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Estado de Minas GERAL

As hist�rias de quem abandonou o negacionismo em meio � crise da covid


21/03/2021 16:00

A ficha cai. O mundo d� voltas. As pessoas mudam. Apesar das not�cias falsas, das teorias conspirat�rias ou daquela certeza infundada de que "isso nunca vai acontecer comigo", ningu�m est� condenado a viver eternamente na sombra do negacionismo. O problema � que, em meio ao turbilh�o do nosso pior momento da covid-19, essa tomada de consci�ncia costuma ser alimentada pela dor.

No in�cio da pandemia, Denise da Silva Arco, de 32 anos, nem sequer aceitava a ideia de fazer home office. "N�o queria ficar em casa, n�o queria redu��o de jornada, reclamei muito. Encarei como se fosse apenas mais um v�rus desses que passam e a gente nem se d� conta", confessou. Apesar das circunst�ncias que a obrigaram a respeitar o isolamento, Denise esperou o primeiro al�vio nos n�meros de mortes em S�o Paulo para voltar � vida quase normal no ano passado. "Sa� de casa, fui para bares, festas", enumerou.

No fim de 2020, Denise recebeu a not�cia da morte de sua av�, que morava no interior. O vel�rio foi na cidade de Jales e reuniu toda a fam�lia. Naquele momento, primos, tios e sobrinhos decidiram realizar aquele que teria sido um �ltimo desejo da matriarca: uma noite de r�veillon em que todos estivessem juntos. "N�o pensamos nas consequ�ncias. Est�vamos seguros de que o pior j� havia passado", falou.

E foi o que aconteceu. Dezessete pessoas dividiram o mesmo teto na noite do dia 31 de dezembro. Entre elas, um primo que estava infectado e n�o sabia. O resultado � que muitos dos presentes come�aram a sentir os sintomas da covid poucos dias depois da festa. De todos, tr�s evolu�ram para situa��es mais graves. O tio de Denise foi entubado, pegou uma infec��o nos rins e, com apenas 51 anos, morreu.

"Foi angustiante. � angustiante. Agora, vem um sentimento de culpa. Queria tirar essa dor dos meus familiares com minhas m�os. O que posso fazer agora � tomar todos os cuidados, usar m�scara, n�o compartilhar objetos, tudo o que eu puder fazer para proteger a minha fam�lia eu vou fazer", desabafou.

O empres�rio Cl�udio Alex Aires Hermes, de 45 anos, tinha acabado de assistir ao filme O Jardineiro Fiel quando a pandemia come�ou. Assim como no filme, Hermes relacionou a pandemia com a principal vil� do filme, a ind�stria farmac�utica.

"O filme fala sobre uma manipula��o do mercado, na cria��o de um v�rus. Achei que era coisa de governo, de pol�tica mesmo. Achei que era conspira��o, balela, gripezinha... Cheguei at� a brigar com minha mulher e filha por causa disso. Falei muita bobagem", disse.

Despreocupado, Hermes participou de uma reuni�o de empres�rios em Balne�rio Cambori�, um tipo de encontro para troca de cart�es e networking. "Ningu�m estava usando m�scara. Ningu�m estava ligando para a situa��o. Sai de l� com um sentimento ruim", lembrou. Depois de 3 ou 4 dias, ele come�ou a sentir os sintomas daquilo que se confirmaria como covid-19.

"Quando a coisa pegou, eu j� n�o levantava mais da cama. Sentia o corpo pesado, debilitado. Perdi o paladar, n�o tinha fome. O olfato zerou. Comecei a sentir formigamentos nos bra�os e pernas. Tive medo de angina. Fiquei trancado no meu quarto por 15 dias", contou Hermes.

No quarto, ele ficou deprimido, apavorado, perdeu 6 quilos e achou que ia morrer. Felizmente, sobreviveu. "Eu passei por tudo isso. Eu entendi o que � essa doen�a. Minha mulher e filha pegaram, mas j� est�o bem. Mudei completamente a minha vis�o. Hoje, me cuido. Hoje, cuido dos outros tamb�m", disse Hermes.

O influenciador gastron�mico Andr� Varella, de 30 anos, foi pelo mesmo caminho. No in�cio, acreditou na teoria de que se tratava de um plano chin�s para dominar o mundo. "Era mais f�cil acreditar nesta baboseira do que encarar a realidade", falou. "Tive esse momento de desacreditar, de desconfiar de tudo. Achava que era muito fogo para pouco inc�ndio", completou.

No meio do ano passado, Varella pegou a doen�a. N�o foi muito grave, mas o suficiente para acender um sinal de alerta. "Comecei a me cuidar. No fim do ano passado, achei que j� t�nhamos escapado. Mas, quando vi hospitais com mais de 100% de ocupa��o, hospitais particulares, eu voltei a me preocupar. Se est� ruim para mim que tenho um bom plano de sa�de, imagina para a maioria da popula��o", comentou. "Agora eu entendi que a doen�a n�o � sobre mim, mas sobre os outros, sobre o cuidado que devemos ter uns com os outros", finalizou.

Segundo a empres�ria Ma�ra Bassinello Stocco, de 42 anos, o munic�pio de Santa Cruz das Palmeiras, cidade com pouco mais de 30 mil habitantes, n�o levava a covid muito a s�rio no in�cio da pandemia. "Muitos achavam que era hipocrisia, que tudo era exagero. Tudo se manteve aberto, quase ningu�m usava m�scaras. Minha fam�lia mesmo levou uma vida normal por muito tempo. At� que um dia... a pandemia chegou como uma avalanche", disse.

Na cidade, come�aram a morrer pessoas pr�ximas, at� tr�s pessoas por dia. Ma�ra perdeu parentes, amigos pr�ximos, amigos jovens que precisaram ser intubados. "A gente mudou de vida. Meu filho n�o vai mais na aula. Morreram muitas pessoas nos �ltimos dois meses. A incerteza tomou conta das nossas vidas", disse. "N�s temos de aprender com que est� acontecendo, aprender a se colocar no lugar do pr�ximo", completou.

O aposentado Carlos Alberto Leit�o, 63 anos, era uma das pessoas que n�o se importavam muito. N�o que ele n�o acreditasse na doen�a, mas porque era uma pessoa ativa, que fazia caminhadas, hidro, ioga... "At� que senti uma coisinha e achei que era alergia. Era tosse, rinite... A coisa s� mudou quando minha filha me levou para uma UBS. L� descobri que 50% do meu pulm�o j� estava comprometido", disse. "Eu n�o brincava com a doen�a, mas achei que n�o aconteceria comigo. Teve hospital, UTI, mas sobrevivi. Minha filha me ajudou muito. Com a covid n�o se brinca", completou.

Em Goi�nia, o empres�rio Geraldo Rodrigues Patr�cio, de 31 anos, deixou-se levar pela onda das fake news. A descren�a na gravidade da doen�a aumentou depois que ele mesmo pegou a covid, mas nada sentiu. "Eu n�o ligava para m�scara, para �lcool em gel .... ". At� que o tio do cunhado dele, que havia acabado de vencer um c�ncer no f�gado, pegou covid e morreu. Depois, outros quatro amigos pr�ximos tamb�m tiveram o mesmo fim ou estiveram muito pr�ximos da morte. "Gente jovem, amigas m�dicas, com 23 e 28 anos... uma coisa muito triste. A doen�a n�o � brincadeira, mudei totalmente minha vida, passei um pente-fino no meu comportamento. Hoje, sou pela m�scara, �lcool em gel e distanciamento social. Enquanto n�o tiver vacina, temos de nos ajudar. E mudar de comportamento enquanto temos tempo", disse.

As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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