(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas Covid-19

Brasil segue na contram�o da ci�ncia ao defender rem�dios sem comprova��o

Em duelo for�ado pelo governo, cientistas voltam a alertar que n�o existe efic�cia de tratamentos considerados pr�vios contra o novo coronav�rus


06/01/2021 04:00 - atualizado 05/01/2021 23:46

Uso de medicamentos pela população, como a ivermectina que o presidente insiste em propagar, não tem endosso de entidades de saúde do Brasil e exterior(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press %u2013 4/12/20)
Uso de medicamentos pela popula��o, como a ivermectina que o presidente insiste em propagar, n�o tem endosso de entidades de sa�de do Brasil e exterior (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press %u2013 4/12/20)

O tratamento precoce virou alvo de embate entre o governo federal e a ci�ncia. Em meio � falta de estudos cient�ficos que atestem a efic�cia de medicamentos na recupera��o de pacientes infectados com o novo coronav�rus, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirma que “tratamento precoce salva vidas”. A declara��o repete a orienta��o de seu governo que, ao longo da pandemia, tem divulgado o uso, sem comprova��o cient�fica, de f�rmacos como terap�utica promissora no combate � COVID-19.

Ontem, o presidente voltou a defender o uso de verm�fugos e atribuiu a baixa taxa de �bitos decorrentes da doen�a em pa�ses africanos � distribui��o de medicamentos para a popula��o. Ap�s 10 meses da pandemia no Brasil, especialistas e entidades seguem em discord�ncia com o discurso de Bolsonaro.

Contradizendo o governo, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) n�o aconselha tratamento farmacol�gico precoce para pacientes com COVID-19 e adverte que estudos cl�nicos n�o mostraram, at� o momento, benef�cios dos medicamentos que v�m sendo afian�ados pelo Minist�rio da Sa�de. A sociedade m�dica � enf�tica ao defender que n�o existe comprova��o cient�fica de que esses medicamentos sejam eficazes contra a COVID-19 e ressalta que essa cautela est� alinhada com importantes e respeitados organismos sanit�rios nacionais e internacionais, como a Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS).

O Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM/MG) n�o pro�be, mas tamb�m n�o endossa a recomenda��o de medicamentos para o tratamento da COVID-19. Isso significa uma defesa da autonomia do m�dico na prescri��o de medicamentos. “Cada paciente tem um comportamento diferente. Quando n�o se tem certeza de que, do ponto de vista cient�fico, aquilo resolve, a gente considera um medicamento 'off-label' que pode servir para v�rias doen�as, como a hidroxicloroquina, que � usada efetivamente para tratamento da l�pus. Para a COVID, cientificamente a gente considera 'off-label'”, explica Cibele Alves de Carvalho, presidente do CRM/MG.

O Conselho n�o proibir� a prescri��o se o m�dico entender que a medica��o teve resultado. “Por outro lado, se o m�dico acha que n�o tem muito sentido, tem autonomia para n�o prescrever”, diz Cibele Carvalho. A m�dica ressalta que n�o h� tratamento, do ponto de vista cient�fico robusto, para a COVID-19. “� uma doen�a nova. Tudo em medicina a gente precisa de um tempo para entender. Hoje n�o existe nenhum trabalho cient�fico bem-feito, com amostra significativa de pacientes, que demonstre efic�cia de qualquer medicamento. Por isso ainda n�o temos como determinar que certo rem�dio resolve a quest�o da COVID-19”

Segundo a presidente do CRM/MG, � muito maior a demanda de colegas que pedem ao CRM o direito de n�o prescrever os rem�dios do que o contr�rio. “A gente explica que pode at� fazer a prescri��o, mas que n�o se esque�am de orientar e ter o consentimento do paciente. A gente vai em cima da autonomia do m�dico e do paciente.”

'Evid�ncias' O Minist�rio da Sa�de confirma que orienta a popula��o a procurar assist�ncia m�dica logo nos primeiros sintomas da doen�a, mesmo que sejam leves. O �rg�o argumenta que evid�ncias m�dicas demonstram que a demora pela busca de atendimento pode agravar os casos e menciona um estudo publicado pelo The American Journal of Medicine, que defende o tratamento preventivo para a doen�a causada pelo novo coronav�rus, citando, inclusive, a combina��o de antivirais e vitaminas j� incorporadas ao protocolo nacional de enfrentamento � COVID-19 – como a hidroxicloroquina, a azitromicina e a ivermectina.

