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Estado de Minas GREVE

Greve dos caminhoneiros: 'Esse � o pior governo que o Brasil j� teve', diz l�der de paralisa��o que largou a boleia ap�s 27 anos

Greve chamada para 1� de fevereiro n�o deve acontecer, avalia Wanderlei Dedeco, que criticou o governo Bolsonaro


26/01/2021 08:29 - atualizado 26/01/2021 10:05

Wanderlei Dedeco foi uma das lideranças da greve de caminhoneiros de 2018(foto: Arquivo pessoal)
Wanderlei Dedeco foi uma das lideran�as da greve de caminhoneiros de 2018 (foto: Arquivo pessoal)

Ap�s pegar uma forte pneumonia que afetou seus dois pulm�es em abril do ano passado e ficar em isolamento dentro do seu caminh�o, parado em um posto de gasolina � beira de uma rodovia, o caminhoneiro Wanderlei Alves, mais conhecido como Dedeco, sofreu outro rev�s.

Com a queda de demanda e do pre�o do frete em meio � pandemia, Dedeco atrasou o pagamento das parcelas e teve tomados de volta pelo vendedor seus tr�s caminh�es.

Sem o ganha-p�o depois de 27 anos passados na boleia e desgostoso com o aparelhamento da categoria pelo governo federal ap�s a greve de 2018, o caminhoneiro, que foi uma das lideran�as da mobiliza��o que abalou a economia do pa�s, decidiu mudar de ramo.

"Dos caminh�es, s� me sobraram os pneus. Foi o que eu vendi para abrir minha hamburgueria", conta Dedeco, que agora � dono de uma lanchonete em Curitiba, no Paran�.

O ex-motorista, hoje com 46 anos, acredita que a greve chamada por parte da categoria para 1º de fevereiro n�o deve acontecer, j� que boa parte dos caminhoneiros segue, na sua vis�o, "muito apaixonada ainda" pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Conforme Dedeco, o an�ncio da greve foi uma estrat�gia de parte dos caminhoneiros para reabrir o di�logo com o governo, que havia sido interrompido pela pandemia.

O fato de os motoristas de caminh�o terem sido inclu�dos na �ltima sexta-feira (22/01) entre as categorias priorit�rias para vacina��o contra a covid-19 e de o governo ter zerado o imposto de importa��o para pneus usados no transporte de cargas mostram que a press�o j� surte efeito.

Greve de 2018 foi planejada e teve apoio do agroneg�cio


Reajustes constantes no óleo diesel estavam entre os motivos para a greve dos caminhoneiros de 2018(foto: BBC)
Reajustes constantes no �leo diesel estavam entre os motivos para a greve dos caminhoneiros de 2018 (foto: BBC)

"A greve de 2018 foi uma greve planejada e bem trabalhada no sigilo, nos bastidores, durante seis meses para acontecer", lembra Dedeco.

"Al�m disso, ela teve apoio da popula��o quase em geral e do setor rural. Isso n�o tem mais, porque o setor rural hoje est� todo do lado do governo. Ruralista rico gosta de governo ruim porque governo ruim faz o d�lar subir e quem vende em d�lar se d� bem. Ent�o o agroneg�cio gosta do Bolsonaro, porque a� eles vendem a soja deles a R$ 5, R$ 6 o d�lar", provoca.

O d�lar encerrou a segunda-feira (25/01) cotado a R$ 5,51, com uma valoriza��o de 6,28% em apenas 25 dias de 2021. No ano passado, a moeda americana chegou a superar os R$ 5,90 em meados de maio.

As exporta��es do agroneg�cio brasileiro somaram US$ 100,8 bilh�es (R$ 551,1 bilh�es) em 2020, segundo maior valor da s�rie hist�rica, atr�s apenas de 2018, quando somaram US$ 101,2 bilh�es. Com isso, segundo o Minist�rio de Agricultura, o agroneg�cio foi respons�vel por quase metade das vendas externas totais do Brasil no ano passado, com participa��o recorde de 48%.

"Hoje, querem fazer a paralisa��o 'no peito'. N�o faz. Caminhoneiro n�o faz greve 'no peito'. N�o vai acontecer greve dia 1º", avalia Dedeco.

"Pode acontecer de um louco numa pista ou outra querer parar, mas n�o vai conseguir. Porque boa parte dos caminhoneiros est� muito apaixonada ainda pelo Bolsonaro. Principalmente aqueles que trabalham de empregados, n�o pagam pneu, n�o pagam �leo diesel, n�o pagam o caminh�o. Para mim, s�o doidos igual ele."


