fato de que o Brasil est� administrando muito mal a crise." Ela est� com saudade. "Quando moramos fora, temos a expectativa de passar esses momentos com a fam�lia. Gostaria de abra�ar minha m�e, meus irm�os, minha sobrinha."

Moradora de Senago, na It�lia, a arquiteta Virginia Fabri, de 36 anos, � outra que lamenta a dist�ncia dos parentes nesta �poca. "Ser� o primeiro ano que n�o vou ao Brasil", conta ela, que vive na It�lia desde 2009. Em abril, sua irm� e seu cunhado iriam visit�-la. "J� tinham passagens e acabaram suspendendo", relata. Os pais dela tamb�m pretendiam ir � It�lia, mas foram for�ados a mudar os planos. "A gente sempre teve esperan�a, essa coisa de vai melhorar, vai melhorar. Mas, infelizmente, n�o melhorava", lamenta.

Desde que se mudou para Estocolmo, na Su�cia, o plano da nutricionista Carla Avesani, de 47 anos, era visitar o Brasil a cada 18 meses, uma vez no ver�o, outra no inverno. A �ltima vinda foi em julho de 2019. Era a hora de passar o Natal com a fam�lia. "Pela dificuldade em planejar viagem com a covid, achei melhor adiar", diz Carla. "N�o s� pelos voos e regulamenta��es, mas porque parte das pessoas com quem ir�amos conviver � do grupo de risco."

Dor de n�o estar presente. Para a f�sica e divulgadora cient�fica Gabriela Bailas, de 29, dona do canal F�sica e Afins no YouTube, pior do que n�o passar as festas de fim de ano com a fam�lia � ficar vendo postagens nas redes sociais dos entes queridos confraternizando. "O Natal � uma data que pega, porque est� todo mundo celebrando com a fam�lia", afirma ela, que mora em Tsukuba, no Jap�o, onde trabalha no centro de pesquisas para intelig�ncia artificial da universidade local.

Gabriela vive no Jap�o desde 2018. Mas antes morou em Portugal e na Fran�a. Estava tudo certo para ela passar as festas no Brasil. Seria, ali�s, a primeira vez que seu marido, japon�s, conheceria o Pa�s. A dolorosa decis�o de adiar os planos foi tomada no meio do ano. N�o ser� a primeira vez que Gabriela ficar� longe dos parentes nesta �poca. "Quando eu morava na Fran�a, passei o Natal sozinha uma vez. Foi muito ruim. Minha fam�lia at� me colocou, por Skype, na ceia de Natal", lembra. "Mas � uma coisa que eu n�o recomendo."

Visto especial

Na casa da funcion�ria p�blica Margareth Bailas, de 51 anos, a mala continua pronta, como se ainda fosse viajar de Pelotas para Tsukuba, no Jap�o. Em 17 de setembro, ela soube que a filha, a f�sica Gabriela Bailas, de 29 anos, que mora do outro lado do mundo, talvez precisasse passar por cirurgia. O problema � que brasileiros j� haviam sido proibidos de entrar no Jap�o. Come�ava ali uma batalha de m�e. "Telefonei para o consulado japon�s em Porto Alegre", conta. "Queria saber se a viagem seria permitida se Gabriela fosse submetida � cirurgia." Margareth soube que vistos especiais estavam sendo concedidos com autoriza��o direta do Jap�o. O caso foi aprovado. "Achei sens�vel da parte deles." Uma not�cia boa: Gabriela, felizmente, n�o precisou de cirurgia. Mas as malas de Margareth continuam ali.

Voos cancelados

Em 2020, os brasileiros acabaram sendo barrados ou impedidos de realizar viagens internacionais. N�o foram poucos os que perderam compromissos de trabalho e tiveram de enfrentar a saudade de pessoas queridas. Ou mesmo passaram pelas duas situa��es.

� o caso, por exemplo, da gerente de programas socioambientais Camila Daminello, de 34 anos, que trabalha em uma institui��o cuja sede fica nos Pa�ses Baixos. Neste ano, ela praticamente colecionou bilhetes a�reos de voos cancelados. Pelo planejamento de janeiro, ela iria pelo menos oito vezes a trabalho para a Europa neste ano. E pretendia fazer ainda duas viagens estritamente pessoais - o namorado dela vive na It�lia, onde faz o doutorado.

"Seria um ano inteiro de viagens. Cheguei a comprar diversas passagens. A primeira, em mar�o, foi cancelada cinco dias antes. Fiz as malas, troquei dinheiro, comprei presentes, tudo estava preparado", recorda-se. "Ainda no primeiro semestre, tive mais duas viagens para a Europa canceladas, com passagens compradas e tudo."

Camila conta que, nos primeiros meses, ela e o namorado passavam a maior parte do tempo livre pesquisando as restri��es e as constantes mudan�as de regras em cada pa�s, alimentando esperan�as e pensando em alternativas improv�veis. "Estava muito desgastante. A�, em maio, mudamos a chavinha." Os dois est�o h� quase 11 meses sem se encontrar.

Funcion�ria de uma institui��o do governo italiano, a economista Pauline Vargas, de 42, tamb�m tem as viagens internacionais na rotina de trabalho. Em 2020, ela deveria ir pelo menos quatro vezes a Roma. Tudo foi cancelado e seu dia a dia profissional passou a ser repleto de teleconfer�ncias.

Ela espera que, t�o logo a situa��o se normalize, as viagens voltem a ocorrer. "Por outro lado, reconhe�o que viajava muito a trabalho", comenta. "Gostei de reduzir essas viagens. Quando retomar, espero n�o voltar no mesmo ritmo."

O soci�logo Bruno Santos, de 31, mudou-se h� dois anos para a It�lia, onde faz doutorado na Pontif�cia Universidade Gregoriana de Roma. Ainda na primeira onda da pandemia na Europa, retornou a S�o Paulo para ficar ao lado da fam�lia, j� que as aulas passaram a ocorrer online. "Foi muita dificuldade para conseguir embarcar", recorda.

Seu plano era voltar � It�lia no in�cio do semestre, em setembro. Mas a It�lia restringiu os voos que partiam do Brasil. Nesse meio-tempo, venceu sua carta de permiss�o - o documento provis�rio que d� a ele o direito, como estudante, de viver como estrangeiro na It�lia. "N�o pude renovar porque n�o estava em territ�rio italiano."

Para a fam�lia Vasconcellos, a separa��o que seria de um ano acabou se tornando um ano e meio longe. O tecn�logo Davi Vasconcellos, de 36 anos, se mudou a trabalho para Radovljica, na Eslov�nia, em abril de 2019. Pela legisla��o local, sua fam�lia estaria autorizada a viver no pa�s com ele exato um ano depois. Com a pandemia, Vasconcellos s� conseguiu dar entrada no pedido de reunifica��o familiar em maio. O processo demorou mais do que o normal e saiu apenas em julho. Ao chegarem � Eslov�nia, a mulher e os dois filhos dele ainda precisaram passar por 14 dias de quarentena.

O reencontro, como era de se esperar, foi marcado por l�grimas. "Foi emocionante. Nunca imaginamos ficar tanto tempo separados", diz Ilislane, de 35 anos, a mulher de Davi. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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