Embora a pesquisa que agora fundamenta as recomenda��es do governo federal tenha sido divulgada apenas neste in�cio de ano, as sugest�es do �rg�o, amplamente difundidas por Bolsonaro, foram oficialmente adotadas em maio, quando o general do Ex�rcito Eduardo Pazuello substituiu o m�dico Nelson Teich como ministro da Sa�de. Em julho, numa empreitada em defesa da cloroquina, o presidente rebateu os questionamentos sobre a efici�ncia do medicamento argumentando que “tamb�m n�o tem comprova��o cient�fica que n�o tem comprova��o eficaz. Nem que n�o tem, nem que tem”.

Em nota veiculada no �ltimo s�bado, Pazuello afirma que “� fundamental que a popula��o saiba que n�s s� vamos ganhar essa guerra quando todos procurarem atendimento m�dico logo ap�s os primeiros sintomas”. E, antecipando as palavras de Bolsonaro, celebra que “a informa��o aliada ao tratamento precoce tem salvado muitas vidas”.

*Estagi�rio sob supervis�o de Marta Vieira


Estevão Urbano, presidente da SBI em Minas:
Estev�o Urbano, presidente da SBI em Minas: "O que o Minist�rio da Sa�de est� pregando � diferente do que todas as sociedades mundiais est�o pregando. � preciso esperar mais um pouco" (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press %u2013 25/11/20)

Cloroquina e verm�fugo podem agravar quadro


Os infectologistas mineiros Estev�o Urbano, presidente da sociedade m�dica da especialidade em Minas, e Una� Tupinamb�s, m�dico do Hospital das Cl�nicas da UFMG, endossam a posi��o da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e da Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS). Integrantes volunt�rios do Comit� de Enfrentamento � Pandemia em Belo Horizonte, ambos os especialistas rebatem artigo utilizado pelo Minist�rio da Sa�de para embasar o tratamento precoce.

“Est�o baseados num artigo recente, controverso, com metodologia muito inadequada. Infelizmente os artigos que temos hoje s�o muito fr�geis, as sociedades n�o fazem recomenda��es em rela��o ao tratamento precoce que, se efetivo, � tudo o que n�s queremos. O que acontece � que os trabalhos com boas metodologias n�o mostram efetividade desses medicamentos”, explicou Estev�o Urbano.
“O que o Minist�rio da Sa�de est� pregando � diferente do que todas as sociedades mundiais est�o pregando. � preciso esperar mais um pouco. Pode ser que surja algum artigo conclusivo que mude tudo ainda hoje ou amanh�, n�o sabemos”, acrescenta.

O professor Una� Tupinamb�s lembra outras op��es para tratamento, como o uso dos anticorpos monoclonais – c�pias sint�ticas de prote�nas criadas em laborat�rio a partir de um clone de um anticorpo espec�fico, extra�do do sangue de uma pessoa que se recuperou da doen�a. “N�o temos nenhum tratamento precoce no Brasil. Algumas hip�teses seriam o anticorpo monoclonal ou antiviral, no entanto, nenhum dos dois completou a fase de estudo, ent�o hoje n�o temos tratamento espec�fico precoce”, ressalta o especialista. “Hoje o repouso em casa � muito importante. Ivermectina, cloroquina, hidroxicloroquina, nada disso funcionou e pode agravar o quadro cl�nico”, completou. (DL e MF)

Alvo da Justi�a

O juiz Leonardo Henrique Soares, da Justi�a Federal de S�o Paulo, acolheu parcialmente pedido do Minist�rio P�blico Federal e determinou que o Minist�rio da Sa�de fa�a refer�ncia expressa, em comunicado oficial veiculado no site da pasta, �s sementes de feij�o que o pastor evang�lico Valdemiro Santiago e a Igreja Mundial do Poder de Deus sugerem usar para combater a COVID-19. O magistrado deu cinco dias para que a decis�o seja cumprida. Ele considerou que houve descumprimento parcial da liminar que determinou que o governo informasse no site do Minist�rio da Sa�de se 'h� ou n�o efic�cia comprovada do artefato (sementes de feij�o/feij�es) no que tange � COVID-19'.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)