(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas MARIELLE FRANCO

Pessoas pr�ximas do caso Marielle vivem sob amea�a

Dois acusados est�o presos, mas o mandante e os motivos do crime ainda n�o s�o conhecidos


14/03/2021 07:30 - atualizado 14/03/2021 09:17

Projeção em prédio no Bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, que pede justiça no case Marielle(foto: Mauro Pimentel/AFP)
Proje��o em pr�dio no Bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, que pede justi�a no case Marielle (foto: Mauro Pimentel/AFP)
Tr�s anos ap�s a morte da vereadora Marielle Franco, do Psol-RJ, mulheres ligadas a ela ou � investiga��o do crime vivem sob amea�a. Os casos v�o de ataques virtuais a planos concretos (segundo a pol�cia) de assassinato. Para especialistas, ativistas e parlamentares, a situa��o real�a o crescente aumento da viol�ncia pol�tica no Pa�s.


Marielle, o quinto nome mais votado da C�mara do Rio de Janeiro em 2016, e o motorista Anderson Gomes foram assassinados a tiros em um 14 de mar�o, como hoje, em 2018. Dois acusados est�o presos, mas o mandante e os motivos do crime ainda n�o s�o conhecidos.

A hist�ria mais simb�lica � a da deputada federal Tal�ria Petrone, amiga e companheira de PSOL de Marielle. Em junho do ano passado, Tal�ria foi oficialmente informada pela Pol�cia Civil do Rio de que mais de cinco grava��es planejando a sua morte haviam sido interceptadas. Depois disso, a parlamentar se mudou para outro Estado e n�o voltou mais ao Rio. Tal�ria j� fora amea�ada antes da morte de Marielle, quando era vereadora em Niter�i.

"Como se as amea�as anteriores � minha vida n�o fossem suficientes, alguns dias ap�s o nascimento da minha filha recebi novas intimida��es", contou a deputada. "Em junho, o Disque Den�ncia informou � C�mara dos Deputados que havia mais de cinco grava��es de pessoas falando sobre a minha morte."

A parlamentar denunciou as amea�as � relatora da Organiza��o das Na��es Unidas (ONU) para execu��es sum�rias, Agnes Callamard. Tamb�m pediu que a organiza��o cobre do governo brasileiro respostas sobre o seu caso e o de Marielle.

"N�o tenho a menor d�vida de que a execu��o da Marielle � a express�o de uma democracia incompleta no Brasil, cada vez mais fraturada", disse. "N�o � s� a quest�o de uma parlamentar executada; a n�o resolu��o do crime escracha o dom�nio da mil�cia. A mil�cia est� dentro do Estado, elege parlamentares. Ela junta tr�s esferas: pol�tica, econ�mica e bra�o armado. N�o � exagero dizer que a mil�cia governa o Rio."

Al�m dos planos que chegam �s autoridades, outro tipo de amea�a perturba essas mulheres. S�o os ataques p�blicos virtuais, feitos no anonimato da internet. Foi o que aconteceu com a deputada estadual Renata Souza, ex-chefe de gabinete de Marielle na C�mara Municipal. No Facebook, um usu�rio disse que ela "falava demais" e iria "perder a linguinha".

"As amea�as v�m em diferentes sentidos e fazem parte de uma pol�tica do �dio acrescida de uma insatisfa��o por estarmos ocupando esse lugar de poder. Esse � um aspecto muito caracter�stico dessas amea�as", diz Renata, que tamb�m j� teve endere�o exposto nas redes por protestar contra Jair Bolsonaro. "O assassinato da Marielle abriu uma porteira de naturaliza��o da viol�ncia pol�tica", afirma.

Anielle Franco, irm� de Marielle e criadora do instituto que leva o nome da irm�, tamb�m recebeu amea�as. "Foram amea�as bem pesadas por e-mail e no Instagram; duas no fim do ano passado e uma este ano", contou Anielle. Ela pretende voltar � ONU e � Comiss�o Interamericana. "Eu n�o prestei queixa ainda, por isso n�o posso revelar o conte�do das mensagens."

Em alta

 

Pesquisa das organiza��es Terra de Direitos e Justi�a Global divulgada no ano passado j� indicava um aumento da viol�ncia pol�tica no Pa�s de 37% em rela��o a 2016. O estudo mostrou tamb�m que as mulheres s�o v�timas de 76% das ofensas registradas. Outro levantamento, do Instituto Igarap�, entre as candidatas que concorreram em 2020, revelou que 78% das candidatas negras contaram ter sofrido ataques. "O Brasil � um lugar perigoso para ativistas de direitos humanos h� muito tempo", afirmou a diretora executiva da Anistia Internacional, Jurema Werneck. "A diferen�a agora � que pessoas como Marielle, que v�m dos movimentos sociais, est�o ocupando cada vez mais espa�os. E as autoridades n�o cumprem o dever de condenar o racismo e o sexismo. Pelo contr�rio, advogam em favor de uma sociedade armada."

N�o s� figuras da pol�tica, ligadas a Marielle, tiveram de refor�ar a seguran�a. Investigadora que mudou o rumo das apura��es sobre o crime no final de 2018, a promotora Simone Sib�lio entrou na mira de milicianos, segundo um alerta do Disque-Den�ncia enviado ao MP em 2019. Coordenadora do Grupo de Atua��o Especializada no Combate ao Crime Organizado, Simone teria despertado a ira de nomes como Adriano Magalh�es da N�brega, miliciano que chefiava o Escrit�rio do Crime e morreu no interior da Bahia em 2020.

Amigo e padrinho pol�tico de Marielle, o hoje deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) anda com seguran�as desde que presidiu a CPI das Mil�cias na Alerj, em 2008, que pediu o indiciamento de 225 pessoas. Uma das hip�teses da CPI foi que o assassinato de Marielle tinha como intuito atingir indiretamente Marcelo Freixo.

Para Pedro Abramovay, diretor do programa latino-americano da Open Society Foundation, na base do problema est� o discurso de �dio disseminado pelo Pal�cio do Planalto. "Algumas pessoas acham que a ret�rica violenta na pol�tica � apenas ret�rica. Isso n�o � verdade", afirmou Abramovay. "N�o � que a viol�ncia pol�tica ocorra por ordem direta de um presidente autorit�rio. � uma cadeia de transmiss�o entre o discurso de �dio e a viol�ncia real l� na ponta."

‘Novo jogo’

 

A cientista pol�tica Ilona Szab�, do Instituto Igarap�, vive no exterior desde o fim do ano passado, quando tamb�m recebeu amea�as de morte. Para ela, as estruturas de prote��o de ativistas de direitos humanos est�o corro�das. "Pela primeira vez desde a �poca da ditadura a hostilidade ao ativismo pol�tico vem do pr�prio governo; isso muda totalmente o jogo", analisa.

Levantamento feito entre janeiro de 2019 e setembro de 2020 revelou que foram praticadas ao menos 449 viola��es de direitos contra jornalistas e comunicadores pelo presidente da Rep�blica, seus ministros e por familiares dele que exercem mandatos.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)