Na paralisação em 2018, caminhões de combustíveis foram escoltados para tentar garantir o abastecimento de postos(foto: ABR)
Na paralisa��o em 2018, caminh�es de combust�veis foram escoltados para tentar garantir o abastecimento de postos (foto: ABR)

'O pior governo que o Brasil j� teve'

Dedeco afirma que nunca foi eleitor de Bolsonaro, nem fez campanha para o atual presidente. Filiado ao Podemos, pelo qual concorreu a deputado federal nas elei��es de 2018, diz ter votado no primeiro turno em �lvaro Dias, candidato � Presid�ncia pelo partido naquele ano.

No segundo turno, os ex-motorista diz que sequer foi votar.

"Quando eu estava indo em Bras�lia, com as portas abertas l�, ou eu baixava a bola ou n�o conversava. Porque eu j� dava pau no Bolsonaro naquela �poca. Ou baixava a bola, ou n�o entrava no Minist�rio da Infraestrutura. Essa � a verdade. Quem � contra o Bolsonaro n�o tem acesso ao governo. � assim que funciona ali."

Agora, Dedeco est� rompido com o governo. Segundo ele, porque o ministro Tarc�sio de Freitas (Infraestrutura) teria dito que o motorista estaria fazendo "showzinho" ao falar com a imprensa sobre sua pneumonia em abril passado e ap�s Dedeco criticar publicamente a condu��o da gest�o Bolsonaro com rela��o � pandemia.

"Me desliguei dele [Tarc�sio de Freitas] tamb�m por causa daquela manifesta��o que foi feita pr�-reforma da Previd�ncia [em 2019]. Aquela manifesta��o foi combinada dentro do gabinete do ministro, com os empres�rios", acusa Dedeco. "Eu acabei indo e meu nome foi usado. Eu era totalmente contra a reforma, porque ela n�o serviu para nada, s� para prejudicar os aposentados."

Depois de tudo isso, o ex-motorista n�o tem mais freio na l�ngua para falar do governo.

"Esse � o pior governo que o Brasil j� teve em toda sua hist�ria. O Bolsonaro � incompetente. Ele sempre foi", afirma. "Como deputado, ele sempre foi baixo clero e o povo n�o conhecia. O que lan�aram nas redes sociais n�o foi o Bolsonaro, foi um personagem. O Bolsonaro de verdade est� sendo apresentado agora. N�o vale nada e nunca prestou."

'Para o caminhoneiro, nada mudou desde 2018'

Na avalia��o de Dedeco, pouco melhorou para a categoria desde a greve de 2018.

"N�o mudou nada", afirma. "Veja o pre�o do �leo diesel hoje, chega a estar R$ 4,40, R$ 4,50. Na �poca que n�s fizemos paralisa��o, n�s paramos porque o diesel estava R$ 3,30. O caminhoneiro, l� em 2015, no governo Dilma, parou porque o diesel estava R$ 2,80. Hoje, o diesel j� est� quase R$ 5 em alguns lugares. E o caminhoneiro est� lambendo esse governo."

Segundo ele, a categoria � influenciada por algumas lideran�as que t�m se beneficiado de subs�dios governamentais para cooperativas de caminh�es. "Esses caras se renderam ao governo em troca de subs�dios para as cooperativas que eles abriram de 2018 para c�", critica o ex-l�der caminhoneiro.

Conforme Dedeco, a situa��o dos caminhoneiros piorou com a pandemia.

"Come�ou uma concorr�ncia muito desleal no valor do frete. Se voc� carregasse para o Nordeste, o dinheiro que voc� ia n�o dava para pagar o �leo para voltar, se voc� n�o arrumasse carga l�. E as cargas l� n�o estavam pagando nem o �leo para voltar tamb�m", conta.

"Hoje, voc� bota uma carga de R$ 2 milh�es no caminh�o, para ir daqui ao Nordeste por um frete de R$10 mil e voc� gasta R$ 9 mil de �leo. Que vantagem tem?", questiona.

"A� eu decidi: n�o d� mais, eu preciso tocar a vida com a minha fam�lia, preciso sustentar minha fam�lia. Eu falei: 'vou para o ramo aliment�cio, porque dando a pandemia que deu, o povo continua comendo'. E o povo comendo, mesmo que seja com pouco, voc� se mant�m."

H� pouco mais de seis meses � frente do novo neg�cio, Dedeco diz n�o se arrepender de ter largado a boleia.

"Eu prefiro ser dono de hamburgueria", afirma. "Parei de ir para a estrada, estou em casa todo dia. Estou junto com a fam�lia. Acho que hoje n�o vale a pena ser caminhoneiro. Ficar desperdi�ando sua vida na estrada para viver o que o caminhoneiro est� vivendo hoje."

"Aquele que for inteligente, lute, n�o desista dos seus sonhos. Mas, se puder fazer algo melhor do que ficar com o caminh�o na estrada sofrendo, que v� e fa�a. Porque, enquanto esse governo estiver no poder, esquece. Caminhoneiro n�o tem valor e s� vai ser enrolado. O que eu tenho a dizer � isso."


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