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Estado de Minas GERAL

'Cepa anda de Ferrari. Vacina��o vai de carro�a'


01/03/2021 08:02

Um ano ap�s o registro do primeiro caso da covid-19 no Brasil, o ex-ministro da Sa�de Luiz Henrique Mandetta (DEM), que comandou a pasta nos meses iniciais da pandemia, v� o Pa�s como uma nau sem rumo, o Sistema �nico de Sa�de (SUS) destru�do e a situa��o do Pa�s cada vez mais grave. "A cepa mais transmiss�vel anda de Ferrari. J� a campanha de vacina��o vai de carro�a", disse ao jornal O Estado de S. Paulo.

Mandetta tornou-se personagem central nos primeiros meses de pandemia ao divergir da postura do presidente Jair Bolsonaro, que minimizava a for�a da doen�a. Bolsonaro o demitiu em 16 de abril.

O ex-ministro afirmou que vai participar "ativamente" das elei��es de 2022, "como eleitor, cidad�o ou candidato", mas que estar� em caminho diferente da "esquerda equivocada" e do "Bolsonaro desequilibrado".

Quando o senhor ouviu falar sobre a covid-19 e em que momento percebeu que se tratava de uma doen�a grave?

O Brasil foi um dos primeiros pa�ses a questionar a OMS (Organiza��o Mundial da Sa�de) sobre a doen�a, quando o Wanderson Oliveira (ex-secret�rio de Vigil�ncia Sanit�ria) ouviu ru�dos sobre o v�rus. Quando fui para o F�rum de Davos, parei em Genebra. Iria jantar com Tedros (Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS), mas ele disse que n�o iria participar, pois haveria reuni�o no comit� de emerg�ncia sobre a doen�a. Eles (a c�pula da OMS) racharam sobre declarar emerg�ncia global. A� fizeram (a declara��o): � uma emerg�ncia para Wuhan e um alerta internacional.

Quando o senhor falou ao presidente que a doen�a causaria uma grave crise?

Quando tivemos o primeiro caso no Brasil e o sistema de sa�de da It�lia caiu. Mas ele come�ou a entrar na vibe do Trump, n�o dimensionou. Ele tinha uma viagem aos EUA. Eu j� estava dando o alerta. Eles n�o queriam usar nem �lcool em gel para n�o transparecer preocupa��o.

Em que momento o senhor percebeu que Bolsonaro assumiu postura diferente daquela recomendada pela Sa�de?

O presidente come�ou a for�ar sa�das e aglomera��es. A imprensa me perguntando: "Voc� est� dizendo para o pessoal se cuidar e o presidente fica saindo". Ele me convidou (para as sa�das), mas como percebeu que eu n�o iria come�ou a chamar o presidente da Anvisa (Antonio Barra Torres). A Anvisa servia como autoridade de sa�de para legitimar aquilo. O presidente me chamou para uma live e disse (aos apoiadores) que era melhor n�o irem � manifesta��o, mas no domingo ele sai, abra�a, beija. Era para ele estar em quarentena, porque teve contato com infectados na viagem aos EUA. Daquele momento para frente foi s�... "bom, n�o vou poder contar com ele para enfrentar isso".

Com as informa��es dispon�veis hoje sobre a doen�a, o senhor teria feito algo diferente no cargo de ministro?

N�o. Eles n�o queriam fazer nenhuma campanha de esclarecimento ao p�blico. Passei a utilizar a imprensa, fazer coletivas, para a imprensa fazer o papel que foi fundamental naquele momento. Chegamos a zerar as m�scaras. Ent�o dissemos: use m�scara de pano. Conseguimos um navio da China de equipamentos de prote��o porque eu pedi ao ministro para deixar sair o �ltimo navio. Fazia licita��o e dava "zero". Pessoal querendo cobrar a m�scara a R$ 8 por unidade. Abrimos linha de montagem para respiradores. E foi o que salvou. No meio disso ainda havia um conflito com a China.

O senhor acha que errou ao autorizar a primeira orienta��o sobre o uso da cloroquina?

N�o, naquele momento havia consenso sobre uso compassivo, inclusive pela OMS, como �ltima tentativa. Autorizei para uso hospitalar. Agora, colocar isso na rede, recomendar tratamento com cloroquina, aquilo n�o. Na semana anterior � minha sa�da, me chamaram numa sala onde estava a Nise Yamaguchi (m�dica defensora da cloroquina) e ministros. Havia uma minuta de decreto, mas n�o oficial, em papel timbrado, com sugest�o para que a Anvisa colocasse indica��o para covid na bula da cloroquina. Olhei para o presidente da Anvisa e ele disse que n�o faria aquilo. Eu disse: o presidente est� extrapolando.

Como o senhor v� a pandemia hoje e o que pode ser feito?

O Brasil est� como uma nau sem rumo. O que poderia ser feito: come�ar colocar gente que entende de sa�de e epidemia para conduzir, gerar pol�ticas, recuperar o SUS. Tem de come�ar a refazer o sistema. Estamos num caos. N�o tem lideran�a que fala pela sa�de.

Qual a responsabilidade do ministro Eduardo Pazuello na crise?

Ele � respons�vel. Se o presidente me chamar para ser chefe do Ex�rcito, vou falar: n�o tenho forma��o. Se me botarem pra dirigir um Boeing com 400 pessoas dentro, vou dizer que n�o posso pilotar. Ele est� num cargo em que n�o tem condi��es t�cnicas para administrar. Retirou a equipe t�cnica. N�o precisava ficar comigo, mas por que tirar o Wanderson? Um dos tr�s ou quatro melhores epidemiologistas do mundo. A culpa do Pazuello � na forma��o da equipe. Ele forma pensando que est� dentro de um quartel. N�o � lugar de mando, mas de lideran�a, que se imp�e pelo conhecimento do sistema, da doen�a. Ele n�o tem conhecimento do sistema, da doen�a nem do ser humano.

Como v� os pr�ximos meses da doen�a?

Um agravamento da doen�a. Vamos passar pela sazonalidade, mas com a nova cepa. Vimos isso na regi�o Norte, onde faltou oxig�nio, o que � uma barbeiragem enorme. O Brasil n�o estuda a nova cepa e o minist�rio fez um movimento errado de tirar os pacientes de Manaus de qualquer jeito. Ele plantou a nova cepa em todo o Pa�s. A gente tem uma situa��o em que a cepa mais transmiss�vel anda de Ferrari. J� a campanha de vacina��o vai de carro�a.

O senhor fez parte do governo mesmo conhecendo Bolsonaro como deputado, quando ele votou a favor da p�lula do c�ncer e defendeu a tortura. O senhor acha que cometeu um erro ao entrar no governo e at� validar posi��es do governo?

O presidente a gente conhece quando ele assume. Eu conhecia um deputado Bolsonaro, que era pol�mico. Votei nele porque queria uma ruptura com o PT. A proposta que ele me fez foi de montar o minist�rio com equipe t�cnica. S� que o dia que veio um problema na nossa frente e eu precisava dele, a� ele n�o queria um minist�rio t�cnico, mas pol�tico. A� voc� fala: isso aqui n�o � s�rio, � equ�voco.